As Universidades estão sem dinheiro para colocar investigadores nos quadros. Reitores acusam o Estado de ignorar e não criar condições para ajudar o setor.
O Conselho de Reitores das Universidades Portuguesas (CRUP) pede condições que lhes permitam celebrar contratos, por tempo indeterminado, com investigadores que trabalhem nas universidades.
Ao Diário de Notícias, o reitor da Universidade do Porto e presidente do CRUP, António Sousa Pereira, pede o auxílio do Estado para “a criação de uma carreira de investigação própria no interior das universidades”.
Num parecer enviado pelo CRUP ao Ministério da Ciência, Tecnologia e Ensino Superior, no início deste mês, as universidades propuseram que “parte do financiamento que suporta a atividade dos investigadores apoiados pela Fundação para a Ciência e Tecnologia (FCT) passe a ser transferido e regularmente integrado no orçamento das universidades“.
António Sousa Pereira disse ao DN que, a partir do início do próximo ano letivo, vão multiplicar-se os términos de contratos dos investigadores e, por isso, é necessário resolver a questão “com a máxima urgência”.
Apesar de o reitor reconhece a existência de investimento por parte do Governo na investigação, refere que este falha por não ter continuidade.
“O que nos pedem é para assumir uma despesa fixa com uma receita inexistente. Estamos cada vez mais limitados, até as propinas foram congeladas pela Assembleia da República. Querem que as universidades vão buscar dinheiro onde para contratar estes investigadores? Não têm dinheiro“, diz António Sousa Pereira.
“Quem propôs isto não mediu as consequências. Quem assume isto pode até incorrer num crime de má gestão. Nós estamos interessados em ser parte da solução, mas temos de ter um papel ativo. Queremos soluções para termos um arranque de ano letivo mais tranquilo”, reivindicou o reitor.
“Vamos assistir a uma sangria com consequências desastrosas”
O CRUP está a prever de 500 a 600 aposentações por ano de docentes do Ensino Superior, o que trará “problemas sérios num futuro próximo”.
Além disso, os salários não são competitivos quando comprado com os do privado.
“As pessoas fazem as contas e vão embora e eu compreendo. Já não há concurso de progressão. Vejo com muita preocupação o futuro da academia. Vai ser difícil ou quase impossível contratar em igual número de saídas. Temos muita dificuldade em contratar e em contratar os melhores”, diz António Sousa Pereira.
O presidente do CRUP diz que alertou “durante anos” para a falta de professores do Ensino Secundário e agora está a suceder-se o mesmo com o Ensino Superior: “Temos uma situação que se agrava de dia para dia, com falta de professores em várias escolas. Nós avisamos. E agora estamos a avisar que no Ensino Superior vai acontecer a mesma coisa”.
O Ministério lançou a sugestão de de transferir investigadores para a área da docência, mas António Sousa Pereira ironiza, dizendo que é uma ideia “caricata”.
“Se tiver funcionários em excesso na padaria, não os passo para o talho. As contas devem ser feitas com ponderação e com estudos. Vai haver muitas áreas com falta de professores no Ensino Superior”, diz o reitor da Universidade do Porto.
“O Governo tem de olhar para isto, acompanhar e ir atrás do que está a acontecer na iniciativa privada, porque vamos assistir a uma sangria com consequências desastrosas. Esta política tem de ser encarada de frente e não é com mais 100 ou 200 euros de salário que se muda algo”, rematou António Sousa Pereira.
«…O primeiro inimigo do pensamento é uma instituição pública poderosíssima, que é a universidade.
Encontrei um antigo Ministro da Educação e aliás um, parece que um grande vulto aqui da televisão Portuguesa, que me disse assim: Você andou aí a propor a extinção da universidade, é a coisa mais fácil que existe no Mundo, é só fechar a porta, lá dentro não há nada.
Isto quem me dizia, como calculam, era o Sr.º José Hermano Saraiva…» – Orlando Vitorino