Santos Silva promete “imparcialidade e contenção” e deixa recados ao Chega na estreia como Presidente da AR

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António Cotrim / Lusa

Augusto Santos Silva no primeiro discurso como Presidente da Assembleia da República

O novo Presidente da Assembleia da República vincou a distinção entre populismo e nacionalismo na sua primeira intervenção no cargo e realçou os perigos do populismo, deixando avisos ao Chega nas entrelinhas.

No discurso após a eleição para a Presidência da Assembleia da República, Augusto Santos Silva quis deixar uma distinção bem clara — ser patriota é diferente de ser nacionalista —, e prometeu imparcialidade no seu mandato.

“O patriota, porque ama a sua pátria, enaltece o amor dos outros pelas pátrias respectivas”, frisou Santos Silva, que também enalteceu a “natureza pluricêntrica” da língua portuguesa. O nacionalista, por outro lado, “odeia a pátria dos outros, discrimina quem é diferente e, em vez de hospitalidade, promete ostracismo”.

Sem nunca falar directamente do Chega, ficaram subentendidas algumas alfinetadas do ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros ao partido de André Ventura, que é agora a terceira força política no Parlamento.

“O patriotismo só medra no combate ao nacionalismo. O patriota que ama a sua pátria enaltece o amor dos outros pelas respectivas pátrias porque sabe que só na pluralidade das pátrias floresce a sua. O bom requisito para não ser patriota é não ser nacionalista, isto é, não ter medo de abrir fronteiras e acolher refugiados”, sublinhou.

O discurso valeu aplausos das bancadas da esquerda e do PSD e, ocasionalmente, da Iniciativa Liberal. Já os deputados do Chega acenavam negativamente com a cabeça. “O único discurso sem lugar aqui será o do ódio“, avisou Santos Silva, acrescentando que a razão “não se mede em decibéis”.

“A liberdade e a igualdade custaram demasiado para que agora possamos regredir para novos tempos de barbárie”, afirmou o novo líder da AR, que sublinhou ainda que nestes tempos “difíceis” e “profícuos a toda a espécie de manipulações e de messianismos”, vai estar atento aos perigos das “simplificações abusivas” do “populismo” que substitui “o debate pelo insulto”.

Já a receita para a derrota do populismo é simples: “A sociedade portuguesa não não está imune a este vírus, mas a melhor maneira de o combater é não lhe conceder mais relevância do que aquela que o povo português lhe quis atribuir”.

Santos Silva avisou também que há “duas regras elementares” no Parlamento — o “respeito por todos os mandatos” e o “respeito pela vontade popular”. O político promete ainda realizar uma presidência “imparcial, contida e aglutinadora”.

No início da intervenção, Santos Silva realçou ainda as suas próprias origens. “Serei o primeiro presidente com origem, actividade profissional e residência no Porto”, afirmou, argumentando que esse exemplo e o facto de ter sido eleito pelo círculo de Fora da Europa mostram que o Parlamento é “verdadeiramente nacional”.

Já depois do discurso, André Ventura respondeu aos recados de Santos Silva. “O grupo parlamentar do Chega será a voz de um sistema que ama a sua pátria, sim, e não tem medo de o dizer. Não temos medo de dizer que amamos este país porque esse é o mesmo nacionalismo positivo que leva os ucranianos a defender o seu país contra os invasores”, afirmou o líder do Chega.

Aos 65 anos, Augusto Santos Silva vai assim suceder a Eduardo Ferro Rodrigues no segundo cargo mais alto da nação. O ex-Ministro dos Negócios Estrangeiros era o único candidato e foi eleito com 156 votos favoráveis, 63 brancos e 11 nulos.

Adriana Peixoto, ZAP //

13 Comments

  1. Ui, o amigo e defensor do maior corrupto, a falar de imparcialidade e contenção e depois a fazer-se dono de uma superioridade moral que não tem nem nunca terá. Onde é que eu já vi isto? A arrogância deste sr é desmesurada e o seu discurso mostra que não vai respeitar algumas escolhas dos portugueses e seus representantes na AR. É a pior escolha possível para o cargo, um arrogante e com tiques de revanchismo político.

  2. “presidência “imparcial, contida e aglutinadora”…”. Não vai ser assim não, pelo seu discurso deverá ser… Parcial, Incontida e Desaglutinadora.

  3. Finalmente alguém rigoroso nas definições, que não vai permitir golpes de asa oportunistas em desfavor de argumentos válidos… é grandioso o discurso do novo presidente da assembleia e vai obrigar os novos deputados a fazer trabalho de casa… a começar pela consulta de dicionários e pelo estudo da gramática.

  4. Imparcialidade em que começa logo por deixar “recados” a um partido. A imparcialidade deste senhor deixa muito a desejar e já veremos com a eleição dos vice presidentes. Esta gentalha mais depressa se dão com partidos que apoiam ditaduras e até mesmo a invasão russa da ucrania que com a direita.

  5. Achei um exagero o Ferro Rodrigues criticar o Ventura por ele ter usado a palavra vergonha quando ele mesmo já a usou tanta vez.

  6. Mas este Santos Silva não queria voltar a dar aulas?!!!!
    Esta gente muda de opinião como quem muda de cuecas.
    Estas pessoas não têm vergonha nenhuma. Dizia que queria deixas as funções políticas porque queria regressar ao ensino. Agora, é Presidente da AR. Enfim, o povo tem o que merece.

    • Engraçado…
      Uma vez que a sua maioria foi feita pelos votos de um em cada cinco portugueses, este espaço não deixa de ser uma boa representação do que o país sente. Afinal, o Vítor é o único que aqui os defende 😉

  7. Imparcialidade:substantivo feminino Equidade; qualidade da pessoa que julga com neutralidade e justiça; característica de quem não toma partido … Embora sabendo da má qualidade dos nossos políticos as vezes interrogo-me se eles desconhecem o significado das palavras que alguém lhe escreveu ou se julgam que todos os portugueses são idiotas

  8. Imparcialidade ? Veremos, mas este senhor já afirmou várias vezes publicamente que lhe dá imenso gozo malhar na direita !!!!! Ora agora que tem essa possibilidade, há que esperar.

  9. Infeliz entrada em cena deste senhor como presidente da AR e isto deixa mau presságio sobre o que se irá passar nesse hemiciclo sob o seu comando e até da possível arrogância do próprio governo, pois já demonstraram no passado serem pouco acessíveis a contrariedades. Nota-se neles a simpatia que nutrem por extremas-esquerdas e pelo que defendem e completamente avessos a nacionalistas e defensores de direitos e deveres igualitários, simplesmente lamentável!

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