Protestos aquém do esperado e um país “que vai para o inferno”. O resumo do dia D de Trump

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CRISTOBAL HERRERA-ULASHKEVICH / EPA

O ex-Presidente foi ontem detido no âmbito do caso do pagamento a Stormy Daniels. Trump discursou depois na Flórida e atacou as autoridades, afirmando que “não há caso nenhum”.

Foi ontem o dia D para Donald Trump — D de detenção. O ex-Presidente dos Estados Unidos foi ouvido no tribunal de Manhattan sobre as suspeitas de ter cometido 34 crimes no processo relativo o pagamento à atriz pornográfica Stormy Daniels para que esta ficasse em silêncio sobre o caso dos dois em 2006.

Já era esperado que Trump se declarasse inocente de todas as acusações, depois de ter passado as últimas semanas a afirmar ser vítima de uma caça às bruxas com motivações políticas e de até haver relatos de que queria ser algemado e passar a imagem de um “mártir” na sua detenção.

Talvez menos esperada tenha sido a reacção da multidão que se reuniu nas imediações. Antecipavam-se possíveis confrontos entre os apoiantes e opositores de Donald Trump e a polícia já tinha montado uma operação em torno da sua detenção, mas a situação ficou aquém do esperado.

Isto aconteceu porque Trump já estava no edifício quando a multidão se apercebeu disso. Os manifestantes anti-Trump fizeram-se logo ouvir, com aplausos, assobios e a gritar “Lock him up!” (Prendam-no!), numa referência ao cântico utilizado pelos apoiantes do ex-Presidente contra Hillary Clinton nas presidenciais de 2016.

Do lado da barricada de Trump, os protestantes estavam mais calados. De acordo com o repórter Adam Gabbatt do The Guardian, “ninguém chorou, ninguém caiu de joelhos, houve apenas um sussuro baixo e palavrões vindos de um mar de chapéus MAGA vermelhos”.

O momento mais agitado terá mesmo sido a chegada de Marjorie Taylor Greene, a polémica congressista Republicana que é uma apoiante fervorosa de Donald Trump e foi manifestar a sua solidariedade com o ex-chefe de Estado.

A representante discursou na mesma onda de Trump, declarando que todo o processo tinha motivações políticas e tinha como objectivo impedir a sua recandidatura — e foi recebida com assobios e apupos de parte da multidão.

Houve ainda alguns pequenos arrufos, como o momento em que uma apoiante de Trump tentou rasgar uma faixa com as palavras “Trump Lies All The Time” (Trump Mente a Toda a Hora), mas, no geral, os protestos foram pacíficos e não houve confrontos físicos.

Um turista britânico em Nova Iorque até se mostrou surpreendido com quão pacífico o momento foi. “Choca-me o nível de participação aqui, mas parece amigável de momento. As pessoas têm opiniões muito fortes sobre isto, mas parecem bem-humoradas”, afirma ao The Hill.

“O nosso país vai para o inferno”

Logo após ser libertado, Donald Trump seguiu para Mar-a-Lago, na Flórida, onde fica a sua mansão que foi recentemente alvo de uma busca do FBI.

Lá, o ex-Presidente tinha à sua espera uma multidão bem mais favorável do que aquela que o recebeu em Nova Iorque, e os seus apoiantes mais leais aguardavam a sua primeira intervenção pública após ter feito história ao tornar-se o primeiro Presidente dos EUA a ser formalmente acusado de um crime.

Trump ignorou o pedido das autoridades para conter a retória incendiária e até atacou as ligações políticas da filha do juiz responsável pelo caso, que é sócia numa agência de consultoria que trabalhou com vários Democratas, incluindo Biden e Kamala Harris. “Tenho um juiz que odeia o Trump com uma esposa que odeia o Trump e uma família que trabalhou para a Kamala Harris”, afirma.

“Nunca pensei que algo assim poderia acontecer na América. O único crime que cometi foi defender audazmente a nossa nação daqueles que a querem destruir”, declara Donald Trump.

O ex-Presidente acredita mesmo que “o nosso país está a ir para o inferno” e atacou o procurador Democrata Alvin Bragg, que é um “procurador distrital local falhado a acusar um ex-Presidente dos Estados Unidos pela primeira vez na história tendo por base algo que todos os comentadores e analistas legais dizem não ser um caso”.

Não há caso nenhum. Eles continuam a dizer que não há caso. Quase todos. Mas é muito pior do que isso porque ele sabia que não há caso. O criminoso é o procurador porque ele vazou ilegalmente uma quantidade enorme de informações do júri e devia ser acusado ou, no mínimo, demitir-se”, afirma.

Houve ainda tempo para alguns ataques já conhecidos, com Trump a criticar a “farsa da destituição número um” e a “farsa da destituição número dois”. O ex-Presidente voltou a aludir à suposta fraude eleitoral de que foi vítima, falando em “milhões de votos ilegamente postos nas urnas” e acusa a família de Biden de ser “criminosa”.

Trump referiu ainda os outros problemas que está a enfrentar na Justiça, como o processo sobre a sua pressão sobre políticos na Geórgia para reverterem a vitória de Biden. “Têm ainda uma procuradora distrital Democrata racista em Atlanta que está a fazer tudo o que pode para me acusar por causa de um telefonema absolutamente perfeito”, atira.

Na mesma onda, o ex-Presidente falou da investigação do FBI à sua retenção ilegal de documentos confidenciais em casa: “Estão a analisar se me podem acusar por violar o Acto de Espionagem de 1917, cuja pena é a morte“.

Trump atirou também farpas ao “lunático” Jack Smith, que está a chefiar a investigação. “O nosso sistema de Justiça já não segue a lei. Estão a usá-lo agora para ganhar eleições”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Não compreendo como este milionário aldrabão misógino egocêntrico tem tanto apoio entre o povo americano (mais uma coisa que não abona a favor da inteligência destes). O que Trump diz dos outros pode bem aplicar-se a ele próprio e o que ele tem andado a fazer é a gozar com o Tio Sam. O fanatismo incoerente e inconsciente è mais perigoso para os EUA do que a China ou a Rússia.

  2. Estou à espera do dia em que a basófia de Trump rebente como um balão. Po routras palavras, que a sua incontinência verbal se vire contra ele.

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