Guerras na Ucrânia e em Gaza, rearmamento nuclear e aquecimento global foram mencionados como principais ameaças. A marca é a mesma do ano passado e a pior desde a criação da ferramenta, em 1947.
A humanidade continua este ano no ponto mais próximo da sua autoaniquilação, segundo o Relógio do Juízo Final — uma ferramenta criada por cientistas para medir e alertar a sociedade sobre o risco do apocalipse, que surge representado pela meia-noite.
Como acontece uma vez por ano, o relógio foi atualizado esta terça-feira, e os ponteiros marcam 90 segundos para a meia-noite, exatamente a mesma marca que no ano passado — e a pior da história do relógio.
O relógio foi desenvolvido pelo Boletim dos Cientistas Atómicos logo após o final da Segunda Guerra Mundial, e é uma “metáfora de quão perto a humanidade está da autoaniquilação”. Durante os três anos da pandemia de COVID-19, permaneceu estável em 100 segundos para a meia-noite.
No anúncio desta terça-feira, o Boletim dos Cientistas Atómicos mencionou como principais riscos a continuidade da guerra na Ucrânia, o ataque do Hamas contra Israel e a guerra em Gaza, o facto de países com armas nucleares estarem a modernizar os seus arsenais e a arriscar uma nova corrida ao armamento, o aquecimento global e a falta de ação para o combater, e os riscos da Inteligência Artificial (IA).
O que é o Relógio do Juízo Final?
Albert Einstein, J. Robert Oppenheimer e outros cientistas que trabalharam no Projeto Manhattan — o programa ultra-secreto de armas nucleares que resultou no lançamento de duas bombas atómicas pelos EUA no Japão — fundaram o Boletim em 1945 em Chicago.
Dois anos depois, inventaram o Relógio do Juízo Final, numa época em que as armas nucleares eram consideradas a maior ameaça à humanidade.
Originalmente fixado em sete minutos para a meia-noite, o mais distante que o relógio esteve do apocalipse foi a 17 minutos para a meia-noite, após o fim da Guerra Fria em 1991.
O Conselho de Ciência e Segurança do Boletim analisa diversos dados para formar uma perceção da gravidade das ameaças globais atuais e decidir o quão perto estamos do fim.
Apesar de ter sido criado para alertar sobre a ameaça representada pelas armas nucleares, desde o início dos anos 2000 ele também leva em conta os riscos que as mudanças climáticas e tecnologias disruptivas, como a inteligência artificial, representam para a sociedade.
O Conselho de Ciência e Segurança do Boletim, composto por 17 membros, diz que leva em conta, por exemplo, “o número e os tipos de armas nucleares no mundo, as partes por milhão de dióxido de carbono na atmosfera, o grau de acidez nos nossos oceanos e a taxa de aumento do nível do mar”. O Conselho também considera o quanto os líderes, cidadãos e instituições estão a trabalhar para combater essas ameaças.
Qual é o objetivo do relógio?
Os cientistas por trás do Relógio do Juízo Final procuram incentivar as pessoas e instituições a agir e mantê-las informadas sobre o mundo em que vivem.
Quando, em agosto de 1945, os EUA lançaram bombas nucleares sobre as cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, matando cerca de 100 mil pessoas, deu-se início ao que os cientistas chamam de era nuclear.
Considera-se que os cientistas perceberam ali que haviam criado uma arma de destruição em massa, e que o relógio foi uma tentativa de aumentar a consciencialização sobre os perigos de deixar as tecnologias sem controlo – talvez por se sentirem responsáveis pelo perigo que haviam criado.
Quase 80 anos após a sua criação, os cientistas do Boletim dizem que o objetivo do relógio não é assustar as pessoas, mas mantê-las conscientes.
O Conselho de Ciência e Segurança do Boletim afirma que, embora possa parecer que as ações de um indivíduo são inúteis face à catástrofe sugerida pelo relógio, há coisas que cada pessoa pode fazer para ajudar a atrasá-lo.
O Conselho incentiva os cidadãos a “estarem conscientes” sobre as “tecnologias poderosas que podem destruir o nosso modo de vida”. Também afirma que as pessoas devem partilhar o conhecimento que têm sobre essas tecnologias e ameaças, e incentiva a população a escrever cartas a condenar o gasto de dinheiro público em tecnologias de combustíveis fósseis e armas nucleares.
ZAP // DW