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Segundo confinamento fez menos mal à economia portuguesa (e há boas novas no horizonte)

António Pedro Santos / Lusa

Pedro Siza Vieira, ministro de Estado, da Economia e da Transição Digital

Apesar de estar a ser mais prolongado, este segundo confinamento, em Portugal, está a ter um impacto menos negativo na atividade económica. Um dado que pode reflectir algum desrespeito pelas restrições, mas que vem ao encontro de previsões menos pessimistas da OCDE para 2021.

O confinamento que decorre, nesta altura, vigora quase nos mesmos moldes do que foi instaurado entre Março e Abril de 2020, mas o impacto económico negativo está a ser menor.

Naqueles dois meses do ano passado, chegaram a verificar-se quedas superiores a 20% no PIB. Mas, nos dois primeiros meses deste ano, a queda nunca chegou aos 10%.

Na análise do Banco de Portugal (BdP), o “confinamento de 2021” está a ter “impacto menos significativo“, nomeadamente nas operações com cartão Multibanco.

“Em Janeiro de 2021, o valor das operações com cartão de pagamento decresceu 10% relativamente ao mesmo mês de 2020″, destaca o BdP. Em Abril de 2020, a quebra foi de 28,8%.

Em termos de levantamentos de dinheiro, a redução média em 2021 foi de 28% em comparação com a queda de 41% em 2020.

O BdP constata ainda que a actual realidade económica está mais próxima do PIB registado no quarto trimestre de 2020, quando cresceu cresceu cerca de 0,2%, do que da queda de 14% assinalada no segundo trimestre de 2020.

Os sectores que foram mais negativamente afectados pela crise pandémica foram a restauração, a Administração Pública e o alojamento, com “reduções de 57,9%, 60% e 77,5%”, de acordo com o BdP.

No comércio a retalho, apesar de uma “contracção de 2,7% em termos homólogos, em Janeiro de 2021, o valor das compras em supermercados/hipermercados cresceu 12,9%” e “as compras em estabelecimentos de produtos alimentares, bebidas e tabaco” subiram “48,5%”, ainda de acordo com o supervisor bancário.

“Portugueses não estão a ficar em casa”

O menor impacto negativo deste segundo confinamento na economia pode ser explicado por várias razões, a começar pela maior adaptação das empresas à situação, com o reforço do teletrabalho e com a melhoria dos canais de distribuição para facilitar as entregas ao domicílio.

Mas a situação também pode dever-se ao cansaço pelo arrastar das restrições e ao facto de haver menos medo de apanhar vírus. Portanto, as pessoas respeitam menos as medidas restritivas.

Uma vez que as pessoas se movimentam mais, as deslocações acabam por gerar consumos e, logo, geram actividade económica.

“Portugal não está a trabalhar, mas os portugueses não estão a ficar em casa“, aponta a Confederação Empresarial de Portugal (CIP) num documento a que a Lusa teve acesso e que será apresentado ao Governo, nesta quarta-feira, na reunião dos parceiros sociais para discutir o plano de desconfinamento.

Além do menor cumprimento das regras, também há menos receio de fazer compras online, pelo que o e-commerce também aumentou.

Por outro lado, os apoios do Estado às empresas podem servir como outra explicação para o menor impacto desta segunda quarentena na economia.

Também é preciso considerar que, nesta fase, não houve um confinamento geral e simultâneo a nível europeu, nomeadamente em países que são parceiros económicos de Portugal.

A vizinha Espanha é um exemplo disso, pois enfrentou a terceira vaga de covid-19 sem confinamento geral. Assim, as exportações podem ter ficado menos complicadas.

OCDE melhora previsão de crescimento na Zona Euro

A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE) melhorou em 0,3 pontos percentuais a previsão de crescimento económico da Zona Euro, apontando agora para um aumento de 3,9% do PIB este ano.

De acordo com as previsões económicas intercalares hoje divulgadas, o crescimento da Zona Euro alicerça-se nos crescimentos de França (5,9%), Espanha (5,7%), Itália (4,1%) e Alemanha (3,0%).

Apesar dos crescimentos económicos, as previsões para França e Itália pioraram face a Dezembro, com descidas de 0,1 e 0,2 pontos percentuais, respectivamente.

A OCDE não avança previsões para Portugal. Mas os indicadores para estes países da Zona Euro são uma boa notícia também para o nosso país, especialmente quanto a Espanha que é um dos principais parceiros económicos de Portugal.

Para 2022, a OCDE também melhorou as perspectivas de crescimento do PIB, apontando para 3,8% na Zona Euro, uma subida de 0,5 pontos percentuais (p.p.) face ao estimado em Dezembro

Crescimento mundial vai atingir 5,6% em 2021

A OCDE estima ainda que o crescimento económico mundial atinja os 5,6% em 2021 (subida de 1,4 p.p.) e 4,0% em 2022 (subida de 0,3 p.p.).

Já o G20 (grupo das economias mais desenvolvidas do mundo) deverá crescer 6,2% em 2021 (subida de 1,5 p.p. face às previsões de Dezembro) e 4,1% em 2022 (subida de 0,4 p.p.).

Os EUA deverão crescer 6,5% em 2021 e 4,0% em 2022, o Reino Unido 5,1% e 4,7%, respectivamente, e o Japão 2,7% e 1,8% nos dois anos referidos.

Segundo o relatório que acompanha as previsões, a OCDE refere que “as perspectivas económicas mundiais melhoraram marcadamente nos últimos meses, ajudadas pela distribuição gradual de vacinas eficazes, anúncios de apoio orçamental adicional em alguns países, e sinais de que as economias estão a lidar melhor com medidas para suprimir o vírus”.

Contudo, “há cada vez mais sinais de divergência entre países e sectores“, com o confinamento a “bloquear o crescimento em alguns países e no sector dos serviços a curto prazo, ao passo que outros beneficiarão de políticas de saúde eficazes, distribuição de vacinas mais rápida e forte apoio de políticas”, alerta a OCDE.

“Permanecem riscos significativos“, de acordo com a entidade que sinaliza que “o progresso lento na distribuição das vacinas e a emergência de novas mutações do vírus resistentes às vacinas” podem resultar numa “recuperação mais fraca, maiores perdas de emprego e mais falhanços de negócios”.

A OCDE também defende que “um aperto prematuro da política orçamental deve ser evitado”, e que este apoio deverá ser “contingente ao estado da economia e ao ritmo das vacinações”.

“A actual política monetária muito acomodatícia deverá ser mantida, e permitir uma falha temporária dos objectivos de inflação, desde que as pressões sobre os preços permaneçam bem contidas, com políticas macroprudenciais implementadas onde necessário para assegurar a estabilidade financeira“, aconselha ainda a OCDE no documento.

ZAP // Lusa

 

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