Santa Casa: ministra ataca Ana Jorge. “Beneficiaram-se a si próprios. Estranhámos”

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Filipe Amorim / LUSA

Maria do Rosário Ramalho, ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, com o primeiro-ministro Luis Montenegro

Maria do Rosário Ramalho garante que tem motivos muito sólidos para afastar a ainda provedora. E rejeita qualquer saneamento político.

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social acusou nesta terça-feira a provedora exonerada da Santa Casa de “total inação”, a administração de se beneficiar a si própria e rejeitou a ideia de “saneamento político” na exoneração.

Em entrevista à RTP, a ministra Maria do Rosário Ramalho afirmou ter “uma fundamentação muito sólida” para a decisão de exonerar a provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Ana Jorge, assim como a restante mesa (administração) da instituição.

Já ouvi até que foi um saneamento político. Não foi nada”, garantiu a ministra, que justificou a demissão de Ana Jorge “por razões de gestão”, acusando-a de “total inação” face à situação de crise financeira que herdou da anterior administração, reiterando o que o Governo já havia afirmando no comunicado relativo à exoneração sobre a inexistência de um plano de reestruturação.

“A conversa que tivemos não evidenciou nenhum sentido de urgência face à situação que existia”, disse Maria do Rosário Ramalho, insistindo que “não havia nada” e que desde a tomada de posse Ana Jorge “não fez nada” para melhorar inverter a situação financeira.

 “[A provedora] não fez nada (…). Nem me passava pela cabeça que ela não tivesse um plano de restruturação financeira, que não tivesse nenhum dado sobre execução orçamental do primeiro trimestre, que não tivesse feito nada”, revelou à RTP.

Ou nunca pensou que “tivesse aumentado despesas com pessoal”, referindo que apenas foram cortadas despesas com 19 dirigentes, que perderam esses cargos e os suplementos a eles associados, mas se mantiveram na instituição, tendo, por outro lado, sublinhando a decisão da mesa em aumentar os seus próprios salários.

Os da mesa até foram aumentados. Estranhámos. (…) beneficiaram-se a si próprios, não, de todo, as pessoas que estão na operação”, criticou a ministra, que referiu que a maioria dos trabalhadores na SCML ganha o salário mínimo.

Sobre as acusações de “calúnia e má-fé” feitas por Ana Jorge sobre as justificações para a exoneração da mesa da SCML, Maria do Rosário Ramalho disse que acha isso “muito estranho”, elencando uma sucessão de acontecimentos até ao momento da demissão, como a inexistência de um relatório sobre medidas a tomar ou de resposta a um conjunto de “perguntas muito básicas” colocadas pela tutela e às quais Ana Jorge nunca terá respondido.

Apontando “falhas de comunicação”, a ministra disse ter perdido a confiança na provedora exonerada, “absolutamente”, pelo que tomou a decisão de exoneração “nos fundamentos da lei”.

Rejeitou, no entanto, que esteja prevista qualquer ação criminal contra a ação de Ana Jorge à frente da SCML, frisando que o que a preocupa “é a gestão” e que a decisão tomada assenta nos dados recolhidos pelo Governo, que a ministra não quis detalhar antes de os dar a conhecer aos deputados, na audição parlamentar.

Maria do Rosário Ramalho rejeitou as alegações de saneamento político apontadas ao Governo na exoneração de Ana Jorge, que se mantém no cargo em gestão corrente até ser substituída no cargo, como “é obrigação de qualquer pessoa que exerce funções públicas”.

O processo de substituição de Ana Jorge “é urgente, mas não é precipitado”, garantiu a ministra.

Se fosse um saneamento político eu já teria quatro ou cinco pessoas para por lá”, acrescentou a governante, que adiantou que o Governo procura “um perfil financeiro” para o sucessor, não dando como certo que possa ser encontrado dentro de um dos partidos da coligação, mas não o descartando: “Há financeiros muito bons em todos os partidos”.

A ministra frisou que o Governo pretende “uma mudança de orientação” para o cargo.

