Português esteve preso 19 dias na Turquia por “parecer gay”. Embaixada ignorou o caso

Português foi preso na Turquia, enquanto estava de férias, por “parecer gay”. A polícia assumiu que iria participar numa marcha do mês do orgulho LGBTI+. Miguel Álvaro foi completamente ignorado pela Embaixada.

A história é contada por Miguel Álvaro, ao P3 do jornal Público: “Fui rodeado por vários polícias, agarraram-me os braços, depois de cinco horas na carrinha da polícia, um deles explicou-me que tinha sido detido por causa da minha aparência“.

E foi “pela aparência” que esteve preso durante 19 dias, na Turquia, onde só tinha planeado ficar quatro (e, obviamente, em liberdade).

O português, de 34 anos, chegou ao país no dia 23 junho. Ao terceiro dia, a 25 de Junho, em Istambul, quando saiu do apartamento para ir almoçar, encontrou ruas cortadas e dezenas de polícias no bairro onde estava.

Por isso, dirigiu-se aos agentes para pedir indicações. Só que, inesperadamente, um  dos polícias ordenou que fosse detido, como contou ao P3.

“Fui rodeado por vários polícias [oito, segundo se lembra]. Agarraram-me os braços e tentei libertar-me. Um deles bateu-me nas costelas, empurraram-me contra uma carrinha, bateram-me no ombro, que ficou a sangrar. Depois de cinco horas na carrinha da polícia, em que só me disseram para me calar e estar quieto, um deles explicou-me que tinha sido detido por causa da minha aparência“, relatou.

Pensaram que participaria numa marcha LGBTI+ não autorizada que ia acontecer ali perto, por parecer gay. Estava no sítio errado à hora errada”, entendeu Miguel Álvaro.

Nesse dia, iam decorrer em Istambul várias manifestações ilegais, para assinalar o mês do orgulho LGBTI+.

Por essa razão, o Governo turco destacou milhares de agentes das forças de segurança para impedir as manifestações. Esse controlo levou, naquele dia, à detenção de mais de 100 pessoas.

Miguel Álvaro esteve 13 horas dentro da carrinha da polícia, até ser levado para uma esquadra da cidade, sem poder contactar ninguém. Dali, foi levado para o centro de detenção de imigrantes de Tuzla, também em Istambul, conhecido por problemas de sobrelotação, violência e más condições sanitárias, como conta o P3.

Depois de umas horas, deixaram aquele local e foram transportados para a prisão de Sanliurfa, a poucos quilómetros da fronteira com a Síria.

“Chegámos a Sanliurfa ​ao final do dia de terça-feira [dia 27 de julho]. Ainda não tinha dormido, feito uma refeição ou tido acesso ao meu telemóvel desde a detenção. Ninguém sabia onde eu estava”, contou Miguel Álvaro.

“Ficámos nessa prisão até 13 de Julho, com outros reclusos a ameaçar-nos de morte. Todas as noites um de nós ficava acordado para garantir que ninguém entrava na nossa cela para nos magoar”, relatou.

O português apenas conseguiu fazer uma chamada na semana seguinte: “Só me lembro de decorar o nome do sítio onde estava e ligar ao meu pai: ‘Fui detido, estou aqui, preciso de ajuda’”.

A família contactou de imediato a Embaixada de Portugal na Turquia que nada fez. Nenhum representante português visitou Miguel Álvaro, nem lhe foi oferecida qualquer tipo ajuda.

No dia 12 de julho, Miguel Álvaro, finalmente, saiu da prisão. Foi escoltado pela polícia até à porta de embarque e voou para Portugal a 13 de Julho, 19 dias após a detenção.

“Neste momento, estou num estado psicológico horrível, tenho muito medo das sequelas no futuro. Não consigo acreditar que isto me aconteceu. Rezo para que se faça justiça. Não vou descansar. Espero levar o meu caso ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos”, disse.

Numa publicação feita no seu Instagram, Miguel Álvaro contou a história na primeira pessoa, tendo acusado Turquia de não respeitar os direitos humanos.

 

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O português, atualmente a viver no Brasil, está impedido de entrar na Turquia, nos próximos três anos.

ZAP //

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