Stellantis anuncia que Carlos Tavares vai sair. As ações continuaram a cair

Stellantis

Carlos Tavares, CEO da Stellantis

No meio do turbilhão que Carlos Tavares classifica como um “período darwiniano para a indústria automóvel”, a Stellantis, dona da Peugeot, Citroen e Fiat, anunciou que o seu diretor-geral se vai retirar no fim do mandato. Mas os mercados não reagiram como esperado.

Depois de terem circulado notícias de que o presidente da Stellantis, John Elkann, estaria à procura de um novo diretor executivo para substituir o português Carlos Tavares, a empresa confirmou esta quinta-feira os rumores e anunciou diversas  mudanças nas posições de chefia do grupo, com efeito imediato.

“A Stellantis alavanca a sua organização de gestão com mudanças com efeito imediato, para impulsionar o desempenho sob a liderança de Carlos Tavares“, começa por anunciar a fabricante sediada em Amesterdão, em comunicado.

As alterações anunciadas envolvem mudanças em diversas posições de chefia das diversas empresas do grupo, com o objetivo de “impulsionar a simplificação e melhorar o desempenho organizacional num ambiente global turbulento, redobrar o foco da empresa nas suas principais prioridades comerciais e encarar de frente os desafios globais que a indústria enfrenta”.

O comunicado termina com a confirmação dos rumores que circulavam acerca de Carlos Tavares, anunciando que “o processo formal para identificar um sucessor” do seu diretor executivo, quando este se retirar, no final do seu mandato, no início de 2026, “já está em curso”.

Este processo está a ser conduzido por uma Comissão Especial do Conselho de Administração, presidida por John Elkann, que concluirá o seu trabalho no quarto trimestre de 2025, detalha a nota da empresa.

“Durante este período darwiniano para a indústria automóvel, o nosso dever e responsabilidade ética é adaptarmo-nos e prepararmo-nos para o futuro, melhor e mais rapidamente do que os nossos concorrentes, para proporcionar uma mobilidade limpa, segura e acessível”, salienta Carlos Tavares no comunicado.

“Os membros recém-nomeados da equipa de liderança darão o seu valioso contributo para a determinação da nossa equipa global em enfrentar os desafios que se avizinham, reforçando e acelerando a nossa transformação para nos tornarmos a empresa de tecnologia da mobilidade preferida”, acrescenta o CEO da Stellantis.

Gostaria de agradecer a todos os que contribuíram para lançar as bases do sucesso futuro da Stellantis”, conclui o executivo português.

Segundo o Quartz, a reestruturação das posições de chefia na hierarquia da Stellantis surgem na sequência de uma proposta apresentada por Carlos Tavares ao Conselho de Administração do grupo, em reunião que terá tido lugar a semana passada.

Apesar do anúncio da reorganização e da futura saída do executivo português, a reação dos mercados não foi a esperada. As ações da Stellantis caíram 4% na manhã desta sexta-feira, depois de terem registado este ano uma queda de 42% e de terem estado a cair a pique nas bolsas europeias nas últimas semanas.

Esta desvalorização é um reflexo da crise que está a afetar a empresa, que viu este ano as suas vendas caírem quase 20%.

Depois uma passagem bem sucedida pela Renault, durante a qual “reinventou” a marca francesa, Carlos Tavares foi nomeado CEO do grupo PSA Peugeot / Citroen em 2014, tendo liderado operações importantes, como a separação da marca de luxo DS da Citroen e a aquisição das marcas Opel e Vauxhall à General Motors, em 2017.

Em 2019, o executivo português foi nomeado Diretor Executivo da Stellantis, criada com a fusão entre a Fiat Chrysler Automobiles e o Grupo PSA. Entre outras marcas o grupo detém a Chrysler, Jeep, Lancia, Maserati, Alfa Romeo, Abarth e Dodge, além das já referidas Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxall.

Recentemente, Tavares sugeriu que o grupo poderia descontinuar marcas pouco rentáveis do grupo, como a Chrysler ou Maserati — atraindo de imediato críticas de um dos herdeiros da família Chrysler, que declarou a sua intenção de comprar a marca de volta.

A liderança de Tavares foi fortemente criticada nas últimas semanas pelo United Auto Workers, sindicato que representa 43.000 trabalhadores da Stellantis, que alega que a Stellantis “não cumpriu as promessas feitas” no seu contrato de 2023.

Também a associação de concessionários U.S. Stellantis National Dealer Council,   dirigiu recentemente fortes críticas à gestão de Carlos Tavares, que acusam de ser responsável pela “rápida degradação das marcas” do grupo. “O desastre chegou” à Stellantis, dizem os concessionários das marcas da empresa.

Na verdade, o desastre não chegou apenas à Stellantis; parece já ter batido, com força, à porta da Volkswagen e não só.

Resta saber se a empresa liderada por Carlos Tavares é apenas a primeira a sentir os efeitos da (mais recente) crise no setor, ou se está a tentar, como preconiza Darwin,  ser a mais rápida a adaptar-se para sobreviver.

Armando Batista, ZAP //

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