A residência de Dina Boluarte e o palácio presidencial foram alvo de uma operação de busca e apreensão no contexto do “caso Rolex”. A Chefe de Estado é investigada este mês por alegado crime de enriquecimento ilícito.
As forças de segurança do Peru realizaram uma operação de busca no sábado na residência da presidente Dina Boluarte e na sede do governo, relacionada a uma investigação sobre relógios Rolex que a chefe de Estado não teria declarado como parte do seu património.
Durante a madrugada, polícias e representantes do Ministério Público entraram na casa de Boluarte, na zona leste de Lima, e depois inspecionaram o palácio do governo, à procura dos relógios de luxo cuja proveniência não foi explicada pela presidente.
Os polícias entraram na residência após forçarem a porta com uma barra de ferro, de acordo com imagens transmitidas na televisão. Posteriormente, dirigiram-se à sede da Presidência.
“Vamos realizar a operação no palácio, efetuando a busca de acordo com a ordem judicial”, declarou o coronel Harvey Colchado, que não confirmou se os polícias encontraram joias ou outras provas.
Boluarte, que assumiu a Presidência do Peru em dezembro de 2022, começou a ser investigada a 18 de março por alegado crime de enriquecimento ilícito e omissão de declarações em documentos públicos.
Numa breve mensagem publicada na rede social X, a Presidência afirmou que a operação no palácio de governo ocorreu “com normalidade e sem qualquer incidente”. As operações foram autorizadas pelo Tribunal Superior de Investigações Preparatórias, presidido pelo juiz Juan Carlos Checkley, a pedido do procurador-geral.
O governo criticou a ação. “O que aconteceu constitui um ataque intolerável à dignidade da Presidência da República e à Nação que representa. Estas ações são desproporcionadas e inconstitucionais”, declarou à imprensa o primeiro-ministro do gabinete de Boluarte, Gustavo Adrianzén.
O ministro da Justiça e Direitos Humanos do Peru, Eduardo Arana, por sua vez, comentou neste sábado que as buscas demonstram o colapso do sistema democrático e da constitucionalidade.
“O que estão a fazer é politizar e demonstrar que a justiça foi politizada num ato sem precedentes que está a atacar as instituições democráticas, as instituições da Presidência e, acima de tudo, demonstrando o colapso do sistema democrático e da constitucionalidade”, disse Arana.
Escãndalo Rolex
As operações de busca ocorreram depois de o MP não aceitar que a presidente reagendasse uma audiência na qual deveria apresentar os relógios e os respetivos comprovativos de compra.
Se for indiciada por enriquecimento ilícito, a presidente só responderá a um eventual julgamento após julho de 2026, quando termina o seu mandato, conforme estabelece a Constituição. A investigação, contudo, pode continuar neste período.
O escândalo, contudo, arrisca resultar num pedido de destituição de Boluarte no Congresso, sob a alegação de “incapacidade moral”.
Para que isso aconteça, as bancadas de partidos de direita, que têm maioria no Parlamento e representam a principal base de apoio da presidente, teriam de apoiar as bancadas minoritárias de esquerda numa aliança difícil de ser concretizada.
O escândalo dos relógios da marca Rolex veio a público com uma reportagem do programa La Encerrona, exibida há algumas semanas. A reportagem revelou que Boluarte usou vários relógios da marca de luxo em eventos oficiais desde que assumiu o cargo de vice-presidente do governo do ex-presidente Pedro Castillo e o cargo de ministra do Desenvolvimento e Inclusão Social em 2021.
O período analisado pelo programa vai até dezembro de 2022, o mês em que assumiu a Presidência. Após a transmissão da reportagem, Boluarte afirmou que se tratava de um relógio “antigo”, produto do seu “esforço”, já que trabalha desde os 18 anos.
“Entrei no Palácio de Governo com as mãos limpas e sairei com as mãos limpas, como prometi ao povo peruano”, declarou Boluarte, de 61 anos, na semana passada.
O Ministério Público já investiga Boluarte por alegados crimes de “genocídio, homicídio qualificado e lesões graves”, num processo aberto no ano passado pela morte de mais de 50 cidadãos durante os protestos sociais entre dezembro de 2022 e janeiro de 2023.
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