O PSD-Madeira e Marcelo Rebelo de Sousa estão de costas voltadas e a causa do mau estar é a mesma: António Costa.
Três vezes em 2016, duas em 2017 e mais três em 2018: os dedos de uma mão já não são suficientes para contar as vezes que Marcelo Rebelo de Sousa visitou a Madeira desde que chegou a Belém. Em todas elas, foi evidente a cumplicidade entre o governo madeirense. No entanto, esse estado de graça de Marcelo no arquipélago parece ter chegado ao fim, adianta o Público esta quinta-feira.
No final de janeiro, Miguel Albuquerque deu uma entrevista ao mesmo jornal na qual ficou bem patente o seu descontentamento, sublinhando as queixas insistentes de que o primeiro-ministro, António Costa, estaria a utilizar o aparelho do Estado para se intrometer na política do arquipélago em benefício do PS local.
O matutino questionou o chefe do executivo madeirense e presidente do PSD-Madeira sobre se estas preocupações teriam sido levadas a Marcelo Rebelo de Sousa, ao que Miguel Albuquerque respondeu: “o Presidente da República não chegou à política anteontem. É um político experiente que sabe exactamente o que se passa“.
No encerramento do XVII Congresso Regional social-democrata, Albuquerque reiterou o desencanto do partido para com Marcelo, referindo que é tempo de o Presidente da República tomar uma posição sobre “esta pouca vergonha”.
“Nós votamos para o Presidente da República, não para tirar selfies, mas para salvaguardar as instituições democráticas”, afirmou, pedindo a Marcelo para fazer cumprir a Constituição da República. “Os madeirenses merecem ser considerados e tratados como portugueses de corpo inteiro”.
“É intolerável e é inaceitável que, por razões de ordem política, este Governo das esquerdas continue a discriminar os madeirenses. É inaceitável e é eticamente reprovável que este Governo, por razões partidárias, continue a confundir as suas funções institucionais com funções partidárias”, criticou Albuquerque.
O financiamento do novo hospital; a revisão do subsídio social de mobilidade; os juros da dívida contraída pela região junto do Estado; a continuidade territorial por via marítima: são estes os assuntos para os quais o PSD madeirense esperava uma mãozinha de Belém.
Aliás, temas que o governo regional e o PSD acusam António Costa de estar a bloquear em Lisboa, para fragilizar Miguel Albuquerque em ano de eleições regionais.
O mau estar piorou recentemente. Para comemorar os 600 anos da descoberta do arquipélago, a Madeira tinha a expectativa de que as comemorações do 10 de junho decorressem na região. A Assembleia Legislativa da Madeira formalizou o pedido a Marcelo no início de janeiro, mas Belém quis falar primeiro com Costa antes de decidir.
A decisão recaiu numa divisão entre Portalegre e Cabo Verde, o que não deixou Funchal contente. A Madeira viu nesta decisão mais uma interferência de Costa e uma concessão de Belém ao primeiro-ministro.
“O Presidente da República, uma vez por outra, pense que a Madeira também faz parte de Portugal”, reagiu uns dias depois José Prada, secretário-geral do PSD-Madeira. “Quanto ao Presidente da República já nada me espanta” afirmou, acusando Marcelo de estar mais preocupado em “passear de camião” e andar em “jogos de bastidores” a pensar na reeleição, do que com a Madeira.
Era bom, pediu, que o Presidente visitasse a região autónoma para “comemorações”, em vez de só nas “desgraças”.