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Relatório de Pedrógão previu o que aconteceu este domingo

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Paulo Cunha / Lusa

O relatório elaborado para a tragédia de Pedrógão Grande que foi publicado e entregue à ministra da Administração Interna esta segunda-feira já antecipava na síntese das suas recomendações o que aconteceu este domingo no norte e centro do país, e avisava que a tragédia “se pode repetir”.

Segundo o relatório, “tendo em conta que na atual situação de mudança climática, os cenários de seca, de tempo quente, de trovoadas secas e outros fatores agravantes dos incêndios florestais, tendem a ser cada vez mais frequentes, podemos mesmo contar que as condições em que ocorreu a tragédia de Pedrógão Grande se podem repetir“.

A falha do sistema de comunicações no incêndio de Pedrógão Grande “terá contribuído para a falta de coordenação dos serviços de combate e de socorro, dificuldade de pedido de socorro e agravamento das consequências do fogo”, aponta o documento.

O relatório, intitulado “O complexo de incêndios de Pedrógão Grande e concelhos limítrofes, iniciado a 17 de junho”, foi elaborado pelo Centro de Estudos sobre Incêndios Florestais e entregue esta segunda-feira à ministra da Administração Interna.

O relatório, coordenado por Domingos Xavier Viegas, indica que “o sistema de comunicações por rádio e por telefone teve uma falha geral em toda a região, quer por limitações inerentes aos sistemas, como sejam a sua pouca salvaguarda perante a exposição ao fogo, quer por sobrecarga de utilizadores, ou ainda por deficiente utilização de alguns dos sistemas”.

Este facto terá sido “agravado pela indisponibilidade de meios complementares devido a falta de planeamento”, conclui o relatório.

Para o centro de estudos da Universidade de Coimbra, responsável pelo relatório, as comunicações não terão sido um fator decisivo na fase inicial do incêndio em Escalos Fundeiros, desde a sua deteção até cerca das 18:00 ou 19:00 de 17 de junho, altura em que se “perdeu o controlo sobre o incêndio”.

No entanto, adianta, no período crítico entre as 19:00 e as 22:00, “a falta de comunicações, com o Posto de Comando Operacional e entre as forças e entidades no terreno, terá sido muito importante, para a recolha e encaminhamento dos pedidos de socorro e para a coordenação das forças de combate e socorro”.

Não se entende a falta de cuidado de quem tutela as comunicações pois não foi o primeiro relato de colapso das comunicações de que há registo. Mesmo a nível de antenas móveis, não estar nenhuma operacional não pode ser aceitável”, sustenta o relatório divulgado no portal do Governo.

Nesse sentido, o documento coordenado por Domingos Xavier Viegas recomenda que “as operadoras sejam obrigadas a reforçar as comunicações móveis num prazo muito curto de tempo, com o auxílio de antenas móveis como acontece nos grandes acontecimentos desportivos e em outros eventos que envolvam multidões”.

É também proposto que o Sistema Integrado de Redes de Emergência e Segurança (SIRESP) tenha mais antenas móveis e a funcionar, aumente a largura de banda, e eventualmente “socializar os utilizadores da rede a saberem utilizar esta com maior eficiência, de modo a evitar comunicações desnecessárias ou que possam ser feitas em outras redes”.

O relatório sugere igualmente que sejam estabelecidos planos de comunicações para cada teatro de operações e que o SIRESP seja utilizado de forma “serena e em exclusivo para os canais adstritos”.

Relatório omite histórias de mortes

O relatório oficial sobre o incêndio de Pedrógão foi divulgado sem um capítulo, justamente aquele em que são relatados os acidentes pessoais e as histórias das mortes.

A omissão deste capítulo foi feita a pedido da ministra da Administração Interna, que alegou a “necessidade de protecção de dados”, confirmou fonte oficial do Ministério ao jornal Expresso.

“O conteúdo deste capítulo, por motivos relacionados com a Proteção de Dados Pessoais, será disponibilizado oportunamente, logo que seja tornado anónimo”, conforme consta sucintamente na página 149 do documento.

O documento será publicado na íntegra, a pedido das vítimas, depois de apagados os nomes dos envolvidos, e fará o relato detalhado das histórias das mortes das 65 vítimas do incêndio de Pedrógão Grande.

ZAP // Lusa

12 Comments

    • Se chegou ao conhecimento da ministra na segunda feira com é que ela havia de saber no sábado anterior?
      Até eu sou capaz de adivinhar que com as alterações climatéricas que se estão à vista de toda a gente e com a seca contínua, muito grandes incêndios vão surgir. E que não há, nem haverá, meios para os combater eficazmente…

    • Esta “previsão” é só para sublinhar o que é óbvio, não que o relatório servisse para avisar.

      Qualquer pessoa minimamente inteligente è capaz de prever que “pode acontecer uma tragédia destas”.
      Cada um de nós e capaz de prever isto.
      Só não é possivel prever onde, quando e com qual resultato.

      (só um exemplo, o pessoal das VMER, é capaz de prever que vai ter de sair em emergência. aliás, têm a cereteza absoluta. Só não sabem quantas vezes e a que horas, mas que vão, ai isso vão)

      Ora, o problema é exactamente esse: apesar destas previsões, que nem são previsões, são certezas, deixaram passar décadas sem fazer nada.

