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Rio duvida que país consiga investir verba prevista para setor público

Filipe Farinha / Lusa

O presidente do PSD, Rui Rio, manifestou esta quarta-feira dúvidas de que o país consiga investir toda a verba prevista pelo Governo no plano de recuperação para a administração pública, prometendo que o documento social-democrata dará outro peso ao setor privado.

“Eu tenho muitas dúvidas, para não dizer certezas, se o país tem capacidade de utilizar tanto dinheiro em tão pouco tempo na modernização da sua Administração Pública”, afirmou Rui Rio, alertando que o Governo terá de consignar projetos no valor de 1,8 mil milhões de euros em apenas três anos.

“A nossa solução vai ter muito menos verba do que essa para esse efeito”, assegurou, no final de uma audiência com a APIFARMA (Associação Portuguesa da Indústria Farmacêutica), na sede nacional do PSD.

Questionado sobre as linhas gerais do Plano de Recuperação e Resiliência e sobre a intenção manifestada na terça-feira pelo primeiro-ministro de apenas recorrer às subvenções europeias e não aos empréstimos, Rio recusou neste momento dizer “se para o país é melhor usar ou não usar” essa fatia de fundos europeus.

O líder social-democrata defendeu que, numa estratégia de médio e longo prazo, “Portugal tem de reduzir a sua dívida pública, ou pelo menos o peso no PIB”.

“No curto prazo, essa redução de dívida é absolutamente impossível. O Governo diz que não vai usar a componente de divida porque temos uma dívida muito alto, ambas as situações poderão ser defensáveis”, considerou o líder do PSD, dizendo que a utilização de “alguma parte da componente de dívida” poderá ser aceitável, uma vez que tem taxas “muito baixas” e um prazo de pagamento a “muitos anos”.

Rui Rio reiterou que o plano alternativo prometido pelo PSD para a recuperação do país será apresentado “nos próximos dias” – a partir desta quarta-feira está concluído e a sua apresentação depende de “uma questão de agenda” – e garantiu que “terá de certeza uma diferença de peso entre público e privado” em relação ao do Governo.

“Tenho dito há muito que aquilo que defendo é o apoio às empresas exportadoras e ao investimento, o setor público não deixa de ser muito importante também, mas a dotação que o Governo tem para este setor é muito grande nas verbas de apoio imediato”.

Rio desvaloriza elogios de Von der Leyen

Rui Rio desvalorizou os elogios feitos pela presidente da Comissão Europeia, Ursula Von der Leyen, ao esboço de plano português, considerando que “é uma intervenção de caráter genérico e geral”. “Não implica estar totalmente de acordo com os objetivos finais do Governo, que ainda não estão ditos, tal como os nossos ainda não estão ditos”, afirmou.

Questionado sobre as palavras do seu ‘vice’ Morais Sarmento – que afirmou na TVI que o PSD aprovar o próximo Orçamento “é cenário que não se coloca” -, o líder do PSD voltou a remeter a responsabilidade dessa aprovação para a esquerda, mas não se comprometeu com um ‘chumbo’ antes de ver o documento.

“O PSD tem um papel passivo até ao dia 12 de outubro, nesse dia entrará a proposta de Orçamento que muito dificilmente poderá colher o nosso apoio (…) Mas se eu não conheço o documento, como é que vou já traçar uma sentença de morte?”, questionou.

No fim da mesma audiência, Rui Rio acusou o Governo de passividade na resposta a todos os outros doentes para lá dos atingidos pela covid-19, prometendo uma iniciativa política “mais incisiva” do seu partido nesta matéria.

“Eu não consigo entender sinceramente como é que, em primeiro lugar, o Ministério da Saúde assiste a isto passivamente e como é que o Governo como um todo e o primeiro-ministro em particular assiste a um Ministério da Saúde que não reage a estas situações”.

Tendo ao lado o coordenador e a vice-coordenadora do Conselho Estratégico Nacional do PSD para a saúde (António Araújo e Guilhermina Rego) e o deputado e médico Ricardo Baptista Leite, o presidente social-democrata manifestou a sua preocupação com a resposta do Serviço Nacional de Saúde (SNS) aos doentes extra covid.

“Temos consciência clara que, desde março, o SNS está totalmente focado na covid e foi desleixando tudo o mais”, disse, considerando que esta estratégia teve “resultados dramáticos” como o aumento do número de consultas e cirurgias adiadas e até o aumento da mortalidade em Portugal que não resultou da pandemia.

ZAP // Lusa

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