A Polónia quer comprar e renovar a casa de campo francesa de Marie Curie e transformá-la num museu, naquele que é um esforço para reivindicá-la como génio científico e pioneira polaca.
Embora tenha nascido na Polónia, a primeira mulher a ganhar um Prémio Nobel passou a maior parte da sua vida em França. Quando não estava a fazer experiências com os elementos radioativos, Marie Curie passava os fins de semana e feriados em família, a pedalar e a caminhar no campo numa comuna montanhosa nos arredores de Paris.
Agora, como conta o jornal britânico The Times, o governo polaco quer comprar a sua antiga casa de campo e remodelá-la como parte da história nacional da Polónia – apesar de estar em solo francês.
“Este local é parte da história polaca”, disse Mateusz Morawieci, primeiro-ministro da Polónia, acrescentando que o Ministério das Relações Exteriores tinha diplomatas em Paris a trabalhar na compra que deverá custar inicialmente até um milhão de euros.
Jacek Saryusz-Wolski, um eurodeputado do partido governante Lei e Justiça da Polónia, sugeriu que o local poderia tornar-se um museu da “Grande Polónia”.
“A nossa identidade e história devem ter os seus sinais físicos visíveis na Europa para compensar o tempo roubado de nós por partições, ocupações e omissões. Caso contrário, a falsa narrativa da Casa da História Europeia do Parlamento Europeu prevalecerá”, disse, referindo-se a um museu da União Europeia inaugurado em Bruxelas em 2017.
A casa em Saint-Rémy-lès-Chevreuse, um subúrbio a 32 quilómetros a sudoeste de Paris, servia como uma fuga da cidade para a cientista, que é conhecida na Polónia como Maria Sklodowska-Curie.
“Por dentro, a atmosfera é especial. Tem-se a impressão de estar noutra época”, disse Daniel Cazou-Mingot, diretor de uma imobiliária local, ao jornal francês Le Parisienne.
Segundo Cazou-Mingot, acreditava-se que o teto pintado era obra da própria Curie e que a propriedade ainda continha um fogão de pedra da época feito na Prússia e o seu piso original.
Marie Curie nasceu em 1867 num apartamento em Varsóvia que, no centenário do seu nascimento, tornou-se um museu com os seus pertences pessoais e cartas. No entanto, aos 24 anos, partiu para Paris porque a Universidade de Varsóvia, na época sob ocupação czarista russa, não aceitava mulheres.
A polaca formou-se em física na Sorbonne, onde mais tarde se tornou a sua primeira professora. Obteve a cidadania francesa após casar com Pierre Curie.
Marie Curie tornou-se a primeira mulher a ganhar um prémio Nobel da Física em 1903 pelo trabalho da sua equipa sobre radioatividade, seguido por um prémio em 1911 em química pela sua descoberta dos elementos polónio e rádio. Embora nunca tenha regressado à Polónia, batizou o primeiro elemento que descobriu polónio “em homenagem” à sua “pátria”.
A sua velha casa de arenito áspero, que foi construída por volta de 1890, está à venda por 790 mil euros e provavelmente exigirá mais 200 mil para ser renovada.
De acordo com Daniel Cazou-Mingot, é necessária “uma sensibilidade especial” para ver além das tábuas do piso que rangem.