      O resultado é este.
      Leiam o artigo do Expresso de 29 de Julho sobre o que fizeram os espanhois da Galiza. É muito interessante. Eles gastam 70% do orçamento em prevenção e 30% em combate. Nós gastamos 80% em combate e 20% em prevenção.

      Os espanhóis não são mais espertos. Começaram em 1989.
      Ah, e se calhar contentam-se em não meter 100% ao bolso.

    • Os criminosos são criminosos; não me parece que a estatística aponte maior incidência à direita ou à esquerda.
      E quer direita quer esquerda têm estado no poder nas últimas décadas e NINGUEM fez NADA para resolver o problema estruturalmente.

      Não basta pôr dinheiro “em cima da mesa” para o combate aos incêndios.
      (aliás, é óbvio que issa só aumenta o interesse em que haja muitos incêndios para combater)

      Quando se chega ao combate, é tarde demais!!!

    • esse seu comentario de fanatismo ideologico é apenas despresivel imoral e sem sentido.. apenas em cabeças doentes é que pode passar tal situaçao… esquece se que a direita nao tem sequer a falta de pudor da esquerda, a falta de sentido da vida a falta de sentido dos valores humanos e de patrimonio que a esquerda despresa….
      se a direita quizesse atear fogos… nao seria nas zonas onde a direita tem os seus apoiantes nao acha??? a direita se fosse deitar fogos faria na mata de coina, na serra da arrabida, nos pinhais de palmela, nas matas de santiago do cacem…no monsanto …etc etc… infelizmente a esquerda marxista é que tem o proposito e o habito e o gosto da terra queimada mas nunca a direita . a direita presetrva a vida, a propriedade, os valores cristaos, e e nacionalista ao contrario da esquerda….que para chegar ao poder nao olha a meios .

  1. Eu já vi um fogo a iniciar por uma descarga de fios de média tensão. A comissão independente de certeza que tem as suas razões.
    Os fogos em zona de difícil acesso dos meios terrestres, com o vento e o calor que esteve no dia 15 de Outubro, só com aviões Canadair, mas atacado logo no início. É a única solução. O fogo de Quiaios até Praia de Mira galgou 30 kilómetros em 7 horas não existe bombeiros no mundo para parar tal tragédia. Depois andam os boys e os jotas dos partidos da esquerda à direita que não têm qualquer conhecimento de causa a largar larachas.
    Para acudir aos bancos há sempre dinheiro. Para equipar o país com meios aéreos necessários para combater este flagelo não há. É triste

  2. Vamos conhecendo aos poucos ( e é bom que seja assim) algumas partes do conteúdo do relatório.
    Por esses excertos que já li, parece profissional e concreto, também independente.
    Oxalá AJUDE a tomar medidas, caíram já os primeiros pingos de chuva, no que ( S. PEDRO …) ajudou mas que também deixa margem para ajudar a relaxar, até mesmo esquecer.

  3. Tenho que comentar o comentário do “Viajante”: essa “direita” a que se refere já não existe, isso poderá ter acontecido há umas décadas, hoje a direita é democrática, actua pela opinião e convicções a que tem direito e não através de violência. Como SABE (???) os CRIMINOSOS não têm partido ou estão em TODOS.
    Note que não sou de “direita”…

  4. Por palpite, atrevo-me a expressar a minha opinião acerca do assunto dos incêndios.
    Nem os bombeiros, meios aéreos, proteção civil, ministros ou governo com SIRESP ou radios de bandas xx ou telemóveis foram tão organizados como os incendiários.
    Para mim existe uma evidente planificação no iniciar dos incêndios e uma atrapalhação tão grande no combate, que não pode ser coincidência, resta saber a quem interessa mais o resultado que está à vista, e qual a organização que tem uma mão no crime e a outra na autoridade para provocar tamanha calamidade. Seja quem for, a punição severa dos culpados é obrigatória, e é acima de tudo uma demonstração de respeito para com todos os Portugueses, muito especialmente para com as vítimas.
    Esta atroz incompetência, também não pode continuar, quem deve ter o CONTROLO no combate aos incêndios devem ser os BOMBEIROS e não qualquer usurpador de tacho que por pretender auferir um gordo ordenado, pede um cargo na direção das varias entidades que supostamente nos deveriam providenciar proteção.
    OS PORTUGUESES NÃO MERECEM ISTO !!!!!!!!

  5. Concordo com a análise do FERVAL, o problema também me parece ser da usurpação de poderes e incompetências dos usurpadores. Os dividendos que daí saem devem ser irresistíveis. Parece-me também que, para se manterem os poderosos nos cargos, usurpam também funções que não lhe competiam. Falo das competências dos bombeiros que me parecem ter sido desviadas para a protecção civil. Quem me parece ter competências para decidir o que fazer em caso de incêndios são aqueles que os apagam. Depois temos os nomes muito pomposos como a “fase Chalie”. O clima não muda por decreto, os meios têm que ser adaptados ao sabor do clima e não o contrário. Por fim temos a impunidade de quem faz estas atrocidades, basta pedir a demissão ou resignar ao cargo para que todas as responsabilidades se esfumem. O que se tem estado a esfumar são as florestas, mais importante, as casas e o desespero daqueles que se viram sem nada, e ainda mais importante, as vidas humanas das vítimas.
    Esta política de combate aos incêndios já se mostrou ineficaz e, como diz a canção, “é já tempo de embalar a trouxa e zarpar”, venha sangue novo com ideias novas.

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