A IGAI apontou-o como responsável pelo acidente com um helicóptero que feriu cinco militares em Mourão, em agosto de 2018, mas o piloto continua em funções.
Segundo avança o Observador, o piloto apontado como responsável pelo acidente que deixou feridos cinco militares da GNR, no incêndio de Mourão, em Évora, continua a transportar elementos do GIPS para os incêndios.
Na altura, a IGAI encontrou várias falhas na forma como deixou os militares numa zona de perigo e o caso foi encaminhado para o Ministério Público. Contudo, o piloto continua a prestar serviço no Centro de Meios Aéreos (CMA) de Portalegre.
Várias fontes da GNR que conversaram com o Observador falam em indignação e garantem que alguns militares estão desconfortáveis com esta situação, porque receiam vir a ser transportados por este piloto. “Há um desconforto psicológico dos elementos que estão sediados no CMA de Portalegre”, afirmou o coordenador regional da zona sul da Associação Profissional da Guarda, António Barreira.
Alguns militares estão também indignados por saberem que, mesmo ainda estando em curso uma investigação, o piloto continua em funções. Barreira adianta que a APG desconhece em que fase está o inquérito, mas frisa “que o próprio MAI, através da IGAI, mostrou uma indicação em que a culpa do acidente derivou da ação do piloto”.
“Por menos, temos visto militares da Guarda a ficarem suspensos. Não sendo [o piloto] um elemento militar da Guarda, não compreendemos como é que, não tendo terminado o inquérito, este elemento continua em serviço, no mesmo tipo de funções, em conjunto com elementos do GIPS”, disse ao diário.
O caso remonta a agosto do ano passado, quando cinco militares do GIPS foram transportados de helicóptero para um incêndio que deflagrou em Mourão, no distrito de Évora. Depois de desembarcarem, os elementos foram apanhados pelas chamas devido a uma alteração do vento. Três dos militares ficaram em estado grave e os outros dois sofreram ferimentos leves.
A TSF divulgou, em fevereiro, o inquérito do IGAI, que apontava falhas ao piloto: o comandante deveria ter alertado os militares para o perigo das chamas e nada fez para que a equipa embarcasse em segurança.
“Enquanto responsável máximo pelo local de desembarque e embarque da equipa helitransportada, perante a alteração do vento e sentido do fogo, não alertou a equipa para o perigo e não a fez embarcar novamente na aeronave para sair do local em segurança”, disse o ministro da Administração Interna, num despacho a que a Lusa teve acesso.
As conclusões do IGAI foram encaminhadas para o Ministério Público, que se encontra a investigar o caso, num inquérito que corre no DIAP de Évora. No entanto, o piloto não foi afastado, pelo que continua em funções. Atualmente, está ao serviço do Centro de Meios Aéreos (CMA) de Portalegre e, na passada sexta-feira, transportou um grupo de militares para um incêndio que deflagrou em Marvão.
Também ao Observador, e confrontado com as queixas dos militares, o piloto disse que “não considerava válidas estas observações”. “As pessoas têm o direito de se indignar, mas eu não vou alterar a minha vida, nem os meus hábitos, porque me sinto com a consciência tranquila”, explicou.
Aquando do acidente, o piloto trabalhava para a Heliportugal, contratada pelo Estado, em regime de prestação de serviços. Isto permite que também trabalhe para a Helibravo, a outra empresa que ganhou o concurso público de aluguer de helicópteros.
Como se tratam de empresas privadas, a Força Aérea e o Ministério da Administração Interna entendem que não lhes cabe decidir sobre a contratação dos seus colaboradores. Da mesma forma, o inquérito da IGAI não poderia determinar que o piloto, sendo um trabalhador privado, fosse afastado.
Por sua vez, a ANAC confirma que o piloto tem a licença e os exames médicos em dia e qualificação para operar aquela aeronave e, por isso, não há razões para suspender a sua atividade, apoiando-se no principio da “presunção da inocência”.
Dos cinco militares feridos em Mourão, três ainda se encontram impossibilitados de trabalhar.