O que é mais perigoso: Rússia derrotada ou Rússia humilhada?

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David Lienemann / White House / Wikimedia

O presidente dos EUA, Joe Biden, com o primeiro-ministro da Rússia, Vladimir Putin

Major-general Arnaut Moreira vê um impasse militar, explica porque as negociações se prolongam e pede contenção a Joe Biden.

Ao fim de um mês de guerra na Ucrânia, os dois lados têm que cair na realidade: há um impasse militar.

A conclusão, que não é nova, foi comentada pelo major-general Arnaut Moreira, num programa da rádio Observador.

As forças russas acusam um “certo desgaste” e os seus objectivos, sobretudo os que foram traçados pelos militares que saíram da Bielorrússia e do nordeste da Rússia, “não produziram os efeitos desejados”.

Há pequenos avanços e pequenos recuos, “como se ambas as partes estivessem à espera de um reforço extra para poder desbloquear a situação militar”.

As negociações não têm chegado a um desfecho positivo “também porque não há uma linha muito clara sobre possíveis sucessos militares imediatos. Ambas as partes não querem chegar a um compromisso político sem haver uma vantagem militar sustentada. As negociações arrastam-se”, analisou.

As negociações arrastam-se, a guerra também, e o major-general sublinha dois factores importantes.

O prolongamento da guerra e de imagens de tragédia começou a “anestesiar” a opinião pública ocidental. “A opinião pública já se começa a distanciar, começam a aparecer outras notícias que também suscitam interesse. Para Zelenskyy era importante manter o foco na guerra”.

Por outro lado, as forças russas – com excepção da região Sul – têm tido grandes dificuldades. “Andam à procura de reforços militares e isso tem implicações políticas a nível interno, na Rússia”, descreveu.

Arnaut Moreira foi questionado sobre a alegada intenção de Vladimir Putin, presidente da Rússia, de dividir a Ucrânia em duas nações.

“A Rússia quis preparar a criação de repúblicas separatistas no Sul da Ucrânia, que servissem de tampão entre a Ucrânia que restasse e a Crimeia. Seria para não haver fronteiras directas entre Ucrânia e Crimeia. Mas estão a reivindicar mais territórios do que aqueles que realmente conquistam no terreno”, analisou.

Além disso, a luta das populações ucranianas tem evidenciado que “não há simpatia com os russos”.

Oeste e Biden

No terreno, a Rússia continua com capacidade para conseguir várias vitórias militares no Leste da Ucrânia.

Já no Oeste, a Rússia sabe que as forças ucranianas estão a ser reabastecidas pelo Ocidente – por isso, continuará a haver bombardeamentos a cidades no Oeste que tenham depósitos. “Mas não se vê um conjunto de forças russas suficiente para dominar o Oeste da Ucrânia”, acredita.

Joe Biden, presidente dos Estados Unidos da América, não se tem controlado nos discursos públicos e já disse que Putin é um “carniceiro”.

O major-general sugere contenção: “Biden tem mostrado mais sentimentos pessoais e não enquanto presidente”.

“Biden preocupa-se com a tragédia mas deve ser suficientemente racional para encontrar uma saída – que respeite os grandes objectivos da Ucrânia e que permita também ao Kremlin uma saída desta aventura”, acrescentou.

Por fim, e ainda na sequência de palavras como estas, Arnaut Moreira deixou um alerta: “Não sei o que é mais perigoso: uma derrota militar da Rússia na Ucrânia ou uma Rússia que saia, sem derrota militar, mas com uma humilhação”.

Nuno Teixeira da Silva, ZAP //

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18 Comments

  1. Biden foi um dos mandantes do Bombardeamento de Belgrado pela força aérea americana ao serviço da NATO. Mataram 3 mil civis e 12 mil feridos. Nessa altura faltavam-lhe os “sentimentos”. Hipócrita.

    • Os bombardeamentos da NATO na antiga Jugoslávia foram um crime de facto, embora tenham morrido cerca de 1/6 dos civis que menciona. E a questão do Kosovo também não ficou bem resolvida. Faltou também dizer que essa agressão permitiu parar e apanhar o Milosevic, um dos mais sanguinários ditadores do Séc. XX, que matou esse sim milhares de pessoas, deslocou muitas mais, e que iria continuar a fazê-lo caso a agressão da NATO não tivesse ocorrido. Bem ou mal, a agressão da NATO levou a que hoje em dia toda aquela região é constituída por países independentes e democráticos que vivem um desenvolvimento e paz como nunca viram na sua História (mesmo que algumas partes não sejam nenhum paraíso, sobretudo as que não estão ainda na UE).

      Por outro lado, a justificação do Putin para invadir um país democrático e pacífico são os Nazis imaginários comandados pelo Zelensky (que por acaso é judeu…), e os famosos 12.000 mortos do Donbass (grande parte mortos DEPOIS da invasão Russa de 2014 pelos mercenários Russos). Com isto já morreram milhares de civis e militares ucranianos e milhares de militares russos, a maior parte recrutas que não sabiam ao que iam. Tudo por uma sede de poder disfarçada de caça de gambuzinos, perdão, nazis.

      É também engraçado constatar que a maior parte dos Putinistas que vejo por aqui são Trumpistas e negacionistas que entretanto arranjaram um novo foco para partilharem a sua realidade paralela nestes fóruns de modo a desinformar e confundir o cidadão comum.

