Presos, mortos ou envenenados: o destino dos opositores de Putin na Rússia

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EPA/Mikhail Metzel / Kremlin Pool / Sputnik

Vladimir Putin

Muitas das vozes críticas que já se manifestaram contra o líder russo Vladimir Putin foram forçadas ao exílio, enquanto outros opositores acabaram presos ou, em alguns casos, mortos.

Quando Putin lançou a invasão em grande escala da Ucrânia, em fevereiro de 2022, mais de duas décadas de tentativas de erradicar a dissidência já haviam conseguido praticamente aniquilar a oposição na Rússia. Logo no início do governo do atual Presidente, este subjugou os poderosos oligarcas russos.

Mikhail Khodorkovsky, que já chefiou a gigante petrolífera Yukos, foi preso em 2003 e passou 10 anos na prisão por sonegação de impostos e roubo após financiar partidos da oposição. Após a libertação, deixou a Rússia.

Boris Berezovsky, outro oligarca que até ajudou a levar Putin ao poder, desentendeu-se com o Presidente e morreu no Reino Unido, em 2013, supostamente por suicídio.

Todos os principais meios de comunicação da Rússia foram caindo sob o controle do Estado ou começaram a seguir a linha oficial divulgada pelo governo.

De longe, a figura de oposição mais proeminente é Alexei Navalny, que mesmo da prisão acusou Putin de tentar difamar centenas de milhares de pessoas na sua guerra “criminosa e agressiva”.

Em agosto de 2020, Navalny foi envenenado com Novichok, uma substância que atua no sistema nervoso, durante uma viagem à Sibéria. Teve que ser enviado para a Alemanha para fazer um tratamento. Ao retornar à Rússia, em janeiro de 2021, foi preso por fraude e desacato. Cumpre agora nove anos de prisão.

Na década de 2010, Navalny esteve ativamente envolvido em comícios de protesto. As muitas denúncias do principal veículo político de Navalny, a Fundação Anticorrupção (FBK), também atraíram milhões de visualizações online. Em 2021, a organização foi considerada extremista.

Muitos dos seus associados foram pressionados pelos serviços de segurança e alguns fugiram para o exterior, incluindo Ivan Zhdanov (ex-chefe do FBK), Lyubov Sobol (ex-advogado do FBK), e a maioria dos chefes da rede de escritórios.

O braço direito de Navalny, Leonid Volkov, deixou a Rússia quando um processo de lavagem de dinheiro na qual era acusado foi aberto, em 2019.

Outro importante opositor de Putin que está atrás das grades é Ilya Yashin, que tem criticado duramente a guerra na Rússia. Numa transmissão ao vivo no YouTube, em abril de 2022, pediu uma investigação sobre possíveis crimes de guerra cometidos pelas forças russas e indicou que Putin era “o pior talhante da guerra”.

As declarações transmitidas pela Internet serviram de base para uma condenação a oito anos e meio de prisão, por violações à lei contra a divulgação de “informações deliberadamente falsas” sobre o exército russo. Tal lei foi aprovada pelo parlamento logo após a Rússia invadir a Ucrânia.

Ilya Yashin foi preso em junho de 2022 depois de condenar supostos crimes de guerra russos na cidade ucraniana de Bucha. Este envolveu-se com a política em 2000, aos 17 anos, quando Putin chegou ao poder. Em 2017, após anos de ativismo, foi eleito chefe do conselho distrital de Krasnoselsky, em Moscovo.

Em 2019, passou mais de um mês atrás das grades pelo papel ativo em protestos contra a recusa das autoridades em registar candidatos independentes e de oposição para as eleições do conselho da cidade de Moscovo.

Vladimir Kara-Murza, jornalista e ativista formado na Universidade de Cambridge, no Reino Unido, foi duas vezes vítima de envenenamento, o que o deixou em coma. O primeiro ocorreu em 2015 e o segundo em 2017.

Foi preso em abril de 2022 após criticar a invasão da Ucrânia, sendo ainda acusado de compartilhar “notícias falsas” sobre os militares russos, de planear as atividades de uma “organização indesejável” e de cometer alta traição.

Escreveu vários artigos onde criticou Putin, divulgados em veículos de imprensa russos e de outros países. Em 2011, liderou os esforços da oposição para garantir a adoção de sanções internacionais contra violadores dos direitos humanos na Rússia.

Foi também vice-presidente do Open Russia, um importante grupo pró-democracia criado pelo ex-oligarca Mikhail Khodorkovsky. A instituição foi oficialmente classificada como “indesejável” no país e teve as atividades encerradas em 2021. O diretor do Open Russia, Andrei Pivovarov, cumpre uma pena de quatro anos de prisão.

Kara-Murza pode enfrentar uma longa sentença, mas pelo menos está vivo – ao contrário do seu amigo e principal líder da oposição russa, Boris Nemtsov. Antes da era Putin, Nemtsov serviu como governador da região de Nizhny Novgorod, como ministro de Energia e depois como vice-primeiro-ministro.

Foi eleito para o parlamento da Rússia. Em seguida, tornou-se cada vez mais proeminente na oposição ao governo e publicou uma série de relatórios com críticas a Putin, além de liderar inúmeros protestos.

Em 27 de fevereiro de 2015, foi baleado quatro vezes ao cruzar uma ponte, horas depois de apelar por apoio para uma marcha contra a invasão inicial da Rússia na Ucrânia, em 2014. Cinco homens de origem chechena foram condenados pelo seu assassinato, mas ainda não há certeza sobre quem foi o autor intelectual do crime.

Sete anos após a morte de Nemtsov, uma investigação revelou evidências de que, nos meses que antecederam o assassinato, este estava a ser seguido por um agente do governo ligado a um esquadrão secreto de assassinatos.

Desde o início da invasão em grande escala da Ucrânia, os media independentes do país têm sofrido mais restrições ou ameaças. O canal de notícias TV Rain teve que mudar-se para o exterior, juntando-se ao site Meduza, que já havia deixado a Rússia.

A Novaya Gazeta permanece em Moscovo, mas parou de publicar o seu jornal. Outras, como a estação de rádio Echo of Moscow, foram fechadas pelas autoridades.

Inúmeros comentadores partiram para o exílio, como o jornalista veterano Alexander Nevzorov, rotulado de “agente estrangeiro” na Rússia e condenado a oito anos de prisão à revelia por espalhar supostas “notícias falsas” contra o exército russo.

Em março de 2023, Dmitry Ivanov, um estudante de matemática que mantinha um canal anti-guerra no Telegram, foi condenado a oito anos e meio de prisão, também por divulgar “notícias falsas” sobre o exército.

Enquanto isso, Alexei Moskalev foi condenado a dois anos de prisão por ter discordado nas redes sociais de uma investigação que foi aberta contra a sua filha, de 13 anos. A menina havia feito um desenho contra a guerra na escola.

Putin levou mais de duas décadas para garantir que nenhum oponente estivesse livre para desafiar o poder que construiu. Se esse era o plano do Presidente russo, é possível afirmar que funcionou.

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1 Comment

  1. Uma democracia perfeita. Felizmente, na Ucrânia, as tropas russas terão o início do seu fim já em breve. Nas próximas semanas os russos vão ter o que merecem.

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