As coisas mudaram. Decisão final só no outono — muito depende das europeias e das sondagens.
Depois de deixar claro, em noite de eleições, que “a AD não conta com o PS para governar”, sublinhando que o PS “não suportaria” um Governo da AD, Pedro Nuno Santos já repetiu que é “praticamente impossível” o PS deixar passar um Orçamento do Estado apresentado pelo Governo, uma vez que vai contra as ideias socialistas, que ditam que o partido deve reservar o papel principal de oposição.
A “teimosia” foi até uma das fontes da vitória interna de Pedro Nuno sobre José Luís Carneiro, que acabou por ser afastado para segundo plano por muitos socialistas depois de admitir, em campanha, que viabilizaria um orçamento de um governo minoritário do PSD.
Pedro Nuno era o líder carismático que não se vergava, até que começou a ceder à ideia de um orçamento retificativo. E entretanto, as coisas mudaram: o PS vai esperar até ao outono para olhar para o documento orçamental antes de assumir uma posição sobre o assunto. Se antes era quase certo que chumbaria o plano de Montenegro, agora fica-se pelo “muito difícil”, apurou o Público.
“Terá que ser avaliado depois. Fui dizendo várias vezes que será muito difícil, porque as visões dos problemas do país são distantes, as soluções são distantes, mas vamos ver o orçamento, que é muito mais do que portagens, IRS, é muita coisa”.
Foi assim que Pedro Nuno respondeu na CNN Portugal quando lhe perguntaram sobre a eliminação das ex-SCUT no próximo Orçamento.
Já o secretário-geral do PSD dizia em abril que acreditava que o PS iria abster-se na votação do documento. “Genuinamente acredito. Genuinamente acredito. Acho que se pode construir em cima disso. Não, não é uma fezada”, comentou Hugo Soares, na rádio Observador. Confessou também que, se houver diálogo, prefere pô-lo em marcha com o PS.
E sublinhou o “praticamente” que surge antes do “impossível” no discurso de Pedro Nuno. “É importante sermos claros no discurso. Pedro Nuno Santos deixou sempre uma margem para aprovar o Orçamento do Estado. Vamos trabalhar nessa margem”.
Mas os dois partidos têm falado pouco — até porque nenhum sabe ao certo o que o outro quer.
Esperar para ver
A posição do PS dependerá muito de dois grandes fatores que vão marcar os próximos tempos: as eleições europeias e as sondagens.
Se por um lado as europeias podem posicionar o PS para uma boa corrida às eleições antecipadas, há a hipótese de o PSD também querer provocar eleições e dispensar negociações com a oposição.
No entanto, fontes da direção contactadas pelo Público continuam a garantir: o cenário mais provável é ainda, apesar de tudo, o chumbo do documento.
Entretanto, o Governo já garantiu que vai continuar a aproveitar propostas do PS — e quem sabe, se muitas destas forem incluídas no próximo Orçamento, poderá haver consenso entre os dois rivais.
Além disso, chegando a novembro, Pedro Nuno Santos vai olhar para as sondagens: se estas não forem favoráveis aos socialistas, o líder do PS vai querer deixar o Governo na liderança por mais tempo.