      • Nos dias de hoje ainda estão a morrer pessoas incluindo crianças devido às bombas radioativas (urânio empobrecido) lançadas pela NATO em Belgrado. Muita gente morreu e continua a morrer de cancro após esses bombardeamentos, mas o tribunal de Haia (ao serviço dos EUA) não atendeu o caso como crimes de guerra. Os nossos F16 fizeram escoltas ao bombardeiros americanos. 78 dias a lançar milhares de toneladas de bombas sobra a cidade….

    • Gosto JR que essas grandes verdades vão sendo lembradas. Agora são os “salvadores” e entretanto ficam com os grandes negócios. Gás, armas, petróleo e quiçá quando a guerra acabar as empresas americanas, vão fazer a reconstrução da Ucrânia. É só ajudas! Quem é que eles “ajudariam se não fomentassem as guerras?

      • Os americanos não têm amigos nem sentimentos, só interesses financeiros e geoestratégicos. Basta ver o que se passou no Iraque, Líbia, Afeganistão, só para citar alguns países.

      • Eu mesma: Será possível que empresas americanas e europeias irão reconstruir a Ucrânia porque o governo russo é comandado por gente tão reles e tão gananciosa que certamente não terão nenhum interesse em reparar em parte o mal provocado gratuitamente neste país, já que a perda de vidas humanas dos dois lados jamais terão reparação!

  2. Tem de se ajudar a Ucrania a Ganhar esta Guerra ! e quem melhor que os Estados Unidos ,que aproveita e testa os seus prototipos ,A Ucrania tem de ganhar ! estao outras coisas em jogo ! ,paises como a China que tem tambem planos expansionistas e querer anexar territorios e paises,estao a ver como isto termina ! nao se pode abrir um precedente como este ou depois desta virao logo outras

    • Pois, pois, vai sonhando com o Afeganistão, Iraque, Vietname, etc e tal… Tudo transformado em prosperas democracias “ocidentais”.

    • Não ligues ped, o JR escolhe o que lhe convém. Esqueceu-se (só por acaso) de mencionar a Croácia, Eslovénia (ambos membros UE), Sérvia, Kosovo, Montenegro, Macedónia do Norte e Bósnia, que mal ou bem são democracias ocidentais, graças à intervenção (mal ou bem) da NATO. Esqueceu-se também de referir que no Iraque (mal ou bem) já não temos um ditador sanguinário chamado Saddam a matar (entre outros) curdos a torto e a direito. O JR esquece-se ainda que na Rússia tal comentário podia dar prisão. Portanto vamos celebrar o facto de viver numa democracia ocidental, onde podemos dizer as baboseiras que queremos sem medo de sermos presos (não se livram é de umas chamadas à realidade de vez em quando, como é o caso).

      • As suas conclusões não têm fundamento, a Jugoslávia foi destruída e fragmentada mas as cicatrizes estão lá. Os sérvios não esquecem o que a NATO lhes fez e continuam a matar através das radioatividade das bombas que lá usaram. Crimes contra a humanidade praticados por uma força “defensiva”.

  3. «O que é mais perigoso: Rússia derrotada ou Rússia humilhada?»

    R: Nenhuma das anteriores.

    O cenário mais perigoso é o de uma Rússia vitoriosa…. e quanto maior a vitória, mais perigosa a Rússia será.

  4. O mais perigoso não é «Rússia derrotada ou Rússia humilhada», mas sim o expansionismo da NATO
    como braço armado dos Estados Unidos, estes sim grandes responsáveis pela desestabilização
    mundial ao pretenderem domínio geoestratégico, aliás, os maus exemplos são por demais evidentes
    em países que nem nos dias de hoje conseguiram encontrar a Paz. Por outro lado e sobre o actual
    conflito, não vale a pena tentar esconder a existência de forças nazis no governo ucraniano, elas estão
    no Ministério do Interior, nomeadamente no batalhão Azov para onde os nazis portugueses fizeram questão de se deslocar. E mais, a integração nazi no governo ucraniano sempre foi do conhecimento
    norte americano que em 2014 apoiou e monitorizou o golpe de estado, como foi reconhecido por
    Victoria Nuland Secretária de Estado, ao admitir que os EUA gastaram 5 bilhões de dólares na preparação do golpe. Não vale a pena andarem alguns a tentar tapar o sol com uma peneira, porque os buracos são muitos e depois também nós apanhamos por tabela nos preços dos bens essenciais. Afirmar que não houve queimados vivos em Odessa na Casa Sindical e que as populações russas de Donetsk e Gdansk não foram massacradas durante anos pelos militares nazis do Azov, é no mínimo falta de honestidade intelectual ao não querer ler a História, mas sim reescrevê-la. Por último, aquilo que todos devemos fazer é apelar à Paz e não atirarmos mais lenha para uma fogueira que pode incendiar o mundo.

    • A NATO serve para fomentar a guerra e não a paz. Eles têm que ter inimigos para os EUA venderem as suas armas e manterem o complexo industrial militar.

  5. O mais perigoso é se os EUA levarem a sua ideia avante e substituirem o Putin pelo Neo-Nazi do Alexei Navalny.

    Aí em vez de um ditador à frente da Rússia teríamos um ditador Nazi. Pior emenda que o soneto.

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