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Estas salsichas (com toque português) são mesmo feitas de carne. Mas nenhum animal morreu

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Meatable

A nova salsicha da Meatable.

A nova salsicha de porco da Meatable chegará ao mercado em breve. É mais um avanço na indústria da carne cultivada.

O mundo está a mudar. Cada vez mais cientes dos problemas ambientais, as pessoas começam a procurar alternativas à indústria da carne. As arcas dos supermercados oferecem gradualmente uma maior variedade de plant-based meats ou, em português, carnes à base de plantas.

Estes produtos tentam imitar o sabor da carne, embora sejam feitas sem recurso a nenhum produto animal. É este, por exemplo, o caso da Juicy Marbles, “o Salvador Dali das carnes” que criou o primeiro filet mignon vegan.

Para muitos, o problema é que, por enquanto, estas carnes ainda não conseguem replicar a 100% o verdadeiro sabor da carne. O mercado tem vindo a inovar a um ritmo alucinante, mas continua com alguma limitações que prometem ser resolvidas.

Os inconformados têm uma alternativa: a carne cultivada. Esta é produzida por culturas de células animais in vitro. A carne é produzida usando técnicas de engenharia de tecidos tradicionalmente usadas em medicamentos regenerativos. O conceito existe desde o início dos anos 2000, mas tem vindo a ganhar força nos últimos anos.

Agora, outro produto de carne real, feito sem prejudicar nenhum animal, estará disponível para os carnívoros em breve: salsichas de porco cultivado.

O produto é da autoria da Meatable, uma empresa neerlandesa pioneira no ramo, da qual faz parte a investigadora portuguesa Maria Gomes Fernandes, especializada no estudo de células estaminais pluripotentes e biologia molecular cardiovascular.

Meatable

Licenciada pela UTAD, a biotecnóloga Maria Gomes Fernandes doutorou-se na Universidade de Leiden, nos Países Baixos

Desde o seu lançamento, em 2018, a Meatable tem vindo a desenvolver e refinar o seu processo de criação de carne cultivada usando a tecnologia opti-ox™, sem nunca precisar de usar soro bovino fetal.

“A empresa precisa apenas de uma única amostra de célula, retirada inofensivamente de um animal, para replicar o crescimento natural de músculo e gordura para criar carne de verdade”, lê-se no comunicado da Meatable.

Estudos mostram que a carne cultivada pode reduzir até 92% o impacto ambiental da indústria da carne. Isto ganha outra importância se tivermos em consideração que 14% das emissões globais são causadas pela indústria da carne.

Além de mitigar as alterações climáticas, o crescente consumo de carne cultivada é ótimo para o bem-estar animal, segurança alimentar e saúde humana.

“Poder ver e cozinhar as nossas salsichas pela primeira vez foi uma experiência incrível, especialmente porque pudemos finalmente provar pela primeira vez. Isto foi particularmente emocionante, pois sabemos que todo o nosso trabalho duro nos últimos quatro anos foi bem-sucedido na criação de uma verdadeira salsicha de carne que é indistinguível das salsichas tradicionais de porco”, disse o CEO da Meatable, Krijn de Nood.

No entanto, atualmente a carne cultivada não é legal na Europa. “A Meatable tem trabalhado em estreita colaboração com os reguladores dos Países Baixos para apoiar a aprovação de uma moção que visa permitir uma degustação mais ampla de carne cultivada até ao final do ano”, informa a empresa.

A Meatable espera que isto permita que os seus produtos sejam amplamente vendidos aos consumidores em 2025, se não antes.

Os custos para a produção deste tipo de carne também têm baixado astronomicamente. O primeiro hambúrguer cultivado em laboratório custou 330 mil dólares para ser produzido em 2013. No ano passado, o custo do frango cultivado em laboratório atingiu um custo de 7,70 dólares por quilograma.

No final do ano passado, a empresa israelita MeaTech 3D também mostrou o maior bife até agora produzido com carne feita em laboratório, tendo cerca de 110 gramas

O bife é feito de músculo verdadeiro e de células de gordura derivadas de amostras de tecidos de uma vaca. As células estaminais de bovinos vivos foram incorporadas em “bio-inks” que foram colocados na impressora 3D da empresa para produzirem o bife, que foi depois maturado numa incubadora, onde as células estaminais foram diferenciadas em células de gordura e de músculo.

O objetivo é que a empresa comece a produzir carne em laboratório ao mesmo preço da carne normal. Por enquanto, a primeira aventura no mercado vai ser com a venda de gordura feita em laboratório como um ingrediente para outros produtos, que vai arrancar em 2022.

Daniel Costa, ZAP //

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