A coordenadora do Bloco, Catarina Martins, diz que o PS “não quis” assinar um acordo, apesar das reuniões que realizou com os partidos de esquerda.
“É bastante simples: em 2015, tivemos um acordo (ou vários) que permitiram uma maioria parlamentar durante quatro anos. Agora, o PS, tanto na noite eleitoral como na quarta-feira [da semana passada], disse que estava disponível para negociar um acordo”, começou por dizer em entrevista ao Expresso, a primeira depois das legislativas.
“Mas depois, muito rapidamente e sem fazer qualquer contraproposta ao BE, disse que afinal não queria. Na minha convicção, o PS teve sempre no horizonte não fazer acordo de maioria, mas conseguir esta negociação pontual no Parlamento”, afirmou.
Após a reunião com Costa, recorde-se, o Bloco mostrou-se disponível para dois cenários: firmar um acordo de legislatura ou analisar medida a medida. Os bloquistas, contudo, disseram preferir repetir uma acordo pela estabilidade do país. Em sentido oposto, o PCP recusou qualquer acordo – verbal ou escrito -, à semelhança do que tinha acontecido na última legislatura como a geringonça.
Na mesma entrevista, Catarina Martins diz que o PS já sabia à partida que os comunistas não queriam um acordo formal, deixando críticas a Carlos César.
“Não sei do que é que o PS estava à espera do BE. Para nós, naturalmente, teria de ser sempre um acordo com uma negociação, e uma negociação exigente, como foi há quatro anos. Ouvi esta semana Carlos César dizer que o acordo é afastado porque o PCP não quis acordo. Na noite eleitoral já o PS sabia que o PCP não queria acordo… Na quarta-feira, quando nos reunimos e o PS disse que iria pensar na nossa proposta, o PS já sabia que o PCP não queria…”, disse, recusando falar em encenação do PS.
No entender da bloquista, as reuniões que o PS teve com os partidos de esquerda serviram para não “não frustrar as expectativas dos portugueses” sobre uma nova geringonça.
“Há noção de que existe uma enorme expectativa popular à esquerda da reedição da geringonça. E o PS não quis frustrar essa expectativa num momento pós-eleitoral. Mas também ficou muito tentado pela hipótese de recolher sozinho os louros do trabalho que foi feito em conjunto nestes quatro anos e de ficar mais liberto para o seu caminho”.
Alterações laborais, revisão das carreiras especiais na função pública e o investimento são as questões mais “complicadas” que poderão marcar futuras negociações entre bloquistas e socialistas, admitiu Catarina Martins.
Quanto à composição do novo Governo, Catarina Martins não se alongou muito, dizendo apenas que o que vale “são as políticas, muito mais do que as pessoas”.