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Navio com 42 migrantes desafia Salvini e entra em águas italianas

Sea-Watch International / Twitter

O navio alemão Sea-Watch 3

A capitã do navio Sea-Watch 3 foi contra as ordens do Governo Italiano e entrou, esta quarta-feira, no porto de Lampedusa para salvar 42 migrantes.

O navio Sea-Watch 3, gerido por uma organização humanitária alemã, desafiou as autoridades italianas ao entrar, esta quarta-feira, nas águas do país. Até ao momento, não há qualquer sinal de que os migrantes a bordo, que a ONG assegurou estarem em condições inseguras, receberão permissão para desembarcar.

“Decidi entrar no porto de Lampedusa. Sei o que estou a pôr em risco, mas os 42 sobreviventes que tenho a bordo estão exaustos. Vou levá-los para um lugar seguro. Sou responsável por estas pessoas e elas não aguentam mais. As suas vidas são mais importantes do que um jogo político”, justificou a capitã do navio, Carola Rackete, numa mensagem divulgada nas redes sociais.

De acordo com a revista Sábado, a alemã de 31 anos, licenciada em conservação ambiental, trabalha como voluntária na Sea Watch desde 2016 e, antes disso, também fez parte da equipa do navio da Greenpeace ‘Arctic Sunrise’ durante dois anos.

“A minha vida foi fácil, pude estudar em três universidades. Sou branca, alemã, nascida num país rico e com o passaporte certo. Quando percebi isto senti uma obrigação moral: salvar aqueles que não tiveram as mesmas oportunidades do que eu”, escreveu na sua página pessoal do Twitter, que foi entretanto foi apagada.

No interior da embarcação, encontram-se 42 dos migrantes resgatados a 12 de junho no Mediterrâneo (inicialmente eram 53 mas os restantes foram desembarcados por razões médicas). “Temos pacientes com dores insuportáveis, consequência da tortura que sofreram”, descreve uma das médicas a bordo, citada pelo semanário Expresso.

A tripulação rejeita a possibilidade de devolver estas pessoas à Líbia, por não considerar o país seguro, e exigiu hoje autorização para desembarcar os migrantes, numa mensagem dirigida à União Europeia.

“Esperámos durante a noite toda, mas não se pode esperar mais”, afirma a ONG, acrescentando que “o desespero das pessoas não é algo com que se possa brincar“.

https://twitter.com/seawatch_intl/status/1144268567589924864

Mais tarde, a organização explicou o porquê de ter decidido desafiar as ordens de Itália. “Passaram-se 23 horas desde que entrámos em águas italianas por necessidade. Vimo-nos obrigados a isso porque em duas semanas nenhuma instituição da UE assumiu a responsabilidade. Temos de continuar sozinhos ou há alguém que se lembre do dever de proteger a vida no mar.

Segundo mostram os meios de comunicação locais, o barco encontra-se a cerca de cinco quilómetros da costa, frente ao monumento conhecido como “Porta de Lampedusa, Porta da Europa”, em memória dos migrantes mortos na viagem para o continente europeu.

O ministro italiano do Interior, Matteo Salvini, tem recusado deixar migrantes desembarcarem no território e sublinhou que o Sea-Watch desafiou o país ao entrar em águas italianas, defendendo que a tripulação deve ser detida e o navio arrestado.

Hoje, o comissário europeu para as Migrações, Dmitris Avramopoulos, pediu a Itália que permita a entrada dos migrantes a bordo e garantiu que vários Estados-membros da UE estão prontos para ajudar, sublinhando, no entanto, que a ajuda só pode ser dada quando estas pessoas estiverem em terra.

“Espero que Itália, neste incidente em particular, contribua para uma solução rápida para as pessoas a bordo”, afirmou o comissário.

Itália mantém uma política de portos fechados aos barcos das ONG. Tal como no caso do jovem português Miguel Duarte, tanto a capitã do Sea-Watch 3 como os responsáveis pela ONG arriscam enfrentar um processo judicial por suspeita de ajuda à imigração ilegal.

ZAP // Lusa

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