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Piccini sobre Alcochete: “Eles queriam o William, o Patrício, o Battaglia e o Acuña”

Mário Cruz / Lusa

Academia de Alcochete

O futebolista italiano Cristiano Piccini considerou hoje em tribunal que os invasores da academia do Sporting tinham alvos específicos e admitiu ter estranhado a calma do presidente Bruno de Carvalho numa reunião, na véspera, com os jogadores.

“Eles queriam o William Carvalho, o Rui Patrício, o Battaglia e o Acuña”, disse Piccini, na 23.ª sessão do julgamento da invasão da academia, acrescentando: “Por mais do que uma vez, estive cara a cara com um dos mascarados e ele não me fez nada”.

Piccini, que agora alinha nos espanhóis do Valência, referiu que as pessoas que entraram “mascaradas e com bengalas” no balneário “não tinham qualquer intenção de falar, e começaram logo a insultar e a bater”.

O defesa confirmou uma reunião do plantel com o então presidente Bruno de Carvalho, um dia depois da derrota com o Marítimo (2-1), na qual Bruno de Carvalho “estava muito tranquilo”.

“A reunião com o presidente centrou-se muito no que se tinha passado na Madeira [insultos aos jogadores e troca de palavras entre jogadores e adeptos]. Achei que o presidente estava muito tranquilo, sobretudo tendo em conta outros comportamentos anteriores”, afirmou o jogador, ouvido por videoconferência, no tribunal de Monsanto.

Battaglia explicou que o treinador Jorge Jesus “deu folga nos dias 14 e 15 de maio, mas que, depois, disse que não haveria folga a 15”, admitindo que “não era habitual ter dois dias de folga”.

No entanto, o italiano disse compreender a decisão inicial de dar dois dias de folga “tendo em conta a derrota na Madeira [que afastou o Sporting do segundo lugar da Liga e da Liga dos Campeões], que afetou muito os jogadores”.

Piccini, que deixou o Sporting no final de época 2017/2018, acrescentou ter-se “sentido muito inseguro”, não só por ele, mas também pela família, e admitiu que “estava ansioso para que a época terminasse para ir de férias”.

Durante a manhã, o coletivo, presidido pela juíza Sílvia Pires, ouviu também o enfermeiro Carlos Mota, funcionário do clube entre 2011 e 2018, que suturou o jogador holandês Bas Dost, atingido na cabeça durante a invasão, ocorrida em 15 de maio de 2018.

Carlos Mota, que se constituiu assistente no processo, referiu que “nos dias seguintes ao ataque, Bas Dost estava muito revoltado com a situação, com medo de que as agressões se pudessem repetir, inclusive tinha segurança privada à porta, paga por ele”.

Já no exterior do tribunal, Carlos Mota disse ter falado com o presidente Bruno de Carvalho, quando este chegou à academia, horas depois do ataque.

“Ele estava com o semblante triste, naturalmente, e eu disse-lhe que era uma vergonha aquilo que tinha acontecido e ele ficou muito zangado comigo e disse: ‘Também tu, Mota, achas que fui eu que encomendei isto?’ Ao que eu lhe respondi: ‘Eu não acho nada, só acho que isto é uma vergonha para o Sporting’”.

Carlos Mota disse recordar o dia do ataque com “muita tristeza” e explicou porquê: “Porque sou sportinguista desde de que nasci, os meus filhos e netos são sportinguistas, e é muito triste que alguém se tenha aproveitado, ou se aproveite, destas situações para denegrir e continuar a dar cabo do Sporting”.

Quando questionado sobre quem se teria aproveitado da situação, o enfermeiro descartou a hipótese de essa figura ser Bruno de Carvalho, o antigo presidente, também arguido no processo.

“Não, Bruno de Carvalho não tinha nada que se aproveitar, ele era presidente na altura, bem ou mal, era o presidente. Quem poderia ganhar, foi quem ganhou”, frisou.

O processo, que está a ser julgado no Tribunal de Monsanto, em Lisboa, tem 44 arguidos, acusados da coautoria de 40 crimes de ameaça agravada, de 19 crimes de ofensa à integridade física qualificada e de 38 crimes de sequestro, todos estes (97 crimes) classificados como terrorismo.

// Lusa

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