Os fabricantes deixaram de alterar só a quantidade; ingredientes são substituídos, produtos ficam piores. Bem-vindos à skimpflation — ou qualiflação.
Quem vai estando atento ao que compra, ou quem vai lendo o ZAP, já se cruzou com este fenómeno: a reduflação.
Por cá, a DECO já alertou no ano passado: os consumidores devem redobrar a atenção sobre a quantidade e tamanho dos produtos que estão habituados a comprar – porque podem estar a pagar o mesmo, mas a levar menos para casa.
A reduflação está mesmo a acontecer. Reduz-se o tamanho, não o preço. Ou seja, quando compramos um determinado produto, pagamos o mesmo mas levamos menos para casa.
O esquema chegou a uma larga escala nos EUA, onde a nível nacional os tamanhos dos produtos começaram mesmo a encolher (mas os preços mantiveram-se).
A reduflação é um processo que agrada a muitos responsáveis de marcas: sabem que o consumidor iria reparar no aumento de preço – mas não repara na diminuição da quantidade.
Embora seja um fenómeno que irrite alguns supermercados bem conhecidos em Portugal, há quem esteja a aproveitar a ideia para outra alteração.
Eis a qualiflação
Agora sabe-se que, na Alemanha – e provavelmente noutros países – os fabricantes, além de aumentarem o preço em alguns casos, estão a alterar os ingredientes do produto. Substituem elementos mais caros por outros mais baratos.
Por outras palavras: os produtos ficam piores.
Exemplos: uma garrafa de sumo que indica “24% é fruta” quando, antes, na mesma garrafa lia-se “pelo menos 30% é fruta”; a polpa de manga e o sumo de limão eram caros e foram substituídos por produtos mais baratos e por ácido cítrico.
Os ingredientes utilizados foram outros, a qualidade diminuiu. O preço? Igual ou superior.
É uma questão de “optimizar a receita”, justificou um fabricante questionado pelo Handelsblatt, que classifica este método como um “aumento oculto de preços”.
Mas o Centro do Consumidor de Hamburgo, que tem recebido cada vez mais queixas de alemães por causa da qualidade dos produtos, avisa: “Não haverá perdão para os fabricantes que deteriorarem a qualidade dos seus produtos. Não há desculpas“.
“Eles estão calados sobre a verdadeira razão disto: poupam… à custa dos consumidores“, descreve Armin Valet, do Centro do Consumidor de Hamburgo.
Este esquema já nem é uma reduflação. Porque o tamanho dos produtos até pode manter-se. Aqui é a denominada skimpflation, um termo derivado da palavra inglesa skimp – economizar.
Em Portugal, numa tradução livre e porque estamos a centrar na “qualidade”, podemos traduzir para “qualiflação”: os fabricantes economizam, poupam, na confecção do produto, pioram o mesmo, mas vendem ao mesmo preço ou até mais caro; a “inflação” reflecte-se, não só no aumento de preços, mas também na diminuição da qualidade. Pode acrescentar ao dicionário.
A BBC já tinha alertado que a skimpflation também se pode verificar, não só na qualidade dos produtos, mas também na qualidade do serviço: menos funcionários nas lojas ou eliminar alguns serviços, por exemplo. Com preços iguais.
E, como escreveram os britânicos, o consumidor pode nem perceber que isso está a acontecer.