Autarca do Porto diz que não há razões para que o acordo assinado com os sociais-democratas não seja cumprido até ao fim.
O anúncio foi feito ontem e terá caído que nem uma bomba: Rui Moreira está a operar mudanças no executivo municipal, no qual os independentes passarão a ter maioria, depois da atribuição de pelouros, ainda a designar, à vereadora Catarina Santos Cunha, que em novembro do ano passado saiu do PS em desacordo com Tiago Barbosa Ribeiro, líder do PS/Porto, deputado e candidato socialista à Câmara do Porto. Na corda bamba fica o acordo de governação assinado com o PSD, tendo em vista, nos próximos quatro anos, a aprovação de orçamentos e a inclusão de propostas eleitorais dos sociais-democratas na gestão municipal.
A mexida tem origem na saída de Cristiana Pimental, vereadora da mobilidade, que irá presidir ao Conselho de Administração da STCP. Fernando Paulo, antigo vereador da Ação Social, Habitação e Educação, deverá regressar, para assumir as pastas da Educação e Ação Social. Já a da Habituação continuará à responsabilidade de Pedro Baganha, já responsável pelo pelouro do Urbanismo.
Apesar das mudanças, e da entrega de pelouros a Catarina Santos Cunha, Rui Moreira assegura que o acordo assinado com o PSD não está em causa. “Tem corrido muito bem. O mais importante é que o Porto volta a ter um executivo com maioria“, explicou o autarca, que afasta ainda qualquer “mal-estar” no executivo e justifica a atribuição da pasta à antiga vereadora do PS e não aos representantes sociais-democratas com o facto de estes serem “oposição construtiva”.
“Uma coisa é termos um acordo de incidência parlamentar e que nós queremos cumprir, tal como o PSD, outra coisa é ter oposição na vereação“, justificou o autarca que não vê razões para que o acordo com o PSD não seja cumprido. “A nossa situação é de bem-estar por termos maioria no executiva”, disse, citado pelo Expresso.
No entanto, esta não é a visão do PSD/Porto, pelo menos na totalidade dos seus dirigentes. Ao Observador, Miguel Seabra, líder da concelhia, confessou que o partido foi “completamente apanhado de surpresa”. “O acordo de governação e estabilidade traçado até 2025 tem sido cumprido por ambas as partes, não vemos necessidade de ver uma eleita do PS ter pelouro. Aliás, essa hipótese nunca esteve em cima da mesa”. O dirigente fez ainda questão de esclarecer que os sociais-democratas têm sido “colaborantes” e agido “de boa fé“.
“Não esperávamos esta descortesia por parte do presidente – deslealdade talvez seja uma palavra muito forte – de não reconhecer o esforço do PSD para ajudar a governar a cidade”, descreve Miguel Seabra, que recusa a deia de “amuo“. “Não é uma questão de amuo, no acordo não exigimos lugares nem pelouros, podíamos perfeitamente tê-lo feito, mas não aceitámos“, continuou. Já sobre o futuro do acordo, diz que “é prematuro falaz de um desfecho”.
À mesma fonte, outro dirigente do PSD/Porto, que preferiu não ser identificado, não considerou “normal” as mudanças efetuadas por Rui Moreira no executivo, sobretudo por não terem sido “devidamente articuladas” com os representantes do seu partido, daí falar em “deslealdade institucional“. “Tenho dúvidas que existam condições reais para manter este acordo, os dirigentes não foram consultados e esta não é uma situação simpática”, descreveu.
O mesmo dirigente estabeleceu ainda ligações com o atual momento político nacional e com as conclusões do caso Selminho. “É estranho que isto ocorra dias depois de o PS ter maioria absoluta nas legislativas”, disse ao Observador, lembrando ainda as trocas de palavras entre Rui Rio e Rui Moreira relativamente ao julgamento do caso em questão. “Espero que esta decisão não seja fruto de nenhum estado de alma.”