A Confederação da Indústria Britânica avisou que o Reino Unido e a União Europeia (UE) não estão preparados para o Brexit, num relatório em que apresenta 200 recomendações para os empresários se prepararem para um cenário de saída sem acordo.
No relatório, a confederação disse que, apesar dos milhares de milhões já gastos em planos de contingência, as empresas continuam a ser prejudicadas por conselhos, calendários e custos pouco claros, noticiou o Expresso na segunda-feira.
Citado na segunda-feira pela Sky News, o vice-diretor-geral daquele grupo, Josh Hardie, lembrou que “as empresas estão desesperadas por ultrapassarem o Brexit“.
“Elas acreditam profundamente no Reino Unido e conseguir um acordo abrirá muitas portas que foram fechadas pela incerteza. Encontrar um caminho e chegar a um acordo não podem estar para lá da capacidade dos maiores negociadores do continente. Mas, até que isto se torne uma realidade, todas [as empresas] devem preparar-se para deixar [o espaço comunitário] sem um acordo”, sublinhou.
A confederação estima que 24 das 27 áreas da economia britânica irão sofrer rutura num cenário sem acordo, dizendo: “Embora os preparativos do Reino Unido sejam bem-vindos, a natureza sem precedentes do Brexit significa que alguns aspetos não podem ser mitigados”, lê-se no artigo.
A venda de alimentos orgânicos é um dos problemas potenciais de uma saída sem acordo com Bruxelas, referiu a televisão britânica. Os importadores precisarão de licenças especiais para operar como empresas não estabelecidas na UE. Se essas licenças não estiverem em vigor antes de o Reino Unido abandonar o espaço comunitário, as empresas poderão ficar fora dos mercados europeus durante períodos de até quatro meses.
Brexit sem acordo é uma “perspetiva muito real”
O Governo do recém-empossado Boris Johnson está “a trabalhar no pressuposto” de que o Reino Unido deixará a UE sem um acordo, segundo o ministro Michael Gove, que é, na prática, o número dois do novo primeiro-ministro.
Em artigo escrito para o Sunday Times, Michael Gove, que foi incumbido por Boris Johnson de acelerar os preparativos para um Brexit sem acordo, sublinhou que este cenário é agora uma “perspetiva muito real”.
Entretanto, o antigo ministro para o Brexit David Davis defendeu que aquele cenário apresenta mais oportunidades do que riscos, advertindo que a UE é o parceiro da negociação que corre mais riscos.
Segundo o ex-governante, que este fim de semana assinou um artigo no Telegraph intitulado “Os riscos de um Brexit sem acordo são menores do que os ganhos potenciais”, será a UE a 27 que perderá a maioria dos empregos, estimando em cerca de 422 mil os postos de trabalho em risco.
“Os países da Europa estão a arriscar mais do que nós nisto. Nunca se pode prever com fiabilidade o que fará uma instituição idiossincrática como a Comissão Europeia mas o meu palpite é que, logo após uma saída sem acordo, eles irão estar de volta à mesa das negociações. E à procura de um acordo”, acrescentou David Davis.