Uma startup do Porto desenvolveu uns óculos que permitem gravar as cirurgias de forma não intrusiva e armazenar os dados multimédia numa biblioteca pessoal, podendo estes ser utilizados na formação dos cirurgiões.
Os óculos, desenvolvidos pela SurgeonMate, têm como foco prioritário o design e a ergonomia e são orientados para o conforto do utilizador, dispondo de uma interface fácil de usar e configurar, explicou um dos responsáveis pelo projeto, Nuno Muralha.
“Como cirurgião, senti a necessidade de ter um dispositivo que pudesse levar para o bloco operatório e que me permitisse gravar cirurgias de forma eficiente e sem interferir ou prejudicar o meu trabalho”, acrescentou.
A gravação de cirurgias “é um método eficaz para acelerar” a aprendizagem, permitindo rever o que foi feito com maior detalhe e partilhar essa informação com outros colegas e especialistas, referiu o responsável.
Essa partilha “é tão útil na otimização da técnica de cirurgiões em formação, quanto na divulgação de técnicas inovadoras desenvolvidas por especialistas”, destacou.
Sabendo da impossibilidade de os cirurgiões utilizarem as mãos para controlar o dispositivo durante as operações, esta tecnologia foi incorporada por uma câmara, ajustável e motorizada, controlada por comandos de voz.
Os óculos contêm também um foco de luz que serve para sinalizar a área de gravação, permitindo ao utilizador saber sempre qual a zona que está a ser gravada, detetando e ajustando, em tempo real, a inclinação da câmara (um comando acessível por voz).
Através deste dispositivo, as cirurgias podem ser transmitidas para monitores no interior da sala de operações ou para o exterior, podendo os cirurgiões comunicar, em direto, em contextos como congressos ou assistir remotamente às cirurgias.
“Compreendendo que a criação de dados multimédia não catalogados ou editados podem corresponder a criar um conjunto enorme de lixo digital, desenvolvemos um software que permite fazer toda a edição, catalogação, organização e armazenamento dessa nova ferramenta de registo cirúrgico”, referiu Nuno Muralha.
De acordo com o cirurgião, existem tecnologias semelhantes no mercado, como os ‘smart glasses’ (óculos inteligentes), e equipamento cirúrgico “demasiado específico”.
No entanto, enquanto os primeiros apresentam “dificuldades para se adaptarem ao bloco operatório”, os segundos “são pouco versáteis e pecam geralmente pela falta de ergonomia”.
Apesar de ser uma tecnologia pensada para cirurgiões, pode beneficiar áreas como a saúde veterinária. Devido à sua capacidade de registar multimédia “com elevada precisão”, é possível ainda adequar o seu uso a qualquer atividade manual ou artesanal, no contexto profissional ou lúdico, concluiu o especialista.
Da equipa do SurgeonMate fazem ainda parte os engenheiros Rúben Marques e José Antunes e a designer Joana Belo.
A SurgeonMate foi apresentada no Pitch Day, evento organizado pelo Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto (UPTEC) para apresentação de novos projetos, no início de fevereiro, na Faculdade de Medicina da Universidade do porto (FMUP).
// Lusa