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Pode estar na forja uma “meia-geringonça” até 2023 (com o Governo a encostar o Bloco à parede)

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António Cotrim / Lusa

O líder socialista António Costa e a coordenadora do Bloco de Esquerda, Catarina Martins

A possibilidade de um acordo escrito entre o PS e o Bloco de Esquerda para permitir a viabilização do Orçamento de Estado para 2021 ganhou força nos últimos dias. Só falta saber se o PCP está mesmo fora de jogo ou não.

Aquando do início desta legislatura e com o PS sem maioria no Parlamento, o Bloco chegou a propor um acordo escrito nos moldes da geringonça em troca do seu apoio político. Mas, nessa altura, o PS recusou a ideia porque o acordo implicava não ultrapassar “linhas vermelhas” definidas pelos bloquistas.

Agora, foi o próprio António Costa quem voltou a lançar para a mesa a possibilidade de um “acordo sólido e duradouro” durante uma reunião com o Bloco de Esquerda (BE) nesta semana, conforme destaca o Observador.

A ideia começa a ganhar força e dentro do próprio BE a líder Catarina Martins também assume a hipótese de um “acordo político”, envolvendo medidas que não precisam necessariamente de ficar inscritas no Orçamento de Estado para 2021 (OE2021).

“Não temos de encher o Orçamento com medidas que não são orçamentais e que são compromissos do Governo. O BE admite que algumas dessas medidas sejam assinadas como acordo político”, destaca um dirigente bloquista ao Observador, frisando que estão em causa medidas com “efeito plurianual”.

O secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares, Duarte Cordeiro, também vincou que “há matérias que faz sentido estarem inscritas no Orçamento do Estado e há outras que partirão de documentos que queremos escrever em conjunto e de compromissos que teremos de assumir”.

Estamos, assim, perante potenciais compromissos a longo prazo como a garantia do aumento do salário mínimo nacional para que atinja os 750 euros mensais em 2023.

Depois das ameaças de crise política lançadas por Costa e por Marcelo Rebelo de Sousa, com os alertas de que seria algo péssimo nesta altura do campeonato, em plena pandemia, esse eventual “acordo escrito” entre PS e Bloco pode resolver os problemas imediatos do Governo.

Esta “solução meia-geringonça”, como a define o Observador, resolverá, por um lado, a necessidade imediata de aprovar o OE2021, mas também abre a porta para garantir a viabilidade do próximo Orçamento. Ficará, assim, garantida a estabilidade política a médio prazo.

Enquanto isso, o PCP tem estado mais distante das negociações, mas não está necessariamente fora de jogo. É preciso esperar para ver se os comunistas vão preferir ficar alheados de uma possível solução com PS e Bloco ou se vão ainda atirar para cima da mesa os seus trunfos.

As negociações do OE2021 estão, agora, na recta final quando falta apenas uma semana para a entrega do documento.

Do lado do Governo a ideia é clara. “Estamos a dar respostas até mais significativas do que em Orçamentos anteriores”, já reforçou Duarte Cordeiro, salientando que “o somatório de todas as medidas é muitíssimo significativo“.

Desta forma, o Governo quer encostar o Bloco à parede – afinal, se o Governo está a fazer cedências “significativas”, o BE não terá motivos para votar contra o OE2021.

ZAP //

8 Comments

  1. Eu não concordo com o título da notícia “com o Governo a encostar o BE à parede”. O BE não tem nada a perder com a crise (a existir) de uma não aprovação do OE, por isso é mais o BE a encostar o Governo à parede. O que irá dizer o PM se o OE não for aprovado? Fazer a figura de “coitadinho” apontando o dedo para o BE e para o PCP e dizer “foram eles, a culpa foi deles”…? Então quem mandou o PS governar sem um acordo nos termos da anterior legislatura? Se o PS não tinha o acordo escrito com a esquerda radical porque se recusou a cooperar com o PSD?

    • Que engraçado! Um governo minoritário a encostar à parede um partido opositor ! O jornalismo é tão contorcionista como o governo. Só que ainda há povo que se apercebe destes comportamentos socorristas sub-reptícios.

  2. Ou talvez não, caso seja o BE a encostar o governo, a arte de fanfarrão do 1º ministro poderá vir a ter os dias contados e está nas mãos da extrema-esquerda.

  3. Na minha modesta opinião, que de politica não percebo nem quero perceber, após o 25 de Abril, o que deu cabo do tecido empresarial neste país à beira abandonado (não plantado), além do chouriço que se recebeu da UE pelas mãos do então PM (Boliqueime), os partidos de esquerda PCP e BE (MRPP) no qual fazia parte o J. Barboso, estes é que deram cabo de tudo, com exigências estapafurdicas. Não quero com isto dizer que os partidos que estiveram sempre na esfera da governação (PS, PSD+CDS) não tenham a sua quota parte de culpas, de responsabilidade, têm e não é pouco.
    Sempre fomos governados por meninos copos de leite, grande parte deles sem experiência de vida, tanto assim que alguns deles ainda se sentam todos os dias na AR, e outros que mal acabam as suas licenciaturas ingressam logo na vida politica sem nada saberem fazer………

    • Realmente, para além de não perceber nada de política também não lhe ficava mal dizer que não percebe nada de História. Essa pessoa à qual se refere pelo nome de J. Barboso em 1974 era um jovem de 18 anos e como qualquer jovem que pensa em mudar o mundo, era membro do MRPP. Em 1977 foi expulso desse partido, tinha 21 anos, e ingressou no PSD em 1980 com 24 anos. Como deve compreender há uma grande diferença entre os 18 e os 24 anos! Quanto ao Senhor de Boliqueime, em 1986 não teve outra alternativa senão entrar para a CEE para livrar Portugal do FMI. Quanto ao BE, foi fundado em 1999 por um conjunto de partidos e movimentos de extrema esquerda, no entanto o MRPP não fez parte na fundação do BE. Um dos partidos fundadores do BE foi o PSR ao qual está associado o Dr. Fernando Rosas que pertenceu ao MRPP até 1980. Uma vez que os revolucionários “deram cabo de tudo” e o PS, PSD, e CDS também têm culpa, devo perguntar afinal quem é que nos deve governar?

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