O líder do PSD reconhece que a função de deputado não o entusiasma, mas promete que vai assumir o cargo. Em entrevista à Lusa, Rio diz ainda que qualquer eventual acordo com o PS depois das legislativas deve ser por escrito.
Questionado se irá cumprir o mandato de deputado até ao fim, Rui Rio não se compromete. “Isso vai depender naturalmente daquilo que for o futuro do PSD e de eu próprio no PSD, poderei ficar ou não ficar de uma forma ou de outra”, afirma.
“Não tenho particular entusiasmo em ser deputado, não tenho. Fui deputado dez anos numa altura em que o Parlamento tinha um nível qualitativo inferior ao que tinha tido antes, mas muito superior àquilo que tem hoje. Se mesmo quando eu saí, já achava que o Parlamento se estava a degradar e não entusiasmava assim tanto, entretanto ainda se degradou mais, não é função que me entusiasme completamente”, afirmou.
Ainda assim, Rio irá assumir o mandato — é número dois pelo Porto —, mas garante que não faria o que vê muitos fazer, no seu partido e em outros, que é “até chorarem para serem deputados”.
O líder do PSD rejeita que possa tomar uma decisão a quente na noite das eleições sobre o seu futuro político — “não tenho 30 e tal anos nem 40” —, se os resultados forem dentro de “padrões de normalidade”.
“Se o PSD tivesse 10% também não era a quente, era a frio. Se tivesse 50% também não há decisão nenhuma a tomar, dentro do que são os padrões de normalidade logo se vê”, afirmou, em tom irónico.
Rio rejeita que não haja sinais de abertura na lista de deputados e, sem ter as contas feitas, admitiu que talvez metade dos cabeças-de-lista que escolheu não tenha sido sempre a seu favor, “entre os que estiveram com o Santana Lopes ou que no ‘golpe de Estado’ de janeiro mudaram de lado”.
Esse “golpe” refere-se ao desafio lançado por Luís Montenegro para que Rio convocasse eleições diretas antecipadas, e que o líder classifica como “uma ação de desespero, tendo em vista condicionar as listas das europeias e as outras”.
Na campanha, não sabe se terá Montenegro a seu lado, e garante ainda não ter feito convites a ex-líderes para esse período. “Não sei com quem é que vou estar ao lado, sou candidato pelo Porto, vou fazer a volta nacional, mas a minha obrigação é fazer um bocadinho mais no Porto”, refere.
Acordo com PS? Só “por escrito”
O presidente do PSD considera que as maiorias absolutas não facilitam as reformas estruturais alargadas. Rio defende que existem quatro reformas estruturais para o país que devem ser feitas por acordo alargado: sistema político; segurança social; descentralização e justiça.
“Pelo menos estas quatro requerem maiorias alargadas que não têm de ser necessariamente em votos, podem ser em conforto político”, afirma, explicando que são o tipo de reformas que não podem ser invertidas quando o Governo muda.
Questionado se uma eventual maioria absoluta pode facilitar essas reformas, o líder do PSD responde negativamente. “Ao contrário do que possa parecer, para reformas estruturais, acho que as maiorias absolutas não são positivas, não são facilitadoras de reformas estruturais alargadas”, elabora.
Qualquer acordo sobre reformas que possam vir a ser feitas com um Governo PS, ou “seja com que partido for”, teria de ser “por escrito”, diz Rio.
Para o líder do PSD, que nos últimos tempos tem endurecido o tom de crítica ao Governo, há ainda tempo para inverter a tendência eleitoral, que aponta para uma vitória folgada do partido no poder.
“Tenho consciência de que o PS vai à frente”, reconhece. Com “os pés assentes na terra”, acredita que os 30 dias que faltam até às eleições “são mais do que suficientes para inverter [essa tendência]”.
“A margem de indecisos, mas indecisos sinceros, pessoas que querem votar, mas não sabem mesmo como [porque] do Governo não gostam, olham para a oposição e ainda não sentiram que se tivesse afirmado”.
O líder do PSD não ficou desiludido com o primeiro-ministro António Costa, mas esperava que tivesse tido “mais ousadia para reformar e para melhorar” o país.
Questionado sobre como fará para marcar as posições entre PSD e PS perante um eleitor do centro, que diz ser aquele que disputa com este último partido, Rio declara que será com duas diferenças fundamentais: “uma relativamente à governação em concreto, que tem diferenças”, embora não “gigantescas”, mas “claras”, e a outra “com a postura e com a forma de ser”.
Regionalização só se não aumentar despesa
Rui Rio deseja que possa haver uma pergunta a referendo que lhe permita votar “sim” à regionalização, ao contrário de 1998.
Questionado sobre se é possível avançar já para a regionalização, defende que esse passo terá sempre de ser dado “por referendo”, mas não concretiza se entende haver condições para esta consulta na próxima legislatura.
Por outro lado, essa regionalização — que definiu mais como a criação de “autarquias grandes” do que “pequenos governos” — não pode significar mais despesa pública.
“No fim, temos de ter uma melhor governação e menos despesa pública. Eu não voto a favor de nenhum referendo pela descentralização se tal implicar mais despesa pública. Não voto, isso é sagrado”, frisa.
Este sábado, o primeiro-ministro afirmou-se “perplexo com o TGV tirado da cartola” por Rui Rio, acusando o presidente do PSD de “inconstância permanente de posições”.
“Fiquei profundamente perplexo como é que um partido com o grau de responsabilidade e que pretende ser alternativa de Governo se comporta com esta ligeireza relativamente a investimentos que são de milhares de milhões de euros”, acrescentou.
Rio relembrou então que o PSD não fala no seu programa eleitoral na execução do TGV, mas no estudo de uma ligação mais rápida entre Porto e Lisboa, concluindo que Costa “deixou-se levar pelas notícias”.
“A notícia foi manifestamente exagerada. O doutor António Costa provavelmente ouviu a notícia, acreditou nela, ele já tem experiência que chegue para não acreditar logo nas notícias, mas faz um comentário em cima de um pressuposto que não é exatamente assim”.
ZAP // Lusa