O “Relatório Costa Pinto” argumenta que o Banco de Portugal tinha conhecimento dos problemas do BES e tinha poderes para fazer mais, melhor e mais cedo.
O “Relatório Costa Pinto” tem vindo a ser negado ao público há quase seis anos. Agora, o Observador teve acesso à auditoria à ação do Banco de Portugal (BdP) na queda do Banco Espírito Santo (BES) e retirou as principais conclusões do relatório que quase nunca saiu da gaveta de Carlos Costa, antigo governador do supervisor.
O Banco de Portugal tinha conhecimento dos problemas do Banco Espírito Santo e tinha poderes para fazer mais, melhor e mais cedo, sugere o relatório. O documento é da autoria de João Costa Pinto, antigo vice-governador do BdP.
Os deputados passaram toda a comissão de inquérito do BES a exigir que este relatório lhes fosse entregue, mas sem sucesso.
Apesar dos problemas diagnosticados ao banco, “até fevereiro de 2014 o Banco de Portugal nunca sentiu a necessidade de utilizar de forma mais estrita os poderes que lhe são conferidos”, lê-se no documento com mais de 500 páginas.
O Banco de Portugal detetou “um claro conflito de interesses”, tendo-se verificado “uma acumulação de cargos de administração de sociedades financeiras e não financeiras do Grupo e que estas últimas dependiam de forma muito significativa do financiamento do BES”.
Outra das conclusões é que Ricardo Salgado poderia ter sido afastado da gestão do BES mais cedo. O supervisor entende que tinha instrumentos para intervir na administração do BES “numa gradação que podia ir desde a substituição de administradores até à nomeação de administradores”.
O relatório refere que o Banco de Portugal só se começou a preocupar com o BES Angola quando saíram notícias de que se tinha perdido o rasto a mais de 5 mil milhões de dólares emprestados a beneficiários finais desconhecidos.
“O BES Angola sempre deu lucros e, portanto, nunca foi verdadeiramente uma preocupação da supervisão. E bem? Não, mal! Porque a exposição ao BES Angola, num mercado com aquelas características, era suficiente em termos materiais para ter alertado a supervisão e iniciado uma atuação em tempo útil”, lê-se no documento citado pelo ECO.
Ena! Esse relatório era mesmo um grande segredo, e tem conclusões supreendentes. Quem haveria de pensar que o Banco de Portugal alguma vez poderia saber alguma coisa sobre o que se passa nos bancos?