O entendimento sobre o Fundo de Recuperação e o próximo Orçamento Comunitário ainda está longe de ser alcançado. Os quatro frugais ganharam novos aliados, mas o resto dos países esperam que haja acordo.
Charles Michel, presidente do Conselho Europeu, quer alcançar um acordo entre os 27 líderes até às férias de verão, mas uma fonte europeia consultada pelo Expresso admite que o “caminho é longo”. Até agora, cada estado-membro tem marcado a sua posição, sem grandes cedências.
Os países mais a sul da Europa mantêm a expectativa de que o acordo seja positivo e que não se afaste demasiado dos montantes globais propostos pela Comissão Europeia, desde já os 750 mil milhões de euros do Fundo de Recuperação (em emissão de dívida conjunta).
Grécia, Portugal e Itália consideram o valor adequado e contam com o apoio de França, Alemanha, Roménia e Polónia. No entanto, os adversários – os chamados quatro frugais – continuam a pedir uma redução do envelope e têm agora novos apoios.
Segundo o matutino, à Dinamarca, Suécia, Áustria e Países Baixos, juntou-se agora a Finlândia e a República Checa. O grupo quer que o dinheiro seja transferido como empréstimos aos Estados-membros, algo que os países mais afetados pela pandemia de covid-19 recusam.
Esta quinta-feira, o Governo finlandês emitiu um comunicado no qual admite “examinar” a possibilidade de subvenções, mas quer cortar no montante, estando em cima da mesa 500 mil milhões em subsídios e garantias e 250 mil milhões em empréstimos.
Do lado dos frugais, fontes destes quatro países preferem não mostrar margem de manobra na fase negocial.
A Hungria é outro país insatisfeito que critica as verbas que vão ser atribuídas a Espanha e Itália (as maiores beneficiários do Fundo de Recuperação) e a possibilidade de serem os húngaros a ter de pagar por isso no futuro.
Dado que só há acordo por unanimidade, qualquer pressão soa a um possível bloqueio. Fonte diplomática de um país do Sul admitiu ao Expresso que “é muito difícil que os frugais consigam o que querem e eles sabem disso”, mas, para já, mantém-se tudo em aberto.
Apesar das diferenças, há quem realce que há vontade de resolver o assunto durante o próximo mês. Aliás, em entrevista ao Público, Augusto Santos Silva, ministro dos Negócios Estrangeiros, disse que a reação dos frugais foi “foi bastante moderada”, sendo preciso “dar-lhes tempo” para que “possam internamente gerir politicamente esta evolução”