O plano da Ucrânia caso Zelenskyy seja assassinado pela Rússia

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Louise Delmotte/EPA

Volodymyr Zelenskyy

Um eventual assassinato de Zelenskyy pode causar problemas à Ucrânia no plano internacional, dado que o chefe de Estado se tornou o principal rosto da resistência do país.

Quando foi questionado sobre se receia ser assassinado, Volodymyr Zelenskyy desvalorizou. “Se estivesse a pensar nisso constantemente, iria viver fechado, como Putin agora, que não sai do seu bunker. Eu não penso nisso“, afirmou o Presidente ucraniano no mês passado.

Apesar de o próprio Zelenskyy não querer pensar nisso, o Governo ucraniano já se preveniu para o cenário de um assassinato. O reconhecimento que o chefe de Estado ganhou a nível mundial, tornando-se o principal símbolo da resistência ucraniana e essencial nas negociações com o Ocidente, aumentou ainda mais o perigo, com os nacionalistas russos a colocar um alvo nas suas costas.

Mikhail Podolyak, um conselheiro de Zelenskyy, afirma que houve pelo menos 12 tentativas de assassinato nas primeiras semanas após o início da guerra em Fevereiro de 2022, com mercenários da Chechénia ou do grupo Wagner a tentarem infiltrar as forças de segurança pessoais do Presidente ucraniano.

Com o passar do tempo, as tentativas acalmaram, mas os riscos não diminuíram. De acordo com o Secretário de Estado norte-americano, Antony Blinken, os ucranianos têm um plano desenhado já desde o ano passado para garantir um “governo de continuidade” caso Zelenskyy morra.

A Constituição já define a sucessão, determinando que o Presidente do Parlamento assuma o leme da nação quando o chefe de Estado não é capaz de cumprir os seus deveres.

Neste caso, seria Ruslan Stefanchuk, membro do partido de Zelenskyy, a assumir a presidência. Mas os ucranianos não são muito favoráveis a Stefanchuk, com as sondagens sobre a sua popularidade a rondar os 40%, menos de metade dos valores alcançados por Zelenskyy. Stefanchuk também não é muito popular com os partidos da oposição, escreve o Politico.

“Mas não acho que isso importe. Há uma forte equipa de liderança e acho que veríamos o Governo no colectivo”, explica Adrian Karatnycky, investigador no Centro Eurásia do Conelho Atlântico.

O conselho governante provavelmente teria Stefanchuk como a figura principal, juntamente com Andrii Yermak, o ex-produtor de cinema e advogado que chefia o gabinete do Presidente, o Ministro dos Negócios Estrangeiros Dmytro Kuleba e o Ministro da Defesa Oleksii Reznikov. Valery Zaluzhny permaneceria como o principal general do país.

Karatnycky afirma ainda que o apresentador televisivo Serhiy Prytula, que agora dirige grandes iniciativas de caridade e tem um índice de confiança altíssimo com a população, também deveria assumir um cargo oficial.

“O país atingiu um ponto de solidariedade e unidade nacional muito substancial, portanto, se algo terrível acontecesse a Zelenskyy, não seria tão decisivo quanto se pode imaginar”, afirma Karatnycky, que descreve a administração ucraniana como uma máquina “bem afiada”.

Mesmo sendo uma figura popular entre os ucranianos, Zelenskyy conta também com vários críticos internos, que atacam principalmente as suas falhas na preparação para uma guerra que já se adivinhava há vários meses antes do seu início.

As suas reacções bruscas às críticas e a recusa a colaborar com políticos da oposição também lhe rendem alguns pareceres menos favoráveis aos olhos dos ucranianos.

Há substituto à altura?

Apesar de ser uma figura mais controversa internamente, no plano externo, o carisma de Zelenskyy e o seu talento para a comunicação são essenciais para a manter acesa a narrativa mediática em torno da guerra.

A eliminação de um presidente que tem a capacidade de agarrar as audiências internacionais poderia assim ser um grande desafio para a Ucrânia, que pode ter dificuldades em encontrar um substituto à altura, especialmente dada a propensão das pessoas para a fadiga mediática, que pode levar a que o conflito ucraniano passar para o segundo plano na agenda política.

Mesmo assim, Mykola Knyazhytsky, um político da oposição, acredita que a Ucrânia estaria à altura do desafio. “É importante lembrar que os factores chave na luta da Ucrânia contra a agressão russa são a resiliência das forças armadas, as capacidades dos seus comandos e vitórias nas frentes. Isto é o mais importante para a estabilidade política da Ucrânia”, refere.

Adriana Peixoto, ZAP //

3 Comments

  1. Bem ……..de qualquer forma ainda bem que temos o Figueiredo para nos fazer Rir . Quanto ao artigo , se isso vier a acontecer a sua sucessão está definida na Constituição da Ucrânia ! .

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