Um problema inesperado na guerra da Ucrânia: cabos inúteis

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Cabos de fibra ótica num campo na Ucrânia

Teias de cabos de drones no campo de batalha. Material pode aguentar no ambiente durante mais de 600 anos.

Em plena intensificação tecnológica do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, surgiu uma nova e alarmante consequência: uma enorme acumulação de resíduos de cabos de fibra óptica deixados por drones kamikaze.

Esta tecnologia, que revolucionou a guerra moderna, ameaça agora provocar uma catástrofe ecológica de longo prazo.

Os drones FPV (visão em primeira pessoa), guiados por fibra óptica, multiplicaram-se no campo de batalha como resposta aos sofisticados sistemas de guerra eletrónica.

Ao contrário dos drones convencionais controlados por rádio — vulneráveis a interferências e bloqueios — estes dispositivos avançam desenrolando um cabo de uma bobina enquanto voam, garantindo uma comunicação segura e precisa.

Contudo, cada missão deixa para trás quilómetros destes cabos plásticos finos, que raramente são recuperados, continua o El Confidencial.

As consequências são já visíveis em fotografias e vídeos difundidos nas redes sociais: campos, florestas, rios e aldeias cobertos por uma densa rede de resíduos, com soldados e maquinaria agrícola presos entre os fios. O material, maioritariamente fibra óptica plástica (POF), pode persistir no meio ambiente durante mais de 600 anos, alertam especialistas.

O impacto na fauna e na flora é grave. Aves, morcegos e mamíferos terrestres correm o risco de se enredarem e morrerem. Os cabos funcionam também como barreiras físicas, bloqueando o movimento dos animais e dificultando o acesso a recursos vitais. Além disso, dificultam os trabalhos agrícolas, o combate a incêndios e as futuras operações de desminagem.

Os riscos químicos também não são negligenciáveis. Com o tempo, os cabos libertam microplásticos, nanoplásticos e compostos tóxicos como os PFAS, conhecidos como “químicos eternos” devido à sua persistência no solo e na água. A sua combustão em contexto de guerra agrava o problema, emitindo gases perigosos.

Tanto a Rússia como a Ucrânia estão a desenvolver e produzir estes drones em massa, e já existe interesse por parte de potências como os Estados Unidos e a China.

Entretanto, a frente de combate transforma-se numa armadilha invisível mas duradoura: uma teia de guerra que poderá perdurar durante séculos, muito depois do fim do conflito.

ZAP //

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