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SMS de Macron ameaça acordo de Von der Leyen (e a “culpa” é dos agricultores)

Stephanie Lecocq/EPA

Emmanuel Macron

A marcha de protesto dos agricultores franceses caminha para Paris e o presidente francês Emmanuel Macron usa todos os trunfos que tem à mão para tentar apacificar a sua fúria.

Macron alertou a presidente da Comissão Europeia (CE), Ursula von der Leyen, através de uma SMS, para as suas “preocupações” quanto ao acordo comercial que a União Europeia (UE) está a preparar com a Mercosul, organização intergovernamental que reúne vários países da América Latina, conforme apurou o jornal Politico.

Este acordo está a ser “cozinhado” há décadas e pode vir a beneficiar os produtores de países como Brasil e Argentina, facilitando as importações de produtos da América Latina através de uma zona de comércio livre.

Macron tem sido um dos mais fortes opositores a este acordo com a Mercosur, pois está interessado em proteger a agricultura francesa, nomeadamente por temer a “invasão” da carne brasileira e argentina.

O presidente francês quis reforçar essa oposição na SMS enviada a Von der Leyen numa altura em que enfrenta a revolta dos agricultores franceses que marcham rumo a Paris, num movimento nacional de protesto.

O “trunfo” de Macron é “o futuro precário de Von der Leyen”, salienta o Politico.

Von der Leyen perspectiva candidatar-se a um segundo mandato à frente da CE e, por isso, precisa do apoio de Macron.

Já Macron está debaixo de forte pressão com a revolta dos agricultores, um movimento que está a estender-se a outros países, nomeadamente Alemanha, Polónia, Bélgica e Portugal.

Agricultores revoltados com políticas da UE

As negociações com a Mercosur, e por inerência os protestos dos agricultores, devem ser assuntos a abordar na cimeira dos líderes da UE nesta semana, em Bruxelas.

As reivindicações dos agricultores variam ligeiramente de país para país, mas têm uma ideia comum: a de que as políticas da UE tiram lucros aos agricultores e estão a deixar muitos deles à beira da falência.

Entre as principais críticas estão as medidas ambientais e a flexibilização das regras de importação de produtos ucranianos.

Macron está a pressionar a UE para flexibilizar as obrigações dos agricultores quanto ao ambiente, e a limitar as importações de aves e de cerais da Ucrânia. E também quer travar o acordo com a Mercosur.

Bloqueios em França prejudicam portugueses

As empresas de transportes de mercadorias portuguesas estão a ter prejuízos elevados devido aos bloqueios dos agricultores franceses, refere o porta-voz da Associação de Transportadores Rodoviários de Mercadorias (ANTRAM), André Matias de Almeida.

Muitos camiões lusos continuam retidos em França, e a situação é “caótica”, salienta em declarações à Lusa. De acordo com André Matias de Almeida, estarão em França entre 10 a 15 mil camiões portugueses, ou mais.

No entanto, não há problemas no abastecimento de bens de primeira necessidade, uma vez que os veículos que os transportam têm estado a ser libertados, acrescenta o responsável da ANTRAM.

Mas as informações não são animadores porque “não houve acordo nas conversações entre sindicatos e o Governo francês” e “o protesto vai continuar”, aponta André Matias de Almeida.

“Arrancou a marcha para bloquear as vias até Paris e, neste momento, são 22 as autoestradas bloqueadas em toda a França e a situação vai agudizar-se”, aponta ainda.

O porta-voz da ANTRAM alerta também que se os bloqueios chegarem a Espanha e Portugal será “catastrófico”.

“Em Portugal, uma situação destas não pode acontecer. Portugal nem sequer está servido de vias, autoestradas, estradas nacionais capazes, para de repente, pôr a circular em estradas alternativas a quantidade de veículos para o país todo”, analisa, salientando que “é inviável”.

“Se isso vier a acontecer podemos estar perante uma catástrofe“, frisa.

André Matias de Almeida refere ainda que se Espanha avançar e se juntar a França com uma dimensão similar, vai ser um “prejuízo gigante” para as empresas portuguesas.

Agricultores belgas bloqueiam porto e estradas

Os agricultores belgas bloquearam o acesso ao porto de Zeebrugge, um dos principais da Bélgica, e encheram Namur de tractores, noutra jornada de protestos.

Na quinta-feira, dia em que decorrerá a cimeira de líderes da UE em Bruxelas, realiza-se também uma manifestação de agricultores com tractores.

Entretanto, os protestos na Bélgica continuam a ser marcados por bloqueios de estradas em vários pontos do país.

Nos Países Baixos, os agricultores não se juntaram aos protestos do momento, mas fizeram numerosas manifestações nos últimos anos contra os planos governamentais de encerramento de explorações agrícolas para reduzir as emissões de gases de azoto e proteger a biodiversidade.

Esses protestos levaram à criação do Movimento Campesino-Cidadão (BBB), um partido que representa o sector agrícola neerlandês e que é, actualmente, um actor fundamental nas negociações em curso para formar um Governo de coligação liderado pelo candidato de extrema-direita, Geert Wilders.

ZAP // Lusa

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