O que seria preciso para se descobrir vida em Vénus?

Paul K. Byrne / NASA / USGS

A vida em Vénus, ou a sua possível existência, tem sido um tema quente recentemente. Também há bastante controversas, incluindo a (ainda contrariada) descoberta de fosfina, um potencial bioindicador na atmosfera.

A melhor forma de se resolver esta controversa é ir lá e recolher amostras, o que, no mínimo, ajudaria a restringir as respostas sobre a existência de vida nas camadas de nuvens de Vénus. E uma grande equipa da academia e da indústria tem esperanças de fazer isso.

Originalmente anunciada no fim do ano passado, o conceito da missão Venus Life Finder (VLF) foca-se na ciência que seria precisa para potencialmente se descobrir vida nas nuvens de Vénus. A equipa por detrás da missão certamente não é a primeira com a ideia de que há vida nas nuvens de Vénus.

Apesar das suas advertências sobre dinossauros na superfície do planeta, Carl Sagan e o co-autor Harold Morowitz foram os primeiros e publicar cientificamente sobre a ideia em 1967.

Desde então, já enviamos várias sondas através das nuvens venusianas que descobriram várias químicas estranhas que merecem uma nova olhadela. Mas infelizmente, ainda não enviamos mais nenhuma sonda através das camadas de nuvens desde os anos 80.

Não só as tecnologias que podem ser úteis na busca por vida melhoraram dramaticamente desde então, como todo o ramo científico da Astrobiologia, tal como nota o estudo que discute as missões futuras publicado pela equipa VLF.

Estes dois factos em si significam que está na hora de outra análise à atmosfera de Vénus de uma pespetiva bioquímica e é isso que a equipa VLF quer fazer. A sua missão de três fases foi originalmente definida no fim do ano passado. E o primeiro passo é ambicioso, para dizer o menos.

A equipa VLF tem um contrato com a Rocketlab para o envio de uma sonda até à atmosfera venusiana usando uma janela de lançamento de 2023. A Rocketlab vai fornecer o rocket e o transporte necessário para o nosso vizinho mais próximo.

Infelizmente, este veículo de entrada vai permitir apenas que a sonda recolhe dados da atmosfera superior nas nuvens, onde o clima é mais hospitaleiro, durante aproximadamente três minutos.

Mas esses três minutos serão imensamente valiosos. A carga útil científica desta primeira missão vai focar-se num nefelómetro auto-fluorescente (AFN), que pode fazer o material orgânico brilhar e faria o mesmo para cada material orgânico presente nas nuvens de Vénus.

Sondas anteriores já encontraram algumas moléculas com formas estranhas que simplesmente não era feitas de ácido sulfúrico líquido. Conhecidas como partículas modo 3, a sua existência é um dos maiores propulsores do interesse na missão. Um AFN, que é baseado nas tecnologias comerciais já existentes e que são usadas no exterior dos aviões, pode dar conhecimentos únicos que podem influenciar a próxima missão — um balão.

A ideia de uma missão de um balão até Vénus também não é nova. Alguns futuristas inspirados até já sugeriram que os balões poderão suportar cidades inteiras na camada de nuvens de Vénus. Mas a nova missão VLF não só utilizaria um balão e uma gôndola mas também lançaria uma série de sondas através da camada de nuvens que poderia potencialmente recolher dados sobre o ambiente mais em baixo.

A carga útil científica desta missão científica muito mais capaz incluiria um espectómetro que procuraria gases específicos que podem ser bioindicadores-chave, assim como um sistema microeletromecânico que pode detetar a presença de metais e um sensor de pH extremamente sensível que pode validar qual é o pH das camadas de nuvens. A maioria destas tecnologias já existe, mas algumas, como o concentrador líquido para alimentar o espectómetro, ainda precisam de ser desenvolvidas.

Esse esforço de desenvolvimento seria útil na última de três missões VLF — uma missão de devolução das amostras. Tal como a missão de devolução de amostras de Marte e a meia tonelada de rochas trazidas da Lua, a melhor forma de verdadeiramente entender o que se passa quimicamente em qualquer parte do Sistema Solar é trazer uma amostra de volta aos laboratórios na Terra.

A terceira missão VLF faria o design de outro balão que também incluiria um rocket ascendente que traz uma amostra da atmosfera de Vénus à Terra para ser estudada diretamente pelos melhores instrumentos que temos.

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