A discussão de sexta-feira com a namorada está a afetar a campanha de Boris Johnson à liderança do Partido Conservador britânico. Desde quinta-feira, o ex-ministro caiu de uma vantagem de 27 pontos percentuais nas sondagens para apenas 11 pontos.
“As pessoas não querem saber nada sobre isso [a discussão com Carrie Symonds]. Acho que preferem ouvir os meus planos para o país e para o partido”. Foi desta forma que Boris Johnson reagiu às perguntas sobre o que terá levado a polícia a aparecer em casa da sua namorada, de 31 anos, na madrugada de sexta-feira depois de os vizinhos terem ouvido uma intensa discussão, gritos e sons de pratos a partir, avançou o Observador.
No entanto, uma sondagem do Daily Mail mostrou que o eleitorado quer saber e não gosta da ausência de explicações. Desde quinta-feira, o ex-ministro dos Negócios Estrangeiros do Reino Unido passou de uma vantagem de 27 para 11 pontos percentuais.
Esta sondagem foi feita junto dos eleitores conservadores, que vão decidir quem substitui Theresa May como líder do Partido Conservador e como primeira-ministra. São cerca de 160 mil militantes que podem escolher quem vai liderar o partido e o país. A menos de um mês da votação final, Boris Johnson está a perder terreno para Jeremy Hunt, que o substituiu quando deixou o cargo de Ministro dos Negócios Estrangeiros.
A corrida, que agora é só a dois, é partidária mas também diz respeito a todo o país. Quem vencer o partido fica também com o número 10 de Downing Street. E é aqui que Boris Johnson sofre a maior queda. É que junto do eleitorado britânico, não apenas dos conservadores, o polémico candidato passou para trás de Jeremy Hunt.
Na quinta-feira, Boris Johnson somava 36% das intenções de voto contra 28% de Jeremy Hunt. Nesta última sondagem as posições alteraram-se, passando o segundo para 32%, com o primeiro a cair para 29%.
A discussão com a namorada na madrugada de sexta-feira é já um dos assuntos desta campanha, que ainda vai durar quase um mês, já que os resultados serão conhecidos no dia 22 de julho. Os efeitos do caso, ainda imprevisíveis, serão determinantes para decidir o destino que os votos dos conservadores vão tomar, antecipou o Telegraph.
Boris Johnson, de 55 anos, foi, desde o primeiro momento, o grande favorito à vitória, mas a vantagem com que contava tem vindo a estreitar-se ao mesmo tempo que a popularidade de Jeremy Hunt tem vindo a aumentar.
Segundo escreveu o Guardian, há vários senadores do partido que começam a questionar a apetência de Boris Johnson para o cargo de primeiro-ministro. A imprevisibilidade e a tempestuosidade do candidato voltaram ao de cima com este caso e suscitaram dúvidas mesmo junto daqueles militantes que consideravam o seu voto decidido.
O ex-ministro dos Negócios Estrangeiros Alan Duncain, que chegou a trabalhar com Boris Johnson, questionou as condições que o candidato tem para seguir em frente sem dar explicações sobre o incidente. “Ele tem agora um grande ponto de interrogação em cima da cabeça”, o que, aliado “à falta de disciplina que marcou a sua carreira”, pode ser fatal para as pretensões do candidato.
Uma consideração com que o histórico ex-ministro conservador Malcolm Rifkind concordou. “Se alguém é candidato a primeiro-ministro e tem a polícia a ser chamada a sua casa – de forma justa ou injusta, o que interessa neste caso é que se tratou de uma visita policial – não pode responder apenas que não tem comentários a fazer. Isso pode significar que o candidato tem algo a esconder ou que não quer divulgar”, afirmou à BBC.
Embora faltem vários dias para a decisão final, o caso promete não deixar de pairar na campanha de Boris Johnson, que está a ser pressionado internamente para vir a público prestar esclarecimentos, de forma a esfriar a polémica e a especulação. Resta saber se o fará e que consequências terá para o que falta de campanha, salientou o Observador.
“Não sejas um cobarde”, pediu Jeremy Hunt
Jeremy Hunt pediu a Boris Johnson que não fosse um “cobarde”. Num artigo para o Times, escreveu que não tinha interesse em discutir a vida privada do rival, apenas em debater os planos para o Brexit – por exemplo, esta terça-feira na Sky News, avançou o Expresso.
“Um novo primeiro-ministro precisa da legitimidade de ter tornado os seus argumentos públicos e de os ter submetido a escrutínio. Só então se pode entrar pela porta da frente do número 10, de cabeça erguida, em vez de se esgueirar pela porta dos fundos, que é o que o Boris parece querer”, acrescentou.
E reforçou: “Não sejas cobarde, Boris. Faz-te um homem e mostra à nação que consegues lidar com o escrutínio intenso que o trabalho mais difícil do país envolverá”.
No mesmo dia, disse à Sky News que qualquer candidato a primeiro-ministro precisa de mostrar que é capaz de responder a “perguntas difíceis”. “O que o Boris precisa de fazer é envolver-se adequadamente nesta disputa pela liderança e não fugir do debate ao vivo marcado para a noite desta terça-feira, para o qual foi convidado e para o qual eu já me mostrei disponível. Esta é uma audição para ser o primeiro-ministro do Reino Unido”.
Boris Johnson continua sob pressão para explicar por que motivo a polícia foi chamada na sexta-feira à casa. No seu artigo para o Daily Telegraph, tentou esta segunda-feira desviar as atenções das questões pessoais para as políticas: “Temos de deixar a União Europeia (UE) a 31 de outubro, dê por onde der. Isso honrará o resultado do referendo e focará as mentes dos negociadores da UE. É absolutamente vital mantermos os olhos no prémio. Tem sido um caminho longo e sedento, mas o oásis está finalmente à vista”.
“Estamos a pouco mais de quatro meses da data em que, por lei, temos de deixar a UE e, desta vez, não vamos falhar. Desta vez, não nos vamos encolher de medo da saída, como fizemos nas duas últimas ocasiões”, frisou.
Até parece que (uma parte) dos ingleses se preocupa mais com uma discussão deste gajo com a namorada, que com as idéias que lhe vão na cabeça descabelada.
É que é mais que uma discussão da vida privada dele, ele pode ser tempestuoso e não saber como dirigir os problemas de uma nação sem ser a atirar pratos contra a parede.