Falta de hábito, perda de força dos sindicatos, falta de mudança de empregos e acordos entre empresas.
A subida dos salários não tem acompanhado o ritmo da subida dos preços, em Portugal.
Ainda nesta sexta-feira realizou-se uma greve nacional da função pública porque o Orçamento de Estado 2023 prevê aumentos salariais de 3,6%, numa altura em que a inflação ultrapassa os 10% – valor recorde nas últimas décadas.
Mas, apesar dos números baixos do desemprego nos últimos meses, os salários não sobem muito: 4% no último Verão em termos nominais.
Aliás, até caem, em termos reais: 4,7%, quando juntamos as contas do poder de compra, da inflação.
Porque não sobem mais? “As empresas e os trabalhadores em Portugal deixaram de estar habituados à inflação. Várias gerações não sabem o que isso é. O mercado de trabalho está ainda a ajustar-se”.
É uma das explicações dadas ao jornal Expresso, neste caso pelo economista Pedro Martins.
Ricardo Paes Mamede, além de contestar a idiea de que Portugal está em níveis mínimos de desemprego, acha que os sindicatos perderam força: “A força negocial dos trabalhadores é muito baixa. Os que estão a ter maiores aumentos são os que beneficiam da subida do salário mínimo”.
Uma ideia reforçada pelo investigador Paulo Coimbra: “O contexto económico e político dos últimos anos (troika, mudanças na Lei, caducidade da contratação colectiva) retirou muito poder negocial aos sindicatos.”
Uma queda da taxa de sindicalização que se acentua no sector privado, de acordo com o professor Pedro Portugal: “No privado não se tem visto capacidade dos sindicatos de mobilização para a greve”, apontando também para a contenção dos salários na Administração Pública, “que influencia o sector privado”.
Por isso, e voltando a Pedro Martins, os salários aumentarão mais muito com base na mudança de emprego dos trabalhadores, que é um “processo mais lento”.
Com maior concentração do mercado de trabalho, surgem menor concorrência e menor pressão salarial. Há mesmo “acordos tácitos entre empresas para não recrutarem trabalhadores entre si, e assim não aumentarem salários”.