Em tempos, a escultura Pillar of Shame, plantada na Universidade de Hong Kong, foi um testemunho das liberdades da cidade. Agora, está a ser removida.
Exposta há mais de 20 anos na Universidade de Hong Kong, a escultura Pillar of Shame, um monumento em homenagem às vítimas do massacre de Tiananmen, vai ser removida do local. Durante a última semana, os habitantes da cidade têm visitado a universidade para se despedirem do monumento mais proeminente em solo chinês.
Foram muitos os que contemplaram durante vários minutos os 50 rostos distorcidos retratados na escultura, que representam o número desconhecido de civis mortos por defenderem a China democrática, há mais de três décadas.
“Não me sinto triste por causa do 4 de junho”, disse um recém-licenciado, de 21 anos, à Vice, numa referência à data da repressão militar, em 1989. “Estou a sentir-me triste porque já não temos espaço para expressar as nossas opiniões. Isto é um símbolo do que está a acontecer em Hong Kong.” O jovem preferiu manter o anonimato por medo de represálias das autoridades.
A história do movimento pró-democracia de 1989 é um assunto tabu na China, menos em Hong Kong, a casa de um monumento imponente, com cerca de oito metros de altura, que recorda aos estudantes, professores, visitantes locais e turistas chineses um passado que o Partido Comunista chinês está a tentar apagar da memória das pessoas.
A Universidade de Hong Kong enviou uma carta aos membros da Hong Kong Alliance in Support of Patriotic Democratic Movements of China, um grupo que foi dissolvido no último mês de setembro, a exigir a remoção da escultura, sem avançar qualquer motivo.
O criador da obra, o artista dinamarquês Jens Galschiøt, disse à Vice que contratou um advogado para ajudar a garantir que a escultura é mantida intacta e enviada para fora de Hong Kong em segurança.
O monumento foi erguido em 1997 para assinalar o 8.º aniversário da repressão de Tiananmen, quando as tropas governamentais entraram no centro de Pequim e mataram centenas de manifestantes e outros civis. Um ano depois do massacre, os estudantes realizaram uma sondagem para que a estátua fosse colocada permanentemente na Universidade de Hong Kong.
Em 2008, ativistas pintaram a escultura de cor de laranja para protestar contra as violações dos direitos humanos na China, antes dos Jogos Olímpicos de Pequim.
O monumento e a sua presença dentro de uma universidade de elite financiada pelo Governo chinês provavam que a dissidência política podia coexistir com o estabelecimento no centro financeiro asiático, ao contrário do que se verificava na China Continental.
Aliás, à medida que a liderança chinesa foi alargando a sua influência sobre Hong Kong, após a transferência de soberania em 1997, as universidades continuaram a proporcionar um espaço livre de discussão política.
Agora, numa altura em que as autoridades tentam eliminar o que encaram como ameaças à segurança nacional da China, os campus estão a sofrer profundas mudanças – e a remoção do Pillar of Shame é um exemplo.