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Sete repatriados e 12 portugueses ainda por contactar. “Não morremos porque não calhou”

António Pedro Santos / Lusa

O ministro dos Negócios Estrangeiros, cumprimenta, em nome do Governo, repatriados portugueses vindos de Moçambique

O secretário de Estado das Comunidades, José Luís Carneiro, adiantou ao jornal Público que faltam ainda contactar 12 portugueses em Moçambique, depois do ciclone Idai ter devastado o país, fazendo pelo menos 400 mortos.

De acordo com o mesmo responsável, que falava ao diário, o Executivo recebeu o pedido de localização de 93 cidadãos portugueses que viviam em Moçambique. Até este domingo, o Governo conseguiu contactar 81 portugueses desta lista.

O governante disse que muitos dos cidadãos foram viver para casa de familiares ou amigos, o que dificulta a sua localização , acrescentando que entre os mortos ou resgatados, não estão estrangeiros, mas que as “operações estão em curso”.

Na passada quarta-feira, José Luís Carneiro referiu que faltavam localizar 30 portugueses.

Também o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva, confirmou esta segunda-feira que, até ao momento, não há portugueses entre as vítimas mortais constantes no último balanço relativo ao ciclone Idai, acrescentando que o número de cidadãos nacionais por localizar “é inferior a dez”.

“A boa notícia é que continuamos sem nenhum registo de portugueses entre as vítimas, que infelizmente, como sabem, são na ordem das centenas, registadas e confirmadas oficialmente”, disse Augusto Santos Silva à imprensa na Base Aérea de Figo Maduro, em Lisboa, antes da chegada do avião que trazia sete portugueses que residiam em Moçambique e que pediram o seu repatriamento.

O governante referiu que até agora não foram registadas vítimas mortais portuguesas em Moçambique ou no Zimbabué, “onde também onde também há uma comunidade portuguesa significativa”. Segundo o balanço mais recente, a passagem do ciclone Idai por Moçambique, Malawi e Zimbabué provocou a morte a pelo menos 761 pessoas, 446 das quais em Moçambique.

O chefe da diplomacia portuguesa sublinhou que as autoridades portuguesas irão continuar a trabalhar para localizar “todos aqueles cujos familiares, amigos e colegas identificaram como carecendo de ser contactados”.

Os sete portugueses que pediram auxílio ao Estado e que hoje aterraram em Portugal constituem “todos aqueles que quiseram ser repatriados”, mas o responsável das relações externas assegurou que o Governo vai continuar a trabalhar no apoio às populações.

“Nós vamos ter necessidade de apoiar as populações, agora para evitar epidemias, para proceder a apoio médico e sanitário, e depois, numa fase seguinte, tratar-se-á de ajudar, também, na reconstrução”, disse.

“Não morremos porque não calhou”

Sete portugueses (cinco homens, uma mulher e um rapaz de 15 anos) desceram as escadas do avião fretado pelo Estado português que chegou na madrugada desta segunda-feira à base militar de Figo Maduro. Emocionados, alguns contam que perderam tudo e que não morreram “porque não calhou”.

“Os telhados foram todos. Vocês não imaginam o vento levar tudo pela frente… Tudo. Até as paredes começaram a partir“, contou Maria Lopes aos jornalistas, acrescentando que “a cidade da Beira está destruída”.

Maria Lopes, natural de Lamego, relatou que “começou a chover. Depois, durante a noite, até à meia-noite [foi] muito agressivo e parecia que aquilo ia abrandar, mas depois, até perto das quatro da manhã não dá. O vento virou ao contrário, era só levantar tudo, telhados, tudo”, contou a mulher que vivia em Moçambique há cinco anos.

A sua casa ficou sem água e sem luz. “A solução foi virmos embora para aqui, para o nosso país. Ficámos sem nada”, disse Maria Lopes, que regressou com o marido e com o neto, de 15 anos. Os três tinham familiares à sua espera. Aos jornalistas, depois de abraçar os repatriados, uma delas, Liliana Rodrigues, afirmou muito emocionada: “Tínhamos muitas saudades, mas o que interessa é que eles estão bem”.

Carlos Miroto, que trabalhava com madeiras e com transportes, relata que perdeu “a empresa, a casa, o parque dos camiões, a quinta onde tinha o gado”. “Desapareceu tudo. Não fiquei com um muro”, conta visivelmente emocionado, o homem que já tinha sido vítima dos incêndios de 2017 em Portugal. “Os incêndios limparam-me tudo o que tinha cá, agora foi a vez de o ciclone me limpar tudo o que tinha lá”.

1.300 quilómetros submersos

A passagem do Idai em Moçambique, Malawi e Zimbabwe já provocou mais de 760 mortos, segundo balanços provisórios divulgados pelos respetivos governos. Em Moçambique, o Presidente da República, Filipe Nyusi, anunciou que mais de 440 pessoas morreram e 531 mil “estão em situação de risco”, tendo decretado o estado de emergência nacional.

O Idai, com fortes chuvas e ventos de até 170 quilómetros por hora, atingiu a Beira, cidade localizada no centro de Moçambique, na quinta-feira à noite, deixando os residentes da quarta maior cidade do país sem energia e linhas de comunicação.

A Cruz Vermelha Internacional indicou que pelo menos 400 mil pessoas estão desalojadas na Beira, em consequência do ciclone, considerando tratar-se da “pior crise” do género no país. No Zimbabué, as autoridades contabilizaram pelo menos 259 mortos e mais de duas centenas de desaparecidos, enquanto no Malaui as únicas estimativas conhecidas apontam para pelo menos 56 mortos e 577 feridos.

O ciclone afetou pelo menos 2,8 milhões de pessoas nos três países africanos e a área submersa em Moçambique é de cerca de 1.300 quilómetros quadrados, segundo estimativas de organizações internacionais.

ZAP // Lusa

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