Shakuntala Devi era tão rápida a fazer cálculos mentais que ficou conhecida como “computador humano”. Agora, a história da sua vida chegou ao grande ecrã.
De acordo com a BBC, o talento de Shakuntala Devi, que morreu em 2013, aos 83 anos, valeu-lhe um lugar no Livro Guinness dos Recordes e deu-lhe a oportunidade de viajar pelo mundo para demonstrar as suas proezas matemáticas em lugares como universidades, teatros, estúdios de rádio e de televisão.
Agora, a vida desta mulher indiana, a quem chamavam “computador humano”, foi retratada num filme com o seu nome, que foi lançado no passado dia 31 de julho.
Vidya Balan, a atriz de Bollywood que interpreta Devi, descreve-a, em declarações à emissora britânica, como uma “rapariga de uma pequena cidade indiana que conquistou o mundo”.
“Não teve uma educação formal, mas podia fazer os cálculos mais complexos na sua mente a uma velocidade surpreendente. Era mais rápida do que um computador”, disse.
Para se preparar para o papel, a atriz estudou, entre outras coisas, um vídeo da rede de televisão canadiana ATN Channel em que Devi pergunta à audiência se quer que responda da esquerda para a direita ou da direita para a esquerda.
Segundos antes, uma pessoa tinha pedido à indiana que multiplicasse dois números de oito dígitos. Devi deu a resposta quase imediatamente. Na altura, o vídeo, publicado em 2013, foi visto mais de meio milhão de vezes.
“Dom divino”
Em entrevistas, Devi contou que fazia cálculos de cabeça “desde os três anos”. “É um presente de Deus, um dom divino”, costumava dizer, quando lhe pediam para explicar este seu talento. A indiana também aprendeu sozinha a ler e a escrever.
Em 1977, em Dallas, nos Estados Unidos, venceu uma disputa com o Univac, um dos supercomputadores mais rápidos já construídos. Mais tarde, entrou para o Guinness, depois de multiplicar dois números de 13 dígitos escolhidos ao acaso por um computador em frente a mil pessoas na Imperial College London. Devi demorou 28 segundos, incluindo o tempo para dizer o resultado de 26 dígitos.
Além de ser um génio da matemática, Devi também fez carreira como astróloga, tendo escrito livros sobre esta área, mas também sobre matemática, culinária e crime. Numa das suas obras, defendeu a descriminalização da homossexualidade que, nos anos 70, era um grande problema não só na Índia, mas na maior parte do mundo.
“Shakuntala Devi era tantas coisas. Vivia a vida nos seus próprios termos. Não tinha medo, não se desculpava. E pensar que isto aconteceu há 50 anos!”, recorda Balan.
A atriz também contou com a ajuda de Anupama Banerji, a única filha desta indiana, que agora mora com a família em Londres, que lhe contou várias histórias.
“Tudo isto me deu uma ideia sobre a vida dela. Mas o que realmente me fascinou é que, normalmente, não se associa uma pessoa engraçada à matemática, e ela muda completamente essa ideia”, diz.
“Devi brincava com os números, dá para ver que existia uma espécie de alegria nela quando fazia cálculos matemáticos. E adorava atuar”, acrescenta.
Balan espera que o filme seja uma forma de entretenimento num momento em que muitas pessoas estão em casa devido à pandemia de covid-19. Mas também que “traga uma mudança na forma como se ensina matemática, que se torne mais interessante, que acabe com o medo que as pessoas têm desta disciplina e que inspire mais pessoas a estudá-la”.