Ao contrário do que se pensava, o medicamento antiviral remdesivir não reduz as mortes entre os pacientes com covid-19, sobretudo quando comparado com o tratamento padrão, de acordo com os resultados de um estudo internacional.
Em maio, a Food and Drug Administration autorizou o uso condicional do remdesivir, desenvolvido pela farmacêutica norte-americana Gilead, para o tratamento de covid-19, depois de um estudo ter sugerido que o medicamento reduzia o tempo de internamento hospitalar de infetados com o vírus.
Desde agosto que nos EUA o medicamento tem então sido usado em todos os pacientes hospitalizados com covid-19, e não apenas para os que se encontram dependentes de ventiladores para respirar. Milhares de infetados norte-americanos receberam o tratamento, incluindo o presidente Donald Trump.
Contudo, um novo estudo, no qual a Organização Mundial da Saúde contribuiu, sugere que o remdesivir não reduz o risco dos infetados com o novo coronavírus morrerem.
O estudo publicado a 15 de outubro no medRxiv, ainda não foi revisto por pares, mas incluiu mais de 11.200 pessoas de 30 países diferentes.
De acordo com o LiveScience, do grupo de pacientes que participaram no estudo, cerca de 4100 serviram como grupo de comparação e não receberam nenhum tratamento com medicamentos. Os medicamentos administrados aos pacientes do outro grupo incluíam remdesivir, hidroxicloroquina, lopinavir e uma molécula chamada Interferon-β1a.
Numa última análise, os resultados do estudo sugerem que nenhum medicamento reduziu significativamente as mortes entre os pacientes, em comparação com o grupo que não os tomou. Para além disso, os medicamentos não reduziram a possibilidade de os pacientes recorrerem a um ventilador para respirar.
“As descobertas gerais pouco promissoras dos medicamentos testados são suficientes para refutar as esperanças iniciais de que os medicamentos reduziriam a mortalidade entre os pacientes com covid-19″, escreveram os autores do estudo. Estudos anteriores já adiantavam que a hidroxicloroquina e o lopinavir não reduziam a mortalidade nos doentes infetados.
O novo estudo indica que “remdesivir não produz nenhum impacto significativo na sobrevivência”, refere Martin Landray, professor de medicina e epidemiologia da Universidade de Oxford.
No entanto, Peter Chin-Hong, especialista em doenças infeciosas da Universidade da Califórnia, em San Francisco, disse ao jornal norte-americano The New York Times que os resultados do teste podem ser um pouco duvidosos.
Os participantes do estudo foram tratados em 405 hospitais diferentes, sendo que cada um tem os seus próprios protocolos de tratamento. Para além disso, o remdesivir ainda pode oferecer benefícios aos pacientes se administrado no início da doença, mas isso não foi abordado especificamente neste novo estudo, sublinhou Maricar Malinis, médico de doenças infeciosas da Universidade de Yale, ao Times.
Landray lembra que mesmo que o remdesivir ajude alguns pacientes com covid-19, ainda é caro e difícil de administrar. “Este é um medicamento que deve ser administrado por infusão intravenosa durante 5 a 10 dias”, acrescentando que custa cerca de 2550 de dólares (perto de 2155 euros) por tratamento.
“A covid-19 afeta milhões de pessoas em todo o mundo. Precisamos de tratamentos acessíveis e equitativos”, defende Landray.