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Há uma rede de túneis gigante que impede Hong Kong de inundar (mas pode não ser suficiente)

Parte de uma rede de drenagem inovadora de 3,1 mil milhões de euros, há um túnel que percorre quase toda a extensão da Ilha de Hong Kong e que salvou a cidade de inundações que custariam vidas e causariam destruição generalizada.

De acordo com a CNN, cavado com duas enormes máquinas de perfuração de túneis ao longo de cinco anos, tendo sido iniciado em 2007, o túnel de 10,5 quilómetros de comprimento, resolveu um problema básico, mas urgente, que enfrenta uma das cidades mais húmidas da Ásia: chuva.

Hong Kong recebe cerca de 2.400 milímetros por ano, de acordo com o Departamento de Serviços de Drenagem (DSD). Cerca de 80% da água cai em apenas alguns meses.

“Este túnel interceta cerca de um terço das chuvas na área norte de Hong Kong”, disse Alex Lau, engenheiro de drenagem, em declarações à CNN. “Temos cerca de 34 entradas e toda a água intercetada será desviada para o túnel e transportada até ao mar“.

Porém, construir esta rede numa das cidades mais densas do mundo não foi fácil. A Ilha de Hong Kong já era cortada por túneis, transportando o sistema de metro da cidade e acomodando estradas que cortam a paisagem montanhosa. Assim, o Túnel de Drenagem Ocidental de Hong Kong atravessa as colinas atrás da cidade.

Os engenheiros tiveram de escorar terreno inseguro acima do túnel para evitar que a água escapasse e fizesse com que partes dele desabassem. Para enfrentar a dificuldade de construção de entradas de túneis em áreas urbanas densas, decidiram cavar para cima dos túneis e extrair cascalho e entulho que caíram da rede subterrânea para evitar causar muita perturbação na rua.

Um dos maiores tanques de armazenamento em Hong Kong fica por baixo de um dos seus marcos mais conhecidos: o Hipódromo Happy Valley, onde, antes do coronavírus, dezenas de milhares de jogadores apostavam em corridas semanais de cavalos.

A câmara parece um amplo estacionamento subterrâneo vazio e pode conter até 60 mil metros quadrados de água – equivalente a 24 piscinas. Parte da água é recolhida e reutilizada para irrigação e descarga de sanitas em conjuntos habitacionais próximos.

O reservatório protege alguns dos imóveis mais caros da cidade contra inundações, principalmente o hipódromo.

Rede de túneis pode não ser suficiente

O verão em Hong Kong é quente, mas as altas temperaturas são quebradas por tufões e chuvas, durante os quais a cidade sofre chuvas torrenciais.

Hong Kong tem um sistema de alerta codificado por cores para tempestades de âmbar a preto, emitido pelo Observatório e enviado para milhões de residentes. Partindo de um sistema implantado em 1967, os avisos alertam as pessoas para evitar deslocamentos desnecessários devido ao perigo de acidentes rodoviários ou deslizamentos causados pela chuva em algumas partes montanhosas da cidade.

A forte urbanização piorou as inundações, uma vez que grandes áreas de solo natural foram pavimentadas, trocando a relva solúvel e lama por betão e asfalto que, em vez de absorver a chuva, permite que a água se acumule em poças ou cause enchentes.

Todos os anos, durante as chuvas de verão, as tempestades são desviadas pelos túneis e a água é armazenada em tanques, mas podem devastar partes da vizinha Guangdong. Hong Kong não é o único a lidar com enchentes de forma eficaz e os engenheiros da cidade colaboram regularmente com parceiros internacionais e regionais para partilhar melhores práticas e soluções.

Isto é cada vez mais importante à medida que as mudanças climáticas trazem um clima mais imprevisível e perigoso.

Edward Ng, professor de arquitetura da Universidade Chinesa de Hong Kong, disse que algum trabalho foi feito para reforçar as defesas de Hong Kong, mas que são necessários “centenas de milhões de dólares” para defender adequadamente a costa.

Richar Leung, o engenheiro sénior do DSD, também concorda as defesas atuais da cidade são suficientes apenas no presente.

Além de dar continuidade a obras de engenharia como construção de tanques e túneis, Leung acredita que ajustes no design e na arquitetura da cidade podem ajudar a combater os riscos das mudanças climáticas. Essas soluções podem incluir pavimentos porosos, áreas húmidas protegidas, jardins tropicais e telhados verdes, uma vez que todos podem ajudar a absorver a chuva.

As chamadas “cidades esponja” já foram testadas na China com algum sucesso.

Mesmo que a crise climática leve ao aumento do nível do mar e graves inundações em algumas partes do mundo, também está a ter um grande efeito nos recursos hídricos globais, com um maior número de países a enfrentar crises extremas de água.

Leung considera que, em cidades como Hong Kong, que são inundadas por chuvas, é necessário repensar como lidar com a água. Além de apenas intercetá-la e desviá-la, deveria haver mais táticas para armazená-la, purificá-la e reutilizá-la, reduzindo a pressão sobre os recursos hídricos existentes.

No momento, parte da chuva é reutilizada para irrigação e descarga, mas a maior parte ainda é despejada no mar, uma situação amarga para uma cidade que importa mais de 70% da sua água doce do outro lado da fronteira com a China continental.

ZAP //

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