Portugal registou pelo menos 72 casos de contágio pela nova variante do SARS-CoV-2, segundo o Instituto Nacional de Saúde Doutor Ricardo Jorge (INSA), que os identificou em 28 concelhos.
Na última atualização das análises genéticas ao novo coronavírus, divulgada na terça-feira, o INSA afirma que os dados da nova variante detetada no Reino Unido, mais contagiosa, “apontam para a existência de transmissão comunitária“.
O INSA, que já analisou 2342 sequências do genoma do SARS-CoV-2 a partir de amostras recolhidas em pessoas infetadas, detetou “38 novas sequências da nova variante” em amostras recolhidas nos aeroportos de Lisboa e Porto e junto de todas as regiões de saúde do país, exceto da Madeira.
“Até ao momento, foram detetados em Portugal um total de 72 casos de infeção associados a esta nova variante, distribuídos pelas Regiões Autónomas da Madeira e dos Açores e por 10 distritos de Portugal continental, num total de 28 concelhos”, refere o instituto.
Desde que o novo coronavírus foi detetado em Portugal, o INSA já analisou 2342 sequências do perfil genético do SARS-CoV-2 recolhidas em 69 instituições e representando 199 concelhos.
Ministros da Saúde da UE admitem “preocupação”
Os ministros da Saúde da UE demonstraram, esta quarta-feira, uma grande preocupação com esta nova variante, que apresenta “características mais transmissíveis”, apelando à “manutenção das medidas sanitárias”, afirmou a ministra da Saúde, Marta Temido.
A ministra falava em conferência de imprensa conjunta com a comissária europeia da Saúde, Stella Kyriakides, que marcou presença à distância, em formato digital, depois de uma reunião informal de ministros da Saúde da União Europeia (UE), que decorreu a partir do Centro Cultural de Belém, em Lisboa, para fazer um ponto de situação do processo de vacinação e do combate à pandemia de covid-19.
A ministra revelou que nesta reunião foi evidente a “preocupação com o aumento da nova variante em todos os Estados-membros” do bloco comunitário, “num contexto epidemiológico que se mantém difícil para todos os países”, tendo sido feito um apelo “à manutenção das medidas sanitárias”.
“Estamos bem conscientes das características [da nova variante do vírus], que a tornam mais transmissível, e essa maior transmissibilidade tem efeitos sobre a evolução epidemiológica”, apontou Temido.
Neste sentido, a ministra garantiu que os Estados-membros partilham da mesma opinião de que “a unidade e a união são a melhor solução” para todos, razão pela qual a União Europeia “tem um verdadeiro testemunho do valor coletivo dos seus Estados-membros”.
A comissária europeia da Saúde referiu que “esta nova variante já está a ter um impacto significativo em alguns países europeus”, pelo que não se pode baixar a guarda. “Temos de continuar a trabalhar no sentido de descobrir a sequência do genoma desta nova variante. Não há outra forma de solucionar isto”, defendeu.
Para Marta Temido, que neste primeiro semestre de 2021 preside aos Conselhos de ministros da Saúde dos 27, no âmbito da presidência portuguesa do Conselho da UE, estes são apenas os primeiros passos de um processo que “vai ser longo”, apelando, por isso, à “necessidade, uma vez, mais de manutenção das medidas não farmacológicas”.
Nova variante já chegou a 50 países e territórios
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), esta nova variante já foi localizada em 50 países e territórios, enquanto a variante identificada na África do Sul já chegou a 20.
Uma terceira mutação do vírus SARS-CoV-2, que provoca a doença covid-19, foi descoberta no Japão no domingo, necessitando de ser mais mais estudada, de acordo com a OMS, que considera, no seu boletim semanal, tratar-se de “uma variante perturbadora”.
“Quanto mais o vírus SARS-CoV-2 se espalha, mais oportunidades tem de sofrer uma mutação”, refere a organização com sede em Genebra, ao salientar que os elevados índices de “contaminação significam que se deve esperar o surgimento de mais variantes” do coronavírus.
A Organização Mundial de Saúde já alertou que vão continuar a surgir variantes do novo coronavírus e defendeu que é preciso acelerar o processo de descoberta e sequenciação genética para as acompanhar.
O diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, salientou no final de dezembro que é preciso aumentar a capacidade de os laboratórios em todo o mundo serem capazes de descobrir as sequências genómicas das mutações do vírus que forem aparecendo, o que só se consegue com testagem.
A variante que já circula em Portugal e em vários países foi detetada pela primeira vez em setembro no Reino Unido.
A pandemia de covid-19 provocou pelo menos 1.963.557 mortos resultantes de mais de 91,5 milhões de casos de infeção em todo o mundo, segundo um balanço feito pela agência francesa AFP.
ZAP // Lusa