Corte de 5% pode chegar ao fim em breve, quase 15 anos depois. “Era preciso acabar com este perigo”.
PSD e CDS-PP vão propor no Orçamento do Estado para 2025 (OE2025) o fim dos cortes de 5% nos salários dos políticos.
Os cortes aplicam-se há quase 15 anos ao Presidente da República, presidente da Assembleia da República, primeiro-ministro, deputados, membros do Governo, representantes da República para as regiões autónomas, deputados às Assembleias Legislativas das regiões autónomas, membros dos governos regionais, governador e vice-governador civil e presidente e vereadores a tempo inteiro das câmaras municipais.
Esses cortes estão em vigor desde 2010 e nunca foram revogados. Mas agora PSD e CDS consideram que “é da mais elementar justiça” acabar com esta medida.
Segundo Hugo Soares, líder parlamentar do PSD, a proposta será para que o fim dos cortes tenha “efeitos imediatos”, mas disse estar disponível para a ajustar com os restantes grupos parlamentares.
O PS já reagiu: aceita essa reversão mas só deve ser aplicada a mandatos futuros – para evitar que sejam beneficiados os atuais titulares de cargos políticos.
Um deputado na Assembleia da República recebe 3.892,14 euros líquidos. Sem a redução excepcional de 5%, o salário líquido seria 4.096,99 euros. Depois há despesas de representação, que dependem muito do cargo.
“É pouco”
Os políticos em Portugal “deviam ganhar mais”. O resumo é de Pedro Benevides, que aplaude esta proposta da AD.
O comentador político acha positivo agora haver mais espaço no Parlamento para se falar sobre este assunto.
“É para cortar com a cobardia de todos os responsáveis políticos desde os tempos pré-troika. Ninguém teve coragem de reverter, seria uma decisão impopular“, analisou.
Na rádio Observador, Pedro lembrou que os magistrados ganham mais do que o primeiro-ministro. Eunice Lourenço acrescentou que António Costa recebia um salário maior quando era ministro da Justiça (1999-2002) do que quando era primeiro-ministro (2015-2023).
Pedro Benevides reforça que os salários dos políticos portugueses deveriam ser mais altos: “E é bom que isto se diga às claras, o país inteiro deve saber disto: as pessoas que decidem o futuro do país têm de ser devidamente compensadas. Ainda por cima num país tão dependente do poder político”.
O especialista tem noção de que “não é um discurso fácil de se fazer, é preciso coragem”.
“Uma democracia tem de funcionar com determinados pressupostos. Se vamos votar em determinadas pessoas para lhes entregarmos nas mãos os destinos da nossa vida em comum, temos de as compensar devidamente pela responsabilidade e pelo escrutínio que têm”, continuou.
Pedro repete uma ideia que tem sido espalhada: o serviço à causa pública, que implica assumir cargos de poder público, “deixou de ser apetecível”. Muitos portugueses, sobretudo os mais jovens, olham a vida de um político como uma vida de “salários baixos, demasiado trabalho e vida devassada”.
“Não há incentivo para que os nossos melhores estejam nos lugares em que são mais necessários”, reforça.
Mas Pedro Benevides acredita numa mudança devido a este avanço da Aliança Democrática: “Era preciso acabar com este discurso populista, demagógico e perigoso que os políticos ganham demais e que era preciso cortar nos salários”.
ZAP // Lusa