Apesar de não se basearem no dinheiro, as sociedades animais também sofrem com a desigualdade de acesso ao alimento ou no controlo de territórios. Uma nova hipótese sugere que devemos analisar o reino animal da mesma forma que estudamos a nossa economia.
Os animais podem não ter sindicatos, não ter de sofrer com a inflação ou não ter uma figura histórica como Karl Marx que dedique a analisar sobre os efeitos das assimetrias criadas no capitalismo, mas isso não significa que a desigualdade de riqueza seja um conceito reservado apenas às sociedades humanas.
De acordo com um estudo publicado na Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, o conceito da desigualdade económica também pode ser aplicado às comunidades de animais.
Os cientistas acreditam olhar para o mundo animal com uma lente igual à que usamos para estudar as sociedades humanas — e que tem em conta a desigualdade económica — ajuda a explicar muitos dos comportamentos das diferentes espécies e pode responder a muitas questões sobre a sua evolução.
O momento “Eureka!” dos co-autores Eli Strauss e Daizaburo Shizuka surgiu quando ambos estavam a ler pesquisas nos ramos da economia e da sociologia sobre o impacto da desigualdade da riqueza.
“Ler estes estudos fascinantes de economia e sociologia fez-me pensar que estas pesquisas têm um objetivo comum com o meu trabalho no comportamento animal — ambos queremos entender como a desigualdade surge e como afecta as consequências para os indivíduos e grupos”, revela Strauss.
Mas, afinal, como é que pode haver desigualdade de riqueza nas sociedades animais quando estas não têm dinheiro? Para os autores, as assimetrias não têm de se limitar a quem tem mais dinheiro no banco para que se possa falar de desigualdade económica e o mesmo pode ser dito da realidade nas antigas sociedades humanas, como entre os caçadores-colectores.
No caso dos animais, a moeda de troca pode o alimento, o domínio de um território estratégico e outros recursos escassos essenciais à sua sobrevivência. As relações sociais também são uma fonte crítica de riqueza em muitas espécies que formam alianças e se protegem mutuamente. E tal como nos humanos, essa riqueza também passa muitas vezes de pais para filhos nos animais, escreve o Science Daily.
Os autores esperam que esta mudança na perspectiva nos permita ter uma visão mais precisa sobre a ecologia e a evolução das sociedades animais. “A estrutura de uma sociedade influencia muito todos os indivíduos que vivem nela. A biologia das sociedades animais inclui estes tipos de dinâmicas e nós não podemos entender a evolução dos animais sociais sem reconhecermos este feedback entre o indivíduo e a sociedade”, afirma Shizuka.
Apesar desta hipótese ser intrigante, os autores avisam que a desigualdade de riqueza no reino animal não é igual à vista nas comunidades humanas.
“Nós podemos olhar para outras espécies para entendermos os processos evolutivos gerais que todos os animais produzem, incluindo nós. Mas a questão sobre a ética de uma sociedade humana é uma fundamentalmente uma questão moral onde as vidas sociais dos animais não nos podem guiar. Isto é algo que temos de decifrar sozinhos”, remata Strauss.