“Subimos nas eleições” e “Nós também!” – depende…

António Cotrim / EPA

Inês de Sousa Real (PAN) na noite das eleições legislativas 2024

Olhando para alguns números, confirmamos. Olhando para outros números, nem sempre. Tudo depende da escala.

A noite de 10 de Março nem foi abundante nas frases habituais “Vencemos estas eleições” ou “Somos vencedores deste acto eleitoral”.

AD, Chega e Livre poderiam ter dito isso (alguns disseram mesmo) mas os outros maiores partidos não tiveram muitos motivos para cantar vitória.

Mas um verbo substituiu o “vencer”: o “subir“.

Chega, IL, BE, Livre e PAN destacaram, cada um com as suas palavras, que subiram nestas eleições.

Todos têm razão – mas nem sempre.

Primeiro, o Chega. Aqui não há dúvidas: um partido que passa de quase 400 mil votos para mais de 1.1 milhões de votos subiu mesmo. Quase triplicou o número de votos, quase triplicou a percentagem, quadruplicou o número de deputados.

Depois, começam as dúvidas.

Logo a seguir ao Chega (terceiro classificado) aparece a Iniciativa Liberal, no quarto posto. O partido já salientou, mais do que uma vez, que teve mais votos. Está certo: passou de 268 mil para 312 mil.

Mas aqui entram as contas da abstenção. Há dois anos foram votar um pouco menos de 5.6 milhões de portugueses, agora foram votar mais de 6.1 milhões. Faz diferença.

Por isso, olhamos para as percentagens da IL: 4,98% em 2022 e 5,08% em 2024. Sim, subiu. Mas muito pouco, tendo em conta as escolhas de quem foi votar desta vez. Subida insuficiente para ter mais deputados – tinha 8, continua a ter 8.

O Bloco de Esquerda ultrapassou a CDU – mas só porque a CDU desceu (já lá vamos). De facto, o BE teve mais 33 mil votos mas a percentagem é igual à que conseguiu há dois anos: 4,46%. Resultado: o Bloco tinha 5 deputados, continuou a ter 5 deputados.

O Livre subiu, de facto. Um crescimento muito semelhante ao do Chega, embora noutro patamar: de 69 mil para praticamente 200 mil votos, de 1,28% para 3,26% e de 1 para 4 deputados.

O PAN também já repetiu que teve mais votos. Verdade: de 82 mil para quase 119 mil. E a percentagem passou de 1,53% para 1,93% (nesta escala até é um aumento considerável). Mas não aumentou o número de deputados: tinha uma deputada e vai continuar a ter.

A AD não tem insistido no verbo “subir” porque prefere o verbo “governar”. Mas, apesar da vitória, não teve muitos mais votos do que em 2022. Há dois anos, PSD, CDS e PPM juntos tiveram menos 146 mil votos do que no domingo passado. Tinham sido 76 deputados e agora vai em 79. Subidas muito discretas.

Quem pode repetir e repetir que subiu é o ADN: de 10 mil votos em Portugal para 100 mil. Multiplicou por 10 o número de votos, muito por causa do que já se sabe.

Por fim, a CDU. Mas ao contrário: a descida foi de apenas 30 mil votos mas, tendo em conta que mais pessoas votaram nestas eleições, a queda foi grande na percentagem (de 4,39% para 3,30%) e passou de 6 para 4 deputados.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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