Secretário de Estado investigado, Montenegro calado. Afinal, quanto vale a Agenda Anticorrupção?

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Miguel Pereira da Silva / Lusa

O combate à corrupção era, assumidamente, uma das grandes prioridades do Governo, mas Luís Montenegro continua sem se pronunciar sobre os negócios suspeitos do secretário de Estado Hernâni Dias. O que revela este silêncio?

O secretário de Estado da Administração Local e do Ordenamento do Território, Hernâni Dias, está no centro de uma polémica devido à criação de empresas no ramo imobiliário, depois de ter assumido o cargo no Governo. Apesar de a situação não ser ilegal, levanta dúvidas sobre conflitos de interesse, dado que Hernâni Dias tutela uma pasta que influencia os negócios das empresas.

A resposta do Governo, nomeadamente do primeiro-ministro Luís Montenegro, continua a ser o silêncio.

Num caso que classifica como um “conflito de interesses pornográfico”, o vice-presidente da Associação Frente Cívica João Paulo Batalha lamenta que, afinal, a tão falada e prometida Agenda Anticorrupção seja apenas ‘fogo de vista’.

O também consultor de políticas anticorrupção questiona o verdadeiro valor das promessas de Luís Montenegro no início do seu mandato.

“É fundamental que o primeiro-ministro, que fez do combate à corrupção, a prioridade primeira do Governo e o centro do seu discurso de tomada de posse nos diga se está à vontade com este padrão ético e com esta interpretação esquiva da lei das obrigações de transparência do governante. E, se não está, o que é que tenciona fazer a esse respeito”, disse João Paulo Batalha, em declarações à Antena 1.

“O silêncio do primeiro-ministro que já dura há três dias, sobre isto, começa a ser muito revelador do que verdadeiramente vale a Agenda Anticorrupção deste governo”, acusou.

Num artigo na revista Sábado, ainda antes do conhecimento desta polémica de Hernâni Dias, João Paulo Batalha já acusava o ministro Adjunto e da Coesão Territorial Manuel Castro Almeida de abrir portas à corrupção, com a “criminosa” Lei dos Solos.

“Crimes urbanísticos sempre se fizeram. O que muda agora é que o negócio fica muito mais facilitado. (…) [Com] uma política pública que gera enormes oportunidades para a corrupção, por um Governo que se jura empenhado em combatê-la”, escreveu.

O Governo alterou o Regime Jurídico dos Instrumentos de Gestão Territorial para permitir a construção em terrenos até agora interditos, incluindo na Reserva Agrícola Nacional (RAN) e na Reserva Ecológica Nacional (REN), justificando que pretende aumentar a oferta de terrenos para construir habitação.

No entendimento da Frente Cívica, “se vier a entrar em vigor, esta legislação virá provocar alterações abruptas nos Planos Diretores Municipais e violar a coerência, previsibilidade e segurança jurídica do ordenamento territorial, fazendo perigar um dos princípios basilares da democracia local”.

A associação considera que os poderes de alteração do uso de solos “são ilegítimos, porque lesam gravemente o ordenamento do território” e constituem “previsível lastro de corrupção, ao estimularem a promiscuidade entre autarcas, partidos políticos e especuladores imobiliários”. Isto porque a permissão final para a construção nos respetivos solos será sempre das autarquias.

ZAP // /

3 Comments

  1. “Montenegro calado “.
    Obviamente, não terá muito para dizer…nada de novo foi revelado. Nada que Montenegro não soubesse há muito. Nada que impedisse a nomeação, antes pelo contrário. É desta “ética” e “lisura ” que uns certos se governam.

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  2. Aqui está a pequena diferença entre o PS 2.0 e o Chega, uns são fofinhos e ditos cordiais, outros são objetivos e sem compaixão. Mas como os média teleguiados é que decidem o que o povo deve absorver, a lucidez na análise dos factos é cada vez mais turva

  3. odas estas medidas abstrusas como as alterações à lei dos solos, as autorizações para o abate de milhares de árvores, (algumas delas sob protecção, como os sobreiros), para o abate de centenas de animais, em regime de caça furtivo, tudo isto levado a cabo pela empresa espanhola que adquiriu a herdade da Torre Bela, na Azambuja, em conivência com o governo e com essas fictícias agências do ambiente, tudo isto cheira a esturro! Passar junto ao que foi esta magnifica herdade murada de 1.700 ha, propriedade do duque de Lafões, é profundamente triste. O espaço ocupado ,antes, por vetustas árvores autoctenes está hoje coberto de negros painéis solares que tornam a paisagem ainda mais fúnebre. E todo este desastre ambiental para os espanhóis terem lucros!!!.

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