No dia em que se assinalam os 70 anos da fundação da República Popular da China, a tensão escala nas ruas de Hong Kong. As autoridades de Hong Kong dispararam balas, havendo relatos de um manifestante atingido.
Segundo avançou fonte policial à CNN, durante os protestos, na zona de Admiralty, onde se concentram os edifícios governamentais, um homem foi sido atingido a tiro pela polícia.
Médias locais, citados pelo Observador, adiantam que o manifestante atingido é um um estudante do Form 5, o grau de ensino secundário equivalente ao 11.º ano em Portugal. Terá cerca de 16 anos. De acordo com a BBC, que precisa que o homem terá sido atingido no peito, a polícia mostrou um cartaz onde se lia: “Dispersem ou disparamos”.
A Autoridade Hospitalar de Hong Kong confirmou que 15 pessoas deram entrada em hospitais da região, incluindo um ferido em estado crítico, sem confirmar se o ferido em causa é o homem atingido a tiro.
A escala de tensão, marcada por confrontos de polícias e manifestantes durante toda a tarde em Hong Kong, aconteceram pouco depois de, em Pequim, o Presidente Xi Jinping enaltecer os avanços da China. “Nenhuma força é capaz de fazer parar o avanço do povo chinês e a nação de chinesa”, disse Xi, citado pelo jornal Público.
“Não há força capaz de fazer tremer esta grande nação”, frisou.
Na sua intervenção, Xi também se referiu aos protestos que há semanas inundam as ruas de Hong Kong. “Temos de nos manter empenhados na estratégia de reunificação pacífica através do [princípio] ‘um país, dois sistemas’. Iremos manter a prosperidade e estabilidade a longo prazo de Hong Kong e Macau”.
Esta terça-feira, dia nacional da China, milhares de pessoas, vestidas de preto, em “luto” pela erosão das liberdades em Hong Kong, saíram às ruas apesar da proibição policial, de estradas bloqueadas e de estações de metropolitano fechadas, dificultando o acesso ao centro da cidade. Nas ruas, entre bandeiras chinesas, boa parte da população de Hong Kong fazia questão de pisar fotografias do Presidente chinês e da chefe do Governo de Hong Kong, Carrie Lam, que tinham sido estrategicamente coladas ao longo da estrada.
Apesar da proibição policial de se realizarem manifestações no dia nacional da China, os apelos para que a população de Hong Kong saia de novo à rua para exigir reformas democráticas no território multiplicaram-se.
“Uma situação muito perigosa”, avisou a polícia na véspera, esta segunda-feira, afirmando que “os manifestantes radicais estão a aumentar o nível de violência (…) e estão cada vez mais envolvidos em atos de terrorismo”.
Já nesta terça-feira, a polícia de Hong Kong acusou os manifestantes de usarem um líquido corrosivo que queimou a pele de agentes e jornalistas e informou ter efetuado disparos de aviso, com os confrontos a provocarem o caos na cidade.
Lei da extradição e novas reivindicações
O Governo de Hong Kong retirou já formalmente a polémica proposta de emendas à lei da extradição, na base da contestação social desde o início de junho.
Contudo, os manifestantes continuam a exigir que o Governo responda a quatro outras reivindicações: a libertação dos manifestantes detidos, que as ações dos protestos não sejam identificadas como motins, um inquérito independente à violência policial e, finalmente, a demissão da chefe de Governo e consequente eleição por sufrágio universal para este cargo e para o Conselho Legislativo, o parlamento de Hong Kong.
A transferência da soberania de Hong Kong para a República Popular da China, em 1997, decorreu sob o princípio “um país, dois sistemas”.
Tal como acontece com Macau, para aquela região administrativa especial chinesa foi acordado um período de 50 anos com elevado grau de autonomia, a nível executivo, legislativo e judicial, com o Governo central chinês a ser responsável pelas relações externas e defesa.
ZAP // Lusa