Depois de a Diretora-Geral de Saúde ter referido a recomendação do uso de máscara nos recreios das escolas, a comunidade escolar levantou a questão de se esta deverá ser obrigatória ou facultativa.
Graça Freitas foi ontem ouvida em Comissão Parlamentar, a pedido do PSD, sobre a obrigatoriedade do uso de máscaras.
A diretora da DGS admitiu o fim do uso de máscara, mas recomendou a sua utilização em aglomerados e recreios. Graça Freitas referiu-se ainda à importância da “mobilização social e da ética dos cuidados individuais de cada um”.
Após estas declarações, alguns elementos da comunidade escolar ficaram na dúvida sobre que medidas seguir no arranque do ano letivo.
O “Referencial Escolas – Controlo da transmissão de COVID-19 em contexto escolar”, para o ano letivo 2021/2022, publicado a 31 de agosto pela DGS, refere o uso da máscara como obrigatório em todos os espaços escolares, para as crianças e jovens a partir dos 10 anos, e “no caso dos alunos a partir do 2.ºciclo do ensino básico, independentemente da idade”.
Neste sentido, David Sousa, vice-presidente da ANDAEP (Associação Nacional de Diretores de Agrupamentos e Escolas Públicas), explica ao Diário de Notícias que o uso obrigatório das máscaras nos espaços exteriores das escolas é a medida que está em vigor.
“As orientações de 31 de agosto são claras em relação ao uso da máscara. As declarações da diretora-geral da Saúde não parecem estar de acordo com o que está escrito. Do ponto de vista das orientações escritas, é muito claro: a máscara é obrigatória. A expressão usada na audição não deveria ter sido “recomendável”, mas sim “obrigatória””.
O responsável diz ainda ao DN que “enquanto não houver um documento escrito dizendo o contrário, é isso que as escolas devem cumprir” e será esta a decisão que a ANDAEP “vai recomendar manter nas escolas”.
Por sua vez, Jorge Ascenção, presidente da CONFAP (Confederação Nacional das Associações de Pais), pede maior clareza nas medidas a adotar nas escolas.
“Cria alguma incompreensão nas escolas para saber se usam ou não a máscara, se são obrigados ou não a usá-la nos recreios. As decisões devem ser explicadas claramente e deve ser esclarecido, também, o que está na base das mesmas” refere ao mesmo jornal.
O dirigente diz ainda ter ficado “surpreendido” com as declarações de Graça Freitas, apesar de “confiar nas autoridades de saúde”. Para Jorge Ascenção, “os jovens precisam de descanso da máscara, de descontrair nos intervalos” e a sua “utilização nos espaços exteriores vai gerar confusão”.
Numa altura em que aulas estão à porta, o pessoal docente e não docente começou a ser testado na segunda-feira, num processo que termina no dia 17.
“Maioria vai usar máscara”
Apesar de a partir da próxima segunda-feira não ser obrigatório andar de máscara na rua, vários médicos de saúde pública acreditam que esta continua a ser uma das melhores armas para travar a propagação do vírus e aconselham que a população a use, sobretudo em contextos de aglomerados.
Ainda que a obrigatoriedade vá ser posta de parte, os especialistas acreditam que a maior parte da população irá continuar a fazer uso do material de proteção facial.
“A Associação Nacional dos Médicos de Saúde Pública (ANMSP) acredita que haverá uma parte da população que não irá usar a máscara, o que é normal, mas grande parte vai reconhecer a importância da sua utilização para a contenção da covid-19 e de outras doenças respiratórias. A maioria vai continuar a usar a máscara no exterior de forma voluntária”, assegurou ao DN Gustavo Tato Borges, presidente em substituição da associação.
A ANMSP recomenda o uso da máscara no espaço exterior, “sempre que não for possível garantir os dois metros de distanciamento das outras pessoas”.
O virologista Pedro Simas defende, em declarações ao mesmo jornal, que a máscara deveria ter deixado de ser obrigatória quando se ultrapassou os 60 % da população totalmente vacinada, a exemplo do que fizeram o Reino Unido e Israel.
“A partir do momento em que os grupos de risco estão vacinados, diminuem exponencialmente as consequências graves da doença. E é bom que o coronavírus circule entre a população vacinada, uma vez que reforça a imunidade”.
Espera-se que a imunidade de grupo seja alcançada a partir dos 85 % da população vacinada, apenas ficando de fora os que têm menos de 12 anos.
Médicos de família aguardam informação
A Associação de Medicina Geral e Familiar saudou esta quarta-feira o regresso dos profissionais às suas unidades com a desativação dos centros de vacinação, mas apelou para que estes sejam informados das novas tarefas para que “tudo corra sem sobressaltos”.
Para o presidente da Associação Portuguesa de Medicina Geral e Familiar (APMGF), Nuno Jacinto, a desativação destas estruturas vai permitir o regresso de muitos enfermeiros e médicos de família às suas unidades.
“Isto é sem dúvida positivo, porque estiveram durante muitos meses alocados aos centros de vacinação”, disse, sublinhando que os centros de saúde continuam a ter a necessidade de realizar toda a sua atividade normal, que faziam antes da pandemia e que já ocupava todos os seus recursos.
O que vai acontecer, observou Nuno Jacinto, é que, “quando estes profissionais regressarem, têm todas essas tarefas para executar, até porque muitas delas foram ficando mais para trás ao longo destes meses”.
Acresce a esta situação, o facto de ainda ser preciso vacinar contra a covid-19 algumas pessoas, administrar as doses de reforço para os utentes que têm essa indicação e uma eventual terceira dose para os idosos, ainda por decidir.
“É mais uma tarefa que os centros de saúde vão ter que fazer”, observou, observando que não se pode “estar sempre a pensar” que se tira umas tarefas para colocar outras, porque “isso vai manter as equipas sempre numa enorme sobrecarga”.
Ressalvou, contudo, que será “sem dúvida melhor” que os profissionais estejam no centro de saúde, que continuam com “muita, muita coisa para fazer”.
“Ter mais esta vacinação pandémica vai obrigar a novos circuitos, recursos logísticos, que ainda têm de ser esclarecidos, rede de frio. Enfim múltiplas coisas que ainda precisam de ser esclarecidas para que tudo corra sem sobressaltos”, declarou.
O presidente da APMGF disse ainda não saber exatamente quando é que se vai poder vacinar estes utentes, como serão os horários de vacinação e que vacinas estarão disponíveis.
“Certamente que isso estará a ser tratado com as ARS [Administrações Regionais de Saúde] com os ACES [Agrupamentos de Centros de Saúde] e quando os centros de vacinação forem desativados essa informação já estará passada às equipas e as equipas terão tempo para se preparar”.
“O que nós pedimos sempre é que não façam as coisas sem nos avisar e não nos digam de um dia para o outro e tenham em consideração as nossas dificuldades, porque se não acaba por ser muito difícil cumprir aquilo que é exigido e responder àquilo que os utentes nos pedem”, sustentou.
Relativamente à vacinação contra a gripe, Nuno Jacinto afirmou que é uma tarefa tradicionalmente já feita nos centros de saúde. “É Claro que no ano passado foi feito de uma forma mais intensiva, com maior rapidez e maior necessidade de vacinar a população mais frágil e este ano prevê-se que tal venha a ser igual”.
ZAP // Lusa