Pedro Nuno Santos promete “nunca arrastar os pés”. Os obstáculos na estrada que o espera

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Miguel A. Lopes

Pedro Nuno Santos, novo líder do PS

Desde a sombra de António Costa à ascensão do Chega, há vários desafios que esperam Pedro Nuno Santos na liderança do PS.

Depois de anos de especulação, este sábado chegou a confirmação: Pedro Nuno Santos vai mesmo suceder a António Costa na liderança do PS. A três meses das eleições legislativas, o novo secretário-geral socialista tem muitos desafios pela frente na missão de voltar a formar Governo.

Segundo o consultor de comunicação Luís Paixão Martins, “o primeiro grande problema do novo líder do Partido Socialista é atrair eleitores“. Não é este sempre o principal desafio de todos os líderes partidários? “Não sei se alguma vez, no passado recente, houve tanta indiferença perante a política como está a acontecer agora”, refere ao Diário de Notícias.

O consultor aponta dados como as audiências dos programas televisivos de analise política ou a recusa de muitos portugueses a participar em sondagens como exemplos deste desligamento dos cidadãos.

“Há um grande desfasamento dos cidadãos relativamente à vida política e, portanto, o primeiro problema do líder socialista é contactar a base eleitoral do partido. Porque ela não está lá”, defende.

Caso consiga ultrapassar este obstáculo e garante a vitória dos socialistas, há outro desafio à espera de Pedro Nuno Santos — voltar a afinar as capacidades de negociação do PS, após um ano de maioria absoluta que as deixou enferrujadas.

Apesar de já haver sondagens a prever uma vitória do PS, a vitória esmagadora conquistada no ano passado não se deve repetir e pode ser precisa uma reedição da geringonça. Com o seu arquitecto ao leme dos socialistas e novas lideranças no Bloco de Esquerda e no PCP, sarar as feridas do divórcio litigioso do passado não deve ser muito difícil.

No entanto, o factor extrema-direita pode complicar estas contas. Até agora, as sondagens antecipam uma grande subida do Bloco de Esquerda, mas o Chega também promete ter um bom resultado, havendo um grande risco de ser a direita conseguir uma maioria parlamentar e impossibilitar a geringonça 2.0.

Estará Pedro Nuno Santos — com a sua fama de “radical” de esquerda — disposto a fazer um acordo com o PSD para travar a chegada do Chega ao Governo?

“Temos aqui, no fundo, três grandes forças políticas ou três grandes partidos: o PS, o PSD e o Chega. A verdade é essa. Em matéria de, depois, conseguirem os necessários acordos para a continuação de uma legislatura, creio que estes partidos vão ter de se entender”, antecipa Paula do Espírito Santo, professora de Ciência Política do Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas.

Seja qual for o resultado das eleições, uma coisa parece certa: Pedro Nuno Santos “vai ter de se disponibilizar para encontrar soluções de negociação político-partidária e também governativa”.

A sombra de Costa e a união interna

Sarar possíveis feridas internas causadas pela disputa contra José Luís Carneiro também é uma das prioridades. No entanto, os socialistas parecem não ser tão atormentados com constantes lutas internas, como é o caso do PSD.

Carneiro foi parco nas palavras sobre o seu futuro, mas deixou um aviso contra qualquer purga dos seus apoiantes. “A nossa candidatura foi mais do que a secretário-geral, foi um amplo movimento de proposta política e defesa do PS como pilar essencial do nosso sistema democrático”, frisou, realçando que este movimento provou ser um “factor essencial de diálogo com a sociedade portuguesa” e que merece ser “integrado” no PS.

Este pedido não parece ser um problema para Pedro Nuno Santos, que agradeceu a sua contribuição para o “para o debate interno” e afirmou que “obviamente” conta com Carneiro para a campanha.

Luís Paixão Martins realça a “vantagem histórica da robustez face ao PSD“. Enquanto o PS teve António Costa à sua frente, os sociais-democratas tiveram Pedro Passos Coelho, Rui Rio e Luís Montenegro como presidentes, havendo ainda uma candidatura de Paulo Rangel pelo meio. Mesmo agora, há constantes boatos sobre o futuro político de Carlos Moedas.

No entanto, esta dependência de António Costa pode ser um pau de dois bicos, com Pedro Nuno Santos a arriscar ficar em segundo plano dentro do seu próprio partido. “O Partido Socialista hoje em dia está muito marcado pela personalidade de António Costa”, explica o consultor, que recomenda uma abordagem equilibrada.

“Terá de aproveitar a marca deixada por António Costa e eliminar atributos de António Costa, para criar atributos do novo líder. Estamos a 3 meses das eleições. Acho que nos próximos 3 meses não há mais nenhum outro trabalho a fazer pelo líder do PS senão este”, remata.

Pedro Nuno, o “fazedor”

Uma das principais críticas apontadas aos oito anos de costismo é a falta da veia reformista do Governo. No seu discurso de vitória, Pedro Nuno Santos ficou-se por referências mais vagas aos problemas do país e foi notável a ausência de propostas concretas para responder a algumas das situações mais preementes em Portugal, como a crise na habitação, a falta de médicos ou as greves dos professores.

No entanto, o novo líder socialista já nos deixou uma amostra daquela que pode ser uma das suas principais apostas na campanha — a sua reputação de “fazedor”. À chegada ao Largo do Rato, Pedro Nuno Santos já prometia “nunca arrastar os pés, decidir, avançar. É o que nós precisamos em Portugal”.

Enquanto Ministro das Infraestruturas e da Habitação, Pedro Nuno Santos esteve à cabeça de alguns dos projectos reformistas mais ambiciosos do Governo de Costa, como o Plano Ferroviário Nacional e novo aeroporto de Lisboa.

Sobre este polémico aeroporto, o ex-Ministro tem sido peremptório, afirmando que “é preciso decidir” e considerando “inaceitável” estarmos há “cinco décadas” à espera.

Foi neste tom que ontem atirou umas farpas a Luís Montenegro, que quer fazer um grupo de trabalho para avaliar o relatório da comissão técnica para o novo aeroporto. “Nós não inventamos grupos de trabalho em cima de comissões, nós decidimos”, prometeu.

O novo líder socialista tem agora três meses para convencer os portugueses que é o homem certo para reformar o país à séria.

A economista Susana Peralta lembra que o PS “tem uma responsabilidade acrescida” no domínio “do problema dos serviços públicos“, dado ser um partido de esquerda.

“Portanto, há uma série de desafios do século XXI, que têm a ver com a transição energética e com a economia do conhecimento, na qual Portugal está claramente impreparado. Acho que isso devia ser da matriz ideológica de um partido de centro-esquerda, ou de esquerda, como queiramos classificá-lo: ter uma agenda para esses grandes desafios”, explica a economista.

Adriana Peixoto, ZAP //

1 Comment

  1. Arrastar os pés é aquilo que ele melhor saber fazer! Desde a sua derrota à Câmara da sua terra, a passagem infeliz pela empresa do pai, a amnésia dos 500.000 e o puxão de orelhas de Costa que o obrigou a rasgar a Portaria dos dois aeroportos e à fuga do governo, são apenas alguns dos episódios burlescos do seu arrastar de pés.

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