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Líder dos hoteleiros denuncia que os prémios do turismo são comprados (e demite-se)

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Elidérico Viegas

O presidente da Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), Elidérico Viegas, demitiu-se depois de outros membros da direção terem discordado das declarações feitas na entrevista ao jornal i, revelou a associação.

Na origem da decisão estiveram as declarações do presidente da AHETA, que dirige a associação hoteleira há mais 20 anos, sobre as dificuldades que o setor hoteleiro e o turismo atravessam na região devido aos efeitos da pandemia de covid-19.

Segundo uma nota divulgada este sábado pela associação, após a publicação da entrevista no jornal i, na sexta-feira, foi realizada uma reunião da direção da AHETA e os restantes membros manifestaram a sua discordância com as declarações de Elidérico Viegas, considerando num comunicado posterior que “não se reveem nem podem subscrever” as declarações do presidente.

“Em reunião imediatamente convocada, a direção ouviu as explicações do sr. presidente e foi informada da sua intenção em se demitir deste órgão social da AHETA”, adiantou a associação.

A agência Lusa contactou Elidérico Viegas para perceber os motivos da demissão do cargo, mas o presidente da AHETA respondeu que, de momento, não presta declarações.

Os restantes elementos da direção da associação hoteleira reconheceram, no entanto, o “papel relevante do atual presidente da direção da AHETA, desde a constituição formal da associação”, em 1995, para a “defesa dos interesses das empresas turísticas do Algarve” e a “afirmação da AHETA como a mais influente e representativa associação empresarial da região”.

Os dirigentes que subscreveram o comunicado anunciaram ainda que vão propor à presidência da mesa da assembleia-geral da AHETA a convocação de eleições “no mais breve espaço de tempo” com o objetivo de “reforçar a capacidade de intervenção da associação, neste período crítico”.

Entre esses dirigentes estão Pedro Lopes, Joel Pais, Reinaldo Teixeira, Rúben Paula, Jorge Beldade, Luís Correia da Silva, Martinho Fortunato e José Queiroga Valentim.

“Pagamos e ficamos no lugar que queremos“

Recorde-se que a entrevista ao jornal i, na edição de fim de semana, do ainda presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA) caiu que nem um bomba junto do setor turístico.

Elidérico Viegas disse que os prémios que Portugal tem arrecadado são comprados e só o país lhes dá importância.

“São eleições feitas por entidades privadas que se regem por princípios económicos, de rentabilidade económica e, como tal, pagamos e ficamos no lugar que queremos. Estes prémios que andamos a apregoar com frequência são prémios atribuídos por estruturas ou organizações privadas que têm como fim o lucro e que vendem lugares em função dos preços que se pagam”.

Acrescentou ainda: “Quer ganhar a nomeação de melhor destino? Pague 500 libras e vai ver que aparece no site da organização como nomeado. Quer ganhar o prémio? Então tem de negociar com eles o valor. É simples e é assim que funciona. Depois pode ter uma moldura na câmara, no seu hotel, restaurante, praia ou campo de golfe, entre muitas outras categorias”, disse ao jornal i.

Segundo o jornal i, essas declarações são reconhecidas por quase todo o setor. Vários empresários ouvidos pelo jornal, que preferiram anonimato, garantem que as nomeações são compradas e, com isso, poupam trabalho e também dinheiro por parte do Instituto de Turismo de Portugal.

ZAP // Lusa

8 Comments

  1. Bem… não disse nenhuma mentira. Efetivamente estes prémios e distinções são comprados! Essa é que é a realidade. O mesmo se passa naqueles prémios empresariais das melhores empresas, de muitos concursos de vinhos, automóveis… Só mesmo o povo é que come isto.
    Muito embora todos estes prémios não sejam “verdadeiros” têm uma clara importância. Fazem os media noticiar, destacar marcas, empresas, regiões…porque muito provavelmente também não sabem bem como é que estes prémios se ganham.

      • No vinho apenas valorizo provas cegas. Aí, é bom ou chapéu. Quanto aos restantes prémios é quem paga mais ou quem consegue pedir a mais gente para telefonar ou votar via facebook. Mesmo que não façam a mínima ideia sobre o que estão a votar…

        Mas uma coisa é certa. Para conseguirmos obter o mesmo destaque por outros meios, ficar-nos-ia muito mais dispendioso. Desse ponto de vista, os prémios são interessantes. Promovem muito alarido face ao investimento realizado.

  2. Em vez de andar a criticar as origens e formas dos prémios de turismo e afins, com os quais todos os hoteleiros são cúmplices por conveniência ou benefício, o Sr. Presidente da AHETA devia era zelar pelos interesses do sector económico e fazer (pelos mesmos mecanismos batoteiros) o que fazem os seus homólogos espanhóis e gregos que, com números de pandemia idênticos, ou piores que os nossos, tiveram sucesso nas acções de ‘lobby’ junto dos países de origem dos seus respectivos ‘ganha-pão’.
    Ou seja, o Sr. Elidérico devia era ter ido lamber as ‘botas’ (ou qualquer outra parte que se expusesse) dos que influenciam os ministérios fulcrais à garantia de acesso dos turistas oriundos de países que representam 80% das exportações de serviços turísticos.
    Era capaz de ser mais útil nisso do que a praticar caciquismo regional com o nariz empinado.

  3. Deveriam era perceber porque é que os preços do alojamento, no Algarve, mais do que duplicaram em relação ao ano passado.
    Mesmo hotel e mesma semana. É este o chamariz para o turista Português?

  4. País provinciano bem retratado nestas “compras” de “títulos”: até as autarquias pagam às produtoras de telenovelas para promoverem a terreola… È o melhor vinho do mundo, é o melhor chouriço do planeta, é a melhor praia do Universo… Parolada completa.

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