O Bloco de Esquerda assumiu este sábado que a relação com o PS “nunca foi fácil” e recusou que a perda de votos e a falta de um acordo de maioria parlamentar possam ser encarados como uma derrota do partido.
No final da reunião da Mesa Nacional, órgão máximo do partido entre Convenções, a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, reconheceu que o partido teria preferido a repetição de uma maioria parlamentar negociada para quatro anos, como existiu na anterior legislatura.
“Como sabem, o BE propôs um acordo de maioria parlamentar, provou ser um instrumento útil capaz de ultrapassar turbulências políticas e capaz de ter horizontes de recuperação de rendimentos. Essa não foi a vontade do PS, que prefere negociar caso a caso, pode fazê-lo, teve votos para o fazer”.
Questionada por várias vezes se a falta de um acordo formal de legislatura tornará mais difícil a relação com o PS, a líder do BE nunca respondeu diretamente. “O PS e o BE são partidos muito diferentes, que trabalharam em conjunto. Nunca foi fácil essa relação e nunca deixámos de assumir a necessidade da convergência quando foi para responder ao que é importante”, afirmou a bloquista.
Catarina Martins rejeitou, no entanto, a leitura de que o resultado das eleições – com reforço do PS, perda de cerca de 50 mil votos e a falta de um acordo de maioria – possa “saber a derrota” para o BE. “Não o vimos assim na mesa nacional do BE, muito pelo contrário. O PS não teve maioria absoluta e, num cenário em que o BE com o desgaste de ter estado numa solução de maioria parlamentar, consegue manter meio milhão de votos e afirmar-se como terceira força política em todo o país”.
Ainda sem nova reunião marcada com o PS, a líder do BE recusou acusar os socialistas de falta de transparência na falta como recusaram continuar o processo negocial, dias depois de um primeiro encontro entre António Costa e Catarina Martins. “O PS anunciou que não queria um acordo. Desse ponto de vista, foi bastante transparente”, afirmou.
Para o próximo Orçamento do Estado, a líder do BE deixou já algumas prioridades. “Aqui estaremos para negociar um Orçamento que possa recuperar salários e pensões, que possa responder à enorme urgência do Serviço Nacional de Saúde, aqui estaremos para que haja investimento público que possa dar uma resposta mais forte nos transportes e à crise na habitação”, disse.
Catarina Martins assegurou ainda que o partido estará atento, na próxima legislatura, à regulamentação e dotação orçamental de diplomas como as leis de bases da saúde e da habitação, o estatuto dos cuidadores informais, bem como para “tirar conclusões da comissão de inquérito sobre as rendas e baixar o preço da energia”.
Sobre o futuro Governo, cujos ministros foram conhecidos na terça-feira, a coordenadora do BE salientou que “mais do que os nomes o que contam são as políticas”. “Teremos de esperar para ver quais são os percursos e se o PS pretende dialogar à esquerda ou, se pelo contrário, prefere dialogar à direita”, avisou.
A Mesa Nacional fez uma leitura detalhada dos resultados do Bloco e concluiu que, apesar da perda de cerca de 50 mil votos em relação há quatro anos, o partido registou um reforço na maioria dos distritos e consolidou-se como “terceira força política em Portugal”.
De acordo com os resultados globais provisórios disponíveis na página da Secretaria-Geral do Ministério da Administração Interna, o BE obteve, nas eleições legislativas de 6 de outubro, 9,52% e elegeu 19 deputados, correspondentes a pouco mais de 500 mil votos, menos 50 mil do que há quatro anos (quanto teve 10,19% e os mesmos 19 deputados).
A Mesa do BE debruçou-se ainda sobre questões internacionais, como a situação na Catalunha, reiterando a posição da Comissão Política do partido, segundo a qual a condenação efetiva do exercício de direitos políticos “representa um ataque aos princípios fundadores do Estado de Direito democrático”.
Por outro lado, os bloquistas condenaram “a ocupação turca do Curdistão” e instam o Governo português a declarar os membros da Missão Diplomática da Turquia em Portugal como ‘personas non gratas’, manifestando ainda solidariedade para com as manifestações populares no Equador e em Hong Kong.
// Lusa