“Podemos estar aqui perante o perigo total da operação da SCML este ano e este perigo infelizmente intensificou-se ao longo do último ano. A SCML só não teve prejuízos este ano porque houve uma injeção do Estado”, disse, acrescentando que a dívida de 50 milhões de euros da SCML já não existe.

Ana Jorge: “nego profundamente. É preciso justificar qual é esse benefício”

A provedora exonerada da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, Ana Jorge, negou hoje as acusações da ministra do Trabalho de que os administradores da instituição se teriam “beneficiado a si próprios”, defendendo ser preciso justificar essa declaração.

Questionada pela Rádio Renascença sobre se atuou em benefício próprio, Ana Jorge afirmou: “É evidente que não. E nego profundamente essa declaração e é preciso justificar qual é o benefício próprio”.

Ana Jorge sublinhou que o ano que esteve à frente da instituição “foi um ano duro, muito duro”, e que fez “tudo para que a Santa Casa continuasse a ser a Santa Casa a bem das pessoas que tem apoiado”.

“Conseguimos manter toda a atividade, fizemos grandes reorganizações internas. Portanto, terei oportunidade, de hoje a oito dias, de explicar e de levar dados e informação detalhada sobre tudo aquilo que a Mesa da Santa Casa fez.

Ainda sobre as críticas da ministra em relação aos salários, Ana Jorge explicou que a SCML fez um acordo de empresa que a ministra considerou que não deveria ter sido realizado. Contou que, no primeiro encontro que teve com a ministra, esta lhe disse que “não o devia ter feito, mas também não havia problema porque podia ser anulado”.

“Isto foram palavras, portanto, isto diz tudo”, vincou, afirmando que no parlamento dirá “mais coisas”.

Relativamente às críticas de Maria do Rosário Ramalho, em que a acusou de “total inação”, Ana Jorge comentou que não sabe como é que “a senhora ministra em 12 dias” pode ter tirado essa ilação, considerando que dificilmente a ministra terá a informação sobre toda a atividade da Santa Casa.

Na entrevista, Maria do Rosário Ramalho afirmou ter “uma fundamentação muito sólida” para a decisão de exonerar a provedora da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa (SCML), Ana Jorge, assim como a restante mesa (administração) da instituição.

Já ouvi até que foi um saneamento político. Não foi nada”, garantiu a ministra, que justificou a demissão de Ana Jorge “por razões de gestão”, acusando-a de “total inação” face à situação de crise financeira que herdou da anterior administração, reiterando o que o Governo já havia alertado para a inexistência de um plano de reestruturação.

Ana Jorge tomou posse em 2 de maio de 2023, escolhida pelo anterior Governo socialista de António Costa, e herdou uma instituição com graves dificuldades financeiras, depois dos anos de pandemia e de um processo de internacionalização dos jogos sociais, levado a cabo pela administração do provedor Edmundo Martinho, que poderá ter causado prejuízos na ordem dos 50 milhões de euros.

Depois da sua exoneração, a provedora escreveu uma carta a todos os trabalhadores da SCML, na qual acusava o Governo de a ter exonerado de “forma rude, sobranceira e caluniosa” e que foi apanhada de surpresa.

ZAP // Lusa

3 Comments

  1. Ué?!
    Não vejo qual o problema de se auto-beneficiarem!
    Ao fim e ao cabo, para que foram criados estes “tachos”?
    Para que a vão substituir por um ou uma afilhada vossa?
    Vão colocar o cargo em “verdadeiro” Concurso Público?!
    Pois…
    É a velha cena: Quem pode manda e, quem manda pode!!!

  2. Esta ministra só pode estar ver-se ao espelho. (não é Snra. Ramalho?)
    Não perde pela demora.
    Que leve um saco grande para o Parlamento, vai precisar de esconder a cara e arrecadar a viola que a acompanha.

  3. Esta ministra do T.S.S.S , assim que o Montenegro ; Tem muita razão (agora é a nossa vez de ir au Pote) , como sempre assim Foi e no meu ver sempre assim será ! …… Triste sina que temos